Por Ellen White
O Desejado de Todas as Nações
Este capítulo é baseado em Salmo 91: 6; 116: 12 – 14; Isaías 43:12; Lucas 8: 40 – 56
Voltando de Gergesa à costa ocidental, Jesus encontrou uma multidão para O receber, e saudaram-nO com alegria. Permaneceu por algum tempo nas proximidades do lago, ensinando e curando, dirigindo-Se em seguida à casa de Levi Mateus, para encontrar-Se com os publicanos no banquete. Ali O achou Jairo, príncipe da sinagoga.
Esse chefe judeu foi ter com Jesus em grande aflição, e atirou-se-Lhe aos pés, exclamando: “Minha filha está moribunda; rogo-Te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare, e viva.”
Jesus partiu imediatamente com o príncipe. Conquanto os discípulos houvessem testemunhado tantas de Suas obras de misericórdia, surpreenderam-se com Sua condescendência para com a súplica desse altivo rabi; acompanharam, contudo, ao Mestre e o povo os seguiu, ansioso e expectante. Não era longe a casa do príncipe, mas Jesus e Seus companheiros avançaram lentamente, pois a turba O comprimia de todos os lados. O ansioso pai impacientava-se com a demora; Jesus, porém, compadecendo-Se do povo, detinha-Se aqui e ali para aliviar algum sofrimento, ou confortar um coração turbado.
Quando ainda em caminho, um mensageiro chegou abrindo passagem por entre a multidão, levando a Jairo a notícia do falecimento da filha, e dizendo ser inútil incomodar mais o Mestre. As palavras foram ouvidas por Jesus. “Não temas”, disse Ele; “crê somente, e será salva.”
Jairo achegou-se mais para o Salvador, e juntos apressaram-se para a casa dele. Já os pranteadores e os tocadores de flauta ali estavam, enchendo os ares com seus clamores. A presença da multidão e o tumulto feriram o espírito de Jesus. Procurou fazê-los silenciar, dizendo: “Por que vos alvoroçais e chorais? A menina não está morta, mas dorme.” Eles se indignaram ante as palavras do Estranho. Tinham visto a menina nos braços da morte, e riram-se desdenhosamente dEle. Pedindo a todos que deixassem a casa, Jesus levou consigo o pai e a mãe da menina, e os três discípulos, Pedro, Tiago e João, e juntos entraram na câmara mortuária.
Jesus aproximou-Se do leito, e tomando a mão da menina na Sua, proferiu brandamente, na linguagem familiar de sua casa, as palavras: “Menina, a ti te digo, levanta-te.”
Um tremor perpassou-lhe instantaneamente pelo corpo inanimado. Volveram as pulsações da vida. Os lábios descerraram-se num sorriso. Os olhos abriram-se como se despertasse do sono, e a menina olhou admirada ao grupo que a rodeava. Ergueu-se e os pais estreitaram-na, chorando de alegria.
De caminho para a casa do príncipe, Jesus encontrara, entre a multidão, uma pobre mulher que, por doze anos, sofrera de um mal que lhe tornava um fardo a existência. Consumira todos os seus recursos com médicos e remédios, para ser afinal declarada incurável. Reviveu-lhe, porém, a esperança, ao ouvir falar das curas operadas por Cristo. Teve a certeza de que se tão-somente pudesse ir ter com Ele, havia de recobrar a saúde. Fraca e sofrendo chegou à beira-mar, onde Ele estava ensinando, e tentou romper a multidão, mas em vão. Novamente O seguiu da casa de Levi Mateus, mas foi-lhe outra vez impossível chegar até Ele. Começara a desesperar quando, abrindo caminho por entre o povo, Ele chegou perto de onde ela se achava.
Ali estava a áurea oportunidade. Achava-se em presença do grande Médico! Em meio da confusão, porém, não Lhe podia falar, nem vê-Lo senão de relance. Temendo perder seu único ensejo de cura, forcejou por adiantar-se, dizendo de si para si: “Se eu tão-somente tocar o Seu vestido, ficarei sã”. Mateus 9:21. Quando Ele ia passando, ela avançou, conseguindo tocar-Lhe, de leve, na orla do vestido. No mesmo instante, todavia, sentiu que estava sã. Concentrara-se, naquele único toque, toda a fé de sua vida e, num momento, a doença e a fraqueza deram lugar ao vigor da perfeita saúde.
Cheia de gratidão, buscou retirar-se dentre o povo; mas Jesus deteve-Se de repente, e o povo parou com Ele. Voltou-Se e, numa voz distintamente ouvida acima do burburinho da multidão, indagou: “Quem é que Me tocou?” Lucas 8:45. O povo respondeu a essa pergunta com uma expressão de surpresa. Impelido de todos os lados, rudemente comprimido daqui e dali, como Ele estava, parecia essa uma estranha interrogação.
