Os Primeiros Evangelistas – Capítulo 37

Por Ellen White
O Desejado de Todas as Nações
Este capítulo é baseado em Isaías 58:8; Marcos 13:13; Lucas 4: 18 – 19, 32; Lucas 10: 3, 5; Atos 4:13; 6: 15; 10; Romanos 14:19; Efésios 6:12; 2 Timóteo 4: 16 – 17
Os apóstolos eram membros da família de Jesus, e haviam-nO acompanhado em Suas jornadas a pé através da Galileia. Tinham compartilhado de Suas labutas e fadigas. Haviam-Lhe escutado os discursos, andado e conversado com o Filho de Deus, e de Suas instruções diárias tinham aprendido a trabalhar pela elevação da humanidade. Ao atender Jesus às vastas multidões que se Lhe aglomeravam em torno, os discípulos O assistiam, ansiosos de Lhe obedecer às ordens e aliviar-Lhe o trabalho. Ajudavam a pôr em ordem o povo, a levar os enfermos ao Salvador, e a promover o conforto de todos. Observavam os ouvintes interessados, explicavam-lhes as Escrituras, e trabalhavam por várias maneiras para seu benefício espiritual. Ensinavam o que tinham aprendido de Jesus, e obtinham dia a dia rica experiência. Necessitavam, porém, adquiri-la também no trabalho sozinhos. Careciam ainda de muita instrução, grande paciência e ternura. Agora, enquanto Se achava em pessoa com eles, para indicar-lhes os erros e aconselhá-los e corrigi-los, enviou-os o Salvador como Seus representantes.
Enquanto tinham estado com Ele, muitas vezes ficaram os discípulos desconcertados pelos ensinos dos sacerdotes e fariseus, mas tinham levado suas perplexidades a Jesus. Este lhes expusera as verdades escriturísticas em contraste com a tradição. Assim lhes havia fortalecido a confiança na palavra de Deus, libertando-os também em grande parte do temor dos rabis, e de sua escravidão à tradição. No preparo dos discípulos, o exemplo do Salvador fora muito mais eficaz que só por si qualquer doutrina. Ao serem separados dEle, todo olhar e palavra e entonação lhes acudia à memória. Muitas vezes, quando em conflito com os inimigos do evangelho, repetiam-Lhe as palavras e, ao verem o efeito produzido sobre o povo, muito se regozijavam.
Chamando os doze para junto de Si, Jesus ordenou-lhes que fossem dois a dois pelas cidades e aldeias. Nenhum foi mandado sozinho, mas irmão em companhia de irmão, amigo ao lado de amigo. Assim se poderiam auxiliar e animar mutuamente, aconselhando-se entre si, e orando um com o outro, a força de um suprindo a fraqueza do outro. Da mesma maneira enviou Ele posteriormente os setenta. Era o desígnio do Salvador que os mensageiros do evangelho assim se associassem. Teria muito mais êxito a obra evangélica em nossos dias, fosse esse exemplo mais estritamente seguido.

A mensagem dos discípulos era a mesma de João Batista e do próprio Cristo: “É chegado o reino de Deus.” Não deviam entrar com o povo em discussão quanto a ser ou não ser Jesus de Nazaré o Messias; mas deviam fazer, em Seu nome, as mesmas obras de misericórdia que Ele realizara. Ele lhes ordenou: “curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios: de graça recebestes, de graça dai.”
Durante Seu ministério, Jesus empregou mais tempo em curar os doentes, do que em pregar. Seus milagres testificavam a veracidade de Suas palavras, de que não viera destruir, mas salvar. Sua justiça ia adiante dEle, e a glória do Senhor servia-Lhe de retaguarda. Aonde quer que fosse, precedia-O a fama de Sua misericórdia. Por onde havia passado, regozijavam-se na saúde os que tinham sido objeto de Sua compaixão, e experimentavam as forças recém-adquiridas. Multidões se lhes apinhavam em torno para ouvir de seus lábios as obras que o Senhor realizara. Sua voz foi o primeiro som que muitos ouviram, Seu nome a primeira palavra que proferiram, Seu rosto o primeiro que contemplaram. Por que não amariam a Jesus, proclamando-Lhe o louvor? Ao passar Ele pelas cidades e aldeias, era como uma corrente vital, difundindo vida e alegria por onde quer que fosse.
