Por Ellen White
O Desejado de Todas as Nações
Este capítulo é baseado em Mateus 19: 13 -15; Marcos 10: 13 – 16; Lucas 18: 15- 17
Jesus sempre gostou de crianças. Aceitava-lhes a infantil simpatia, e seu amor franco, sem afetação. O grato louvor de seus lábios puros era qual música aos Seus ouvidos, e refrigerava-Lhe o espírito quando opresso pelo contato com homens astutos e hipócritas. Aonde quer que fosse o Salvador, a benevolência de Seu semblante, Sua maneira suave e bondosa conquistavam a confiança dos pequeninos.
Era costume entre os judeus levar as crianças a qualquer rabino, para que lhes impusesse as mãos, abençoando-as; mas os discípulos do Salvador julgavam Sua obra demasiado importante para ser assim interrompida. Quando as mães foram ter com Jesus, levando as criancinhas, olharam-nas eles com desagrado. Julgaram essas crianças demasiado pequenas para tirar proveito de sua visita a Jesus, e concluíram que Ele Se desgostaria com sua presença. Foi com eles, entretanto, que Jesus ficou descontente. Compreendia o cuidado e a preocupação das mães que estavam buscando educar os filhos segundo a Palavra de Deus. Ouvira-lhes as orações. Ele próprio as atraíra a Sua presença.
Uma mãe, com o filhinho, deixara a casa para ir em busca de Jesus. De caminho, comunicou a uma vizinha o seu desígnio, e esta quis que Jesus lhe abençoasse os filhos. Assim várias mães se reuniram, levando seus pequeninos. Alguns já haviam passado a primeira infância, entrando para a meninice ou para a adolescência. Ao darem as mães a conhecer seu desejo, Jesus ouviu com simpatia o tímido, lacrimoso pedido. Mas esperou para ver como os discípulos as tratariam. Ao vê-los mandar embora as mães, julgando aprazer-Lhe, mostrou-lhes o erro em que estavam, dizendo: “Deixai vir a Mim os pequeninos e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus”. Lucas 18:16. Tomou nos braços as crianças, pôs-lhes as mãos sobre a cabeça, e deu-lhes as bênçãos em busca das quais tinham vindo.
As mães ficaram confortadas. Voltaram para casa fortalecidas e felizes pelas palavras de Cristo. Foram animadas a tomar seus encargos com nova satisfação, e a trabalhar esperançosas por seus filhos. As mães de hoje devem receber-Lhe as palavras com a mesma fé. Cristo é agora tão verdadeiramente um Salvador pessoal, como quando vivia como homem entre os homens. É tão realmente o ajudador das mães em nossos tempos, como quando tomava os pequeninos nos braços, na Judéia. Os filhos de nossos lares são tanto o preço de Seu sangue, quanto as crianças de outrora.
Jesus conhece as preocupações íntimas de cada mãe. Aquele cuja mãe lutou com a pobreza e a privação, simpatiza com toda mãe em seus labores. Aquele que empreendeu uma longa viagem para aliviar o ansioso coração de uma cananéia, fará outro tanto pelas mães hoje em dia. Aquele que devolveu à viúva de Naim seu unigênito, e que, em agonia na cruz Se lembrou de Sua própria mãe, comove-Se ainda hoje pela dor materna. Em todo pesar e em toda necessidade, dará conforto e auxílio.
Vão as mães ter com Jesus, apresentando-Lhe suas perplexidades. Encontrarão suficiente graça para as ajudar na educação dos filhos. As portas acham-se abertas a toda mãe que desejar depor seus fardos aos pés do Salvador. Aquele que disse: “Deixai vir a Mim os pequeninos e não os impeçais”, convida ainda as mães a conduzirem os pequeninos para serem por Ele abençoados. Mesmo o nenê nos braços maternos pode permanecer como sob a sombra do Onipotente, mediante a fé de uma mãe que ora. João Batista foi cheio do Espírito Santo desde seu nascimento. Se vivemos em comunhão com Deus, também nós podemos esperar que o Espírito divino molde nossos pequenos já desde os primeiros momentos.