Pedro, sempre pronto a falar, disse: “Mestre, a multidão Te aperta e Te oprime, e dizes: Quem é que Me tocou?” Jesus respondeu: “Alguém Me tocou, porque bem conheci que de Mim saiu virtude.” O Salvador podia distinguir o toque da fé, do casual contato da turba descuidosa. Essa confiança não devia passar sem comentário. Queria dirigir à humilde mulher palavras de conforto, que lhe serviriam de fonte de alegria — palavras que seriam uma bênção aos Seus seguidores até ao fim dos séculos.
Olhando para a mulher, Jesus insistiu em saber quem O tocara. Vendo ela que era inútil querer ocultar-se, adiantou-se tremendo e lançou-se-Lhe aos pés. Com lágrimas de gratidão, contou a história de seus sofrimentos e como encontrara alívio. Jesus disse brandamente: “Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou; vai em paz”. Lucas 8:48. Ele não deu nenhum ensejo para que a superstição pretendesse haver virtude curadora no simples toque de Suas vestes. Não fora pelo contato exterior com Ele, mas por meio da fé que se firmava em Seu poder divino, que se operara a cura.
A turba admirada que se comprimia em torno de Jesus, não sentira nenhum acréscimo de poder vital. Mas, quando a sofredora mulher estendeu a mão para tocá-Lo, crendo que se restabeleceria, experimentou a vivificadora virtude. Assim nas coisas espirituais. Falar de religião de maneira casual, orar sem ter a alma faminta e viva fé, nada aproveita. A fé nominal em Cristo, que O aceita apenas como o Salvador do mundo, não pode nunca trazer cura à alma. A fé que opera salvação, não é mero assentimento espiritual à verdade. Aquele que espera inteiro conhecimento antes de exercer fé, não pode receber bênção de Deus. Não basta crer no que se diz acerca de Cristo; devemos crer nEle. A única fé que nos beneficiará, é a que O abraça como Salvador pessoal; que se apropria de Seus méritos. Muitos têm a fé como uma opinião. A fé salvadora é um ajuste pelo qual aqueles que recebem a Cristo se unem a Deus em concerto. Fé genuína é vida. Uma fé viva significa acréscimo de vigor, segura confiança pela qual a alma se torna uma força vitoriosa.
Após a cura da mulher, Jesus desejava que ela reconhecesse a bênção que recebera. Os dons oferecidos pelo evangelho não devem ser adquiridos às furtadelas, nem fruídos em segredo. Assim o Senhor nos chama a confessar Sua bondade. “Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou Deus”. Isaías 43:12.
Nossa confissão de Sua fidelidade é o meio escolhido pelo Céu para revelar Cristo ao mundo. Temos de reconhecer-Lhe a graça segundo nos é dada a conhecer através dos santos homens da antiguidade; mas o que será mais eficaz é o testemunho de nossa própria experiência. Somos testemunhas de Deus ao revelar em nós mesmos a atuação de um poder que é divino. Cada indivíduo tem uma vida diversa da de todos os outros, uma experiência que difere essencialmente da sua. Deus deseja que nosso louvor a Ele ascenda, com o cunho de nossa própria individualidade. Esses preciosos reconhecimentos para louvor da glória de Sua graça, quando confirmados por uma vida semelhante à de Cristo, possuem irresistível poder, eficaz para a salvação.
Quando os dez leprosos foram ter com Jesus, em busca de cura, Ele lhes ordenou que fossem, e se mostrassem ao sacerdote. No caminho, foram purificados, mas unicamente um voltou atrás para Lhe dar glória. Os outros seguiram seu caminho, esquecendo Aquele que os pusera sãos. Quantos estão ainda fazendo a mesma coisa! O Senhor opera continuamente em benefício da humanidade. Está sem cessar concedendo Suas dádivas. Ergue o enfermo do leito em que sofre, livra os homens de perigos a eles invisíveis, envia anjos celestes para os salvar de calamidades, guardá-los de “peste que ande na escuridão” e de “mortandade que assole ao meio-dia” (Salmos 91:6); mas os corações não são impressionados. Ele entregou todas as riquezas do Céu para os redimir, e todavia andam alheios ao Seu grande amor. Por sua falta de reconhecimento, cerram o coração à graça divina. Como a planta do deserto, não sabem quando vem o bem, e sua alma habita os endurecidos lugares da terra árida.
É para nosso próprio benefício que conservamos sempre vívidos na memória todos os dons divinos. Assim se robustece a fé para pedir e receber mais e mais. Há mais animação para nós na menor bênção que nós mesmos recebemos de Deus, do que em todas as narrações que possamos ler acerca da fé e experiência de outros. A alma que corresponde à graça de Deus, será como jardim regado. Sua saúde brotará apressadamente; sua luz rompeu nas trevas, e a glória do Senhor se verá sobre ela. Lembremos, pois, a amorável bondade do Senhor e a multidão de Suas ternas misericórdias. Como o povo de Israel, empilhemos nossas pedras de testemunho, e sobre elas inscrevamos a preciosa história do que Deus tem feito por nós. E, ao recordarmos Seu trato para conosco em nosso peregrinar, corações enternecidos de gratidão, declaremos: “Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito? Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor. Pagarei os meus votos ao Senhor, agora, na presença de todo o Seu povo”. Salmos 116:12-14.