Os seguidores de Cristo devem trabalhar como Ele o fez. Cumpre-nos alimentar os famintos, vestir os nus e confortar os doentes e aflitos. Devemos ajudar aos que estão em desespero, e inspirar esperança aos desanimados. E a nós também se cumprirá a promessa: “A tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda”. Isaías 58:8. O amor de Cristo, manifestado em abnegado serviço pelos outros, será mais eficaz em reformar os malfeitores, do que a espada ou os tribunais de justiça. Estes são necessários para incutir terror aos transgressores, mas o amorável missionário pode fazer mais do que isto. Muitas vezes o coração se endurece sob a repreensão; mas se abrandará sob a influência do amor de Cristo. O missionário não somente pode aliviar os incômodos físicos, mas conduzir o pecador ao grande Médico, o qual é capaz de purificar a alma da lepra do pecado. É desígnio de Deus que, mediante Seus servos, os doentes, os desafortunados, os possuídos de espíritos maus, Lhe ouçam a voz. Deseja, mediante Seus instrumentos humanos, ser um Confortador tal como o mundo não conhece.
Em sua primeira viagem missionária, os discípulos deviam ir apenas às “ovelhas perdidas da casa de Israel”. Houvessem pregado então o evangelho aos gentios ou aos samaritanos, e teriam perdido a influência para com os judeus. Despertando os preconceitos dos fariseus, ter-se-iam envolvido em conflitos que os haveriam desanimado no princípio de seus labores. Mesmo os apóstolos eram tardios em compreender que o evangelho devia ser levado a todas as nações. Enquanto eles próprios não fossem capazes de apreender esta verdade, não se achavam preparados para trabalhar pelos gentios. Se os judeus recebessem o evangelho, Deus intentava fazê-los Seus mensageiros aos gentios. Eram, portanto, eles os que primeiro deviam ouvir a mensagem salvadora.
Por todo o campo de trabalho de Cristo havia almas despertas para as próprias necessidades, famintas e sequiosas da verdade. Chegara o tempo de enviar as boas-novas de Seu amor a esses anelantes corações. A todos esses deviam os discípulos ir como representantes Seus. Os crentes seriam assim levados a considerá-los mestres divinamente designados, e quando o Salvador lhes fosse tirado, não seriam deixados sem instrutores.
Nessa primeira viagem, os discípulos só deviam ir aos lugares em que Jesus já estivera antes, e onde fizera amigos. Seus preparativos de viagem deviam ser os mais simples. Não deviam permitir que coisa alguma lhes distraísse o espírito de sua grande obra, nem de maneira nenhuma despertar oposição e fechar a porta a trabalho posterior. Não deviam adotar o vestuário dos mestres religiosos, nem usar no traje coisa alguma que os houvesse de distinguir dos humildes camponeses. Não lhes convinha entrar nas sinagogas e convocar o povo para serviço público; seu esforço devia-se desenvolver no trabalho feito de casa em casa. Não deviam perder tempo em inúteis saudações, nem indo de casa em casa se hospedar. Mas convinha que aceitassem em todo o lugar a hospitalidade dos que eram dignos, os que os receberiam de coração, como hospedando ao próprio Cristo. Cumpria-lhes entrar na morada com a bela saudação: “Paz seja nesta casa”. Lucas 10:5. Essa casa seria abençoada por suas orações, seus hinos de louvor, e o estudo das Escrituras no círculo familiar.
Esses discípulos deviam ser arautos da verdade, para preparar o caminho ao Mestre. A mensagem que deviam levar, era a palavra da vida eterna, e o destino dos homens dependia da aceitação ou rejeição da mesma. Para impressionar o povo com sua solenidade, Jesus ordenou aos discípulos: “Se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.”
Então o olhar do Salvador penetra o futuro; contempla os mais vastos campos em que, depois de Sua morte, os discípulos têm de testificar dEle. Seu olhar profético abrange a experiência de Seus servos através de todos os séculos, até que Ele venha pela segunda vez. Mostra a Seus seguidores o conflito que hão de encontrar; revela o caráter e plano da batalha. Desenrola perante eles os perigos que terão de enfrentar, a abnegação que lhes será necessária. Deseja que calculem o custo, a fim de não serem tomados de surpresa pelo inimigo. Sua luta não tem de ser travada contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, “contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. Efésios 6:12. Têm de contender contra forças sobrenaturais, mas é-lhes assegurado sobrenatural auxílio. Todos os espíritos celestes se acham nesse exército. E mais que anjos estão nas fileiras. O Espírito Santo, o representante do Capitão do exército do Senhor, desce para dirigir a batalha. Muitas podem ser nossas fraquezas, pecados e erros graves; mas a graça de Deus é para todos quantos a buscam em contrição. O poder da Onipotência acha-se empenhado em favor dos que confiam em Deus.