Nos meninos que foram postos em contato com Ele, viu Jesus os homens e mulheres que haviam de ser herdeiros de Sua graça e súditos do Seu reino, e alguns dos quais se tornariam mártires por amor dEle. Sabia que essas crianças haviam de ouvi-Lo e aceitá-Lo como seu Redentor muito mais facilmente do que o fariam os adultos, muitos dos quais eram os sábios segundo o mundo e os endurecidos. Em Seus ensinos, descia ao nível delas. Ele, a Majestade do Céu, não desdenhava responder-lhes às perguntas e simplificar Suas importantes lições, para lhes atingir a infantil compreensão. Implantava no espírito delas as sementes da verdade, que haveriam de brotar nos anos vindouros, dando frutos para a vida eterna.
É ainda verdade que as crianças são as pessoas mais susceptíveis aos ensinos do evangelho; seu coração acha-se aberto às influências divinas, e forte para reter as lições recebidas. Os pequeninos podem ser cristãos, tendo uma experiência em harmonia com seus anos. Precisam ser educados nas coisas espirituais, e os pais devem proporcionar-lhes todas as vantagens, para que formem caráter segundo a semelhança do de Cristo.
Os pais e as mães devem considerar os filhos como os membros mais novos da família do Senhor, a eles confiados para que os eduquem para o Céu. As lições que nós mesmos aprendemos de Cristo, devemos transmitir a nossas crianças, de maneira a poderem ser compreendidas pelas tenras mentes infantis, revelando-lhes pouco a pouco a beleza dos princípios do Céu. Assim o lar cristão se torna uma escola, em que os pais servem de mestres auxiliares, ao passo que o próprio Cristo é o principal instrutor.
Trabalhando em favor da conversão de nossos filhos, não devemos buscar violentas emoções como testemunho de convicção do pecado. Nem é necessário saber o tempo exato em que se convertem. Devemos ensiná-los a levar seus pecados a Jesus, pedindo-Lhe perdão e crendo que Ele perdoa e os recebe, assim como recebeu as crianças quando Se achava pessoalmente na Terra.
Quando a mãe ensina os filhos a lhe obedecerem porque a amam, está ensinando as primeiras lições na vida cristã. O amor da mãe representa para a criança o amor de Cristo, e os pequenos que confiam em sua mãe e lhe obedecem, estão aprendendo a confiar no Salvador e obedecer-Lhe.
Jesus era o modelo das crianças, e também o exemplo dos pais. Falava como quem tem autoridade, e Sua palavra tinha poder; todavia, em todo o Seu trato com homens rudes e violentos, nunca empregou uma expressão desagradável ou descortês. A graça de Cristo no coração comunicará uma dignidade de origem celestial, o senso do que é próprio. Suavizará toda aspereza e subjugará tudo quanto é rude e destituído de bondade. Levará os pais a tratarem os filhos como a seres inteligentes, como eles próprios queriam ser tratados.
Pais, na educação de vossos filhos, estudai cuidadosamente as lições dadas por Deus na natureza. Se quisésseis ajeitar um cravo, uma rosa ou lírio, de que maneira o havíeis de fazer? Perguntai ao jardineiro por que processo ele faz com que cada ramo e folha floresça tão belamente, e se desenvolva em simetria e beleza. Dir-vos-á que não foi absolutamente por um trato rude, nenhum esforço violento, pois isso não faria senão partir as delicadas hastes. Foi mediante pequeninas atenções, frequentemente repetidas. Umedecia o solo e protegia as plantas em desenvolvimento, dos ventos fortes e do sol escaldante, e Deus as fez crescer e florescer, com delicada beleza. Segui, no trato com vossos filhos, os métodos do jardineiro. Por meio de toques suaves, de serviço amorável, procurai amoldar-lhes o caráter segundo o modelo de Cristo.