“Eis”, disse Jesus, “que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas.” Cristo mesmo nunca suprimiu uma palavra da verdade, mas sempre a proferiu com amor. Exercia o máximo tato e cuidadosa, benévola atenção em Seu trato com o povo. Nunca foi rude, nunca proferiu desnecessariamente uma palavra severa, não ocasionou nunca sem motivo uma dor a uma alma sensível. Não censurava a fraqueza humana. Denunciava sem temor a hipocrisia, a incredulidade e a iniquidade, mas tinha lágrimas na voz quando emitia Suas esmagadoras repreensões. Chorou sobre Jerusalém, a cidade amada, que O recusava receber a Ele, o Caminho, a Verdade e a Vida. Rejeitaram-nO a Ele, o Salvador, mas olhava-os com piedosa ternura, e com tão profunda dor, que Lhe partiu o coração. Toda alma era preciosa aos Seus olhos. Conquanto Se portasse sempre com divina dignidade, inclinava-Se com a mais terna consideração para todo membro da família de Deus. Via em todos os homens almas caídas que era Sua missão salvar.
Os servos de Cristo não devem agir segundo os naturais ditames do coração. Precisam de íntima comunhão com Deus a fim de que, sob provocação, o próprio eu não sobressaia, e despejem uma torrente de palavras inconvenientes, palavras que não são como o orvalho ou como a chuva suave que refrigera as ressequidas plantas. É isto que Satanás quer que façam, pois são esses os seus métodos. É o dragão que está irado; é o espírito de Satanás que se revela em zanga e acusação. Mas aos servos de Deus cumpre ser Seus representantes. Ele quer que usem apenas a moeda corrente no Céu, a verdade que Lhe apresenta a imagem e inscrição. O poder com que têm de vencer o mal, é o poder de Cristo. A glória dEle, a sua força. Devem fixar os olhos em Sua beleza de caráter. Podem então apresentar o evangelho com divino tato e suavidade. E o espírito que se conserva manso em face da provocação, dirá mais em favor da verdade, do que o fará qualquer argumento, por mais vigoroso que seja.
Os que são lançados em conflito com os inimigos da verdade, têm de enfrentar, não somente homens, mas Satanás e seus instrumentos. Lembrem-se eles das palavras do Salvador. “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos”. Lucas 10:3. Descansem no amor de Deus, e o espírito permanecerá calmo, mesmo quando pessoalmente maltratados. O Senhor os revestirá de divina armadura. Seu santo Espírito há de influenciar a mente e o coração, de modo que a voz não se lhes assemelhe ao uivo dos lobos.
Continuando as instruções aos discípulos, Jesus disse: “Acautelai-vos, porém, dos homens.” Não deviam pôr implícita confiança naqueles que não conheciam a Deus, revelando-lhes seus desígnios; pois isso daria vantagem aos instrumentos de Satanás. As invenções humanas fazem muitas vezes malograr os planos de Deus. Os que constroem o templo do Senhor, devem fazê-lo em harmonia com o modelo mostrado no monte — a semelhança divina. Deus é desonrado e o evangelho traído, quando Seus servos confiam no conselho de homens que não se acham sob a direção do Espírito Santo. A sabedoria mundana é loucura diante de Deus. Os que nela se apoiarem, hão de com certeza errar.

“Eles vos entregarão aos Sinédrios, … e sereis até conduzidos à presença dos governadores e dos reis por causa de Mim, para lhes servir de testemunho a eles e aos gentios.” A perseguição difundirá a luz. Os servos de Cristo serão conduzidos perante os grandes do mundo, os quais, a não ser assim, talvez nunca ouvissem o evangelho. A verdade tem sido desfigurada diante desses homens. Têm ouvido falsas acusações a respeito da fé dos discípulos de Cristo. Muitas vezes, a única maneira em que podem chegar ao conhecimento de seu verdadeiro caráter, é o testemunho dos que são levados a julgamento por causa de sua fé. Sob interrogatório, é-lhes exigido responder, e seus juízes têm de escutar o testemunho apresentado. A graça de Deus será concedida a Seus servos, para que possam fazer face à emergência. “Naquela mesma hora”, disse Jesus, “vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós.” Ao iluminar o Espírito de Deus a mente de Seus servos, a verdade será apresentada em seu divino poder e preciosidade. Os que rejeitam a verdade se erguerão para acusar e oprimir os discípulos. Mas em presença de preconceito e sofrimento, e mesmo da morte, cumpre aos filhos do Senhor revelar a mansidão de seu divino Exemplo. Assim se verá o contraste entre os instrumentos de Satanás e os representantes de Cristo. O Salvador será erguido perante os governadores e o povo.
Os discípulos não foram revestidos da coragem e fortaleza dos mártires, senão quando essa graça se tornou necessária. Então se cumpriu a promessa do Salvador. Quando Pedro e João testificaram perante o conselho do Sinédrio, os homens “se maravilharam; e tinham conhecimento que eles haviam estado com Jesus”. Atos dos Apóstolos 4:13. Acerca de Estêvão, acha-se escrito que “todos os que estavam assentados no conselho, fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo”. Os homens “não podiam resistir à sabedoria, e ao espírito com que falava”. Atos dos Apóstolos 6:15, 10. E Paulo, escrevendo a respeito de seu próprio julgamento na corte dos Césares, diz: “Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. […] Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão”. 2 Timóteo 4:16, 17.
Os servos de Cristo não deviam preparar determinado discurso para apresentar, quando levados a juízo. Sua preparação devia ser feita dia a dia, entesourando as preciosas verdades da Palavra de Deus, e robustecendo a própria fé mediante a oração. Quando levados a julgamento, o Espírito Santo lhes traria à memória as próprias verdades que fossem necessárias.
Um diário e sincero esforço para conhecer a Deus, e Jesus Cristo, a quem Ele enviou, traria poder e eficiência à alma. O conhecimento obtido por meio de diligente exame das Escrituras, seria trazido, qual relâmpago, a iluminar a memória no momento oportuno. Mas se alguém houvesse negligenciado relacionar-se com as palavras de Cristo, se nunca houvesse experimentado o poder da graça na provação, não poderia esperar que o Espírito Santo lhe trouxesse à lembrança as Suas palavras. Deviam servir diariamente a Deus com não dividida afeição, e então confiar nEle.
Tão amarga era a inimizade contra o evangelho, que mesmo os mais ternos laços terrestres seriam desconsiderados. Os discípulos de Cristo seriam entregues à morte pelos membros da própria família. “E odiados de todos sereis por causa do Meu nome”, acrescentou Ele; “mas aquele que perseverar até ao fim será salvo”. Marcos 13:13. Advertiu-os, porém, a que não se expusessem desnecessariamente à perseguição. Ele próprio deixou muitas vezes um campo de labor em busca de outro, a fim de escapar dos que Lhe procuravam a vida. Quando rejeitado em Nazaré, e Seus próprios concidadãos tentavam matá-Lo, Ele desceu a Cafarnaum, e aí o povo se admirou de Seus ensinos; “porque a Sua palavra era com autoridade”. Lucas 4:32. Assim, Seus servos não se deveriam desanimar diante da perseguição, mas procurar um lugar onde pudessem trabalhar ainda pela salvação das pessoas.
O servo não é mais que seu senhor. O Príncipe do Céu foi chamado Belzebu, e Seus discípulos serão da mesma maneira apresentados sob um falso aspecto. Seja qual for o perigo, porém, os seguidores de Cristo devem confessar seus princípios. Devem desdenhar a dissimulação. Não podem permanecer sem se expor até se certificarem de estar a salvo ao confessar a verdade. São colocados como atalaias, para advertir os homens contra o perigo em que estão. A verdade recebida de Cristo deve ser comunicada franca e abertamente a todos. Jesus disse: “O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados.”
O próprio Jesus jamais comprou a paz mediante transigências. O coração transbordava-Lhe de amor por toda a raça humana, mas nunca era condescendente para com seus pecados. Era muito amigo deles para permanecer em silêncio, enquanto prosseguiam numa direção que seria a sua ruína — daqueles que Ele comprara com o próprio sangue. Trabalhava para que o homem fosse leal para consigo mesmo, leal para com seus mais altos e eternos interesses. Os servos de Cristo são chamados a realizar a mesma obra, e devem estar apercebidos para que, buscando evitar desarmonia, não transijam contra a verdade. Devem seguir “as coisas que servem para a paz” (Romanos 14:19); mas a verdadeira paz jamais será obtida com transigência de princípios. E ninguém pode ser fiel aos princípios sem despertar oposição. Um cristianismo espiritual sofrerá oposição da parte dos filhos da desobediência. Mas Jesus recomendou aos discípulos: “Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma.” Os que são fiéis a Deus não têm a temer o poder dos homens nem a inimizade de Satanás. Em Cristo lhes está garantida a vida eterna. Seu único temor deve ser atraiçoar a verdade, traindo assim a confiança com que Deus os honrou.