Animai a expressão de amor para com Deus e uns com os outros. A causa de haver tantos homens e mulheres endurecidos no mundo, é que a verdadeira afeição tem sido considerada fraqueza, sendo cerceada e reprimida. A parte melhor da natureza dessas pessoas foi sufocada na infância; e a menos que a luz do divino amor lhes abrande o frio egoísmo, para sempre arruinada estará sua felicidade. Se queremos que nossos filhos possuam o suave espírito de Jesus, e a simpatia que os anjos por nós manifestam, devemos incentivar os generosos e amoráveis impulsos da infância.
Ensinai as crianças a ver Cristo na natureza. Levai-as ao ar livre, à sombra das nobres árvores do quintal; e em todas as maravilhosas obras da criação ensinai-as a ver uma expressão de Seu amor. Ensinai-lhes que Ele fez as leis que regem todas as coisas vivas, que fez leis também para nós, e que elas visam a nossa felicidade e alegria. Não as fatigueis com longas orações e exortações tediosas, mas mediante as lições objetivas da natureza, ensinai-lhes a obediência à lei de Deus.
Ao lhes conquistardes a confiança em vós como seguidores de Cristo, fácil vos será fazê-las aprender as lições quanto ao grande amor com que Ele nos amou. Ao procurardes tornar claras as verdades concernentes à salvação, e encaminhar as crianças a Cristo como Salvador pessoal, os anjos estarão ao vosso lado. O Senhor dará aos pais e às mães graça para interessar os pequeninos na preciosa história do Infante de Belém, que é na verdade a esperança do mundo.
Quando Jesus disse aos discípulos que não impedissem as crianças de ir ter com Ele, falava a todos os Seus seguidores em todos os tempos — aos oficiais da igreja, aos ministros, auxiliares e todos os cristãos. Jesus está atraindo as crianças, e ordena-nos: “Deixai vir a Mim os pequeninos” (Lucas 18:16), como se quisesse dizer: Eles virão, se os não impedirdes.
Não deixeis que vosso caráter não cristão represente mal a Jesus. Não conserveis os pequeninos longe dEle pela vossa frieza e aspereza. Nunca lhes deis motivos de pensar que o Céu não será um lugar aprazível para eles, se ali estiverdes. Não faleis de religião como qualquer coisa que as crianças não podem compreender, nem procedais como se não se esperasse que elas aceitem a Cristo em sua meninice. Não lhes deis a falsa impressão de que a religião de Cristo é de tristeza e que, ao se achegarem ao Salvador, devem abandonar tudo quanto torna a vida aprazível.
Ao operar o Espírito Santo no coração dos pequenos, apoiemos-Lhe a obra. Ensinai-lhes que o Salvador os está chamando, que coisa alguma Lhe poderá dar mais prazer do que se Lhe entregarem eles no desabrochar e no vigor da vida.
O Salvador contempla com infinita ternura as almas que comprou com Seu próprio sangue. São a reivindicação de Seu amor. Olha-as com inexprimível anelo. Seu coração estende-se, não somente para as crianças bem-comportadas, mas para as que têm, por herança, traços objetáveis de caráter. Muitos pais não compreendem quanto são responsáveis por esses traços em seus filhos. Não possuem a ternura e a sabedoria necessárias para tratar com os errantes a quem fizeram o que são. Mas Jesus olha essas crianças com piedade. Ele segue da causa para o efeito.
O obreiro cristão pode ser o instrumento de Cristo em atrair essas crianças para o Salvador. Com sabedoria e tato pode ligá-las ao próprio coração, dar-lhes ânimo e esperança, e por meio da graça de Cristo transformar-lhes o caráter, de sorte que delas se possa dizer: “Dos tais é o reino de Deus.”