É obra de Satanás encher o coração dos homens de dúvida. Leva-os a considerar a Deus um severo Juiz. Tenta-os a pecar, e depois a julgar-se demasiado vis para se aproximarem de seu Pai Celestial ou inspirar-Lhe piedade. O Senhor compreende tudo isso. Jesus garante a Seus discípulos a simpatia de Deus para com eles em suas necessidades e fraquezas. Nenhum suspiro se desprende, nenhuma dor é sentida, desgosto algum magoa a alma, sem que sua vibração se faça sentir no coração do Pai.
A Bíblia apresenta-nos Deus em Seu alto e santo lugar, não em estado de inatividade, não em silêncio e isolamento, mas rodeado de milhares de milhares e milhões de milhões de seres santos, todos à espera para Lhe cumprir a vontade. Por meios que não nos é dado discernir, acha-Se Ele em ativa comunicação com todas as partes de Seu domínio. É, porém, neste mundo minúsculo, nas almas para cuja salvação deu Seu Filho unigênito, que se centraliza o Seu interesse, bem como o de todo o Céu. Deus Se inclina de Seu trono para escutar o clamor do oprimido. A toda sincera súplica, responde: “Eis-Me aqui.” Ergue o aflito e o oprimido. Em todas as nossas aflições, é Ele afligido também. Em toda tentação e em toda prova, o anjo de Sua face perto está para livrar.
Nem mesmo um passarinho cai por terra sem o conhecimento do Pai. O ódio de Satanás contra Deus o leva a odiar todo objeto de amor do Salvador. Busca manchar a obra de Deus, e deleita-se em destruir até os mudos irracionais. É unicamente mediante o protetor cuidado de Deus que os pássaros são conservados para alegrar-nos com seus cânticos de júbilo. Ele não os esquece, nem aos menores passarinhos. “Não temais pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos.”
Jesus continua: Se Me confessardes diante dos homens, Eu vos confessarei diante de Deus e dos santos anjos. Tendes de Me servir de testemunhas na Terra, condutos por onde Minha graça possa fluir para cura do mundo. Assim, serei vosso representante no Céu. O Pai não vê vosso caráter defeituoso, mas vos olha revestidos de Minha perfeição. Sou o meio pelo qual as bênçãos do Céu descerão a vós. E todo aquele que Me confessa, partilhando Meu sacrifício pelos perdidos, será confessado como participante na glória e alegria dos salvos. 
O que confessar a Cristo, tem de O possuir em si. Não pode comunicar aquilo que não recebeu. Os discípulos poderiam discorrer fluentemente acerca de doutrinas, poderiam repetir as palavras do próprio Cristo; mas a menos que possuíssem mansidão e amor cristãos, não O estariam confessando. Um espírito contrário ao de Cristo, negá-Lo-ia, fosse qual fosse a profissão de fé. Os homens podem negar a Cristo pela maledicência, por conversas destituídas de senso, por palavras inverídicas ou descorteses. Podem negá-Lo esquivando-se às responsabilidades da vida, pela busca dos prazeres pecaminosos. Podem negá-Lo conformando-se com o mundo, por uma conduta indelicada, pelo amor das próprias opiniões, pela justificação própria, por nutrir dúvidas, por ansiedades desnecessárias, e por deixar-se estar em sombras. Por todas essas coisas declaram não ter consigo a Cristo. E “qualquer que Me negar diante dos homens”, diz Ele, “Eu o negarei também diante de Meu Pai, que está nos Céus”.
O Salvador declarou a Seus discípulos que não esperassem que a inimizade do mundo para com o evangelho fosse vencida, e sua oposição deixasse de existir depois de algum tempo. Disse: “Não vim trazer paz, mas espada.” Esse suscitar de conflitos não é efeito do evangelho, mas o resultado da oposição que lhe é movida. De todas as perseguições a mais dura de sofrer é a discórdia no lar, o afastamento dos mais queridos entes da Terra. Mas Jesus declara: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após Mim, não é digno de Mim.”
A missão dos servos de Cristo é uma elevada honra, um sagrado depósito. “Quem vos recebe”, diz Ele, “a Mim Me recebe; e quem Me recebe a Mim, recebe Aquele que Me enviou.” Nenhum ato de bondade para com eles deixa de ser reconhecido e galardoado. E no mesmo reconhecimento inclui Ele os mais fracos e humildes da família de Deus: “E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos” — os que são quais crianças na fé e no conhecimento de Cristo — “em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.”
Assim terminou o Salvador Suas instruções. Em nome de Cristo, saíram os doze escolhidos, como Ele mesmo fizera, a “evangelizar os pobres, … a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável ao Senhor”. Lucas 4:18, 19. 

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