O Monte Gerizim – Parte 1

Ebal e Gerizim são duas montanhas que se elevam acima da antiga cidade de Siquém Shechem. Na verdade, essas duas montanhas estão separadas por um vale estreito e é nesse vale que se encontra a cidade de Siquém.

O Monte Gerizim é uma das mais altas montanhas da Palestina Central, com uma elevação de 881 metros. O Monte Ebal é uma montanha parcialmente estéril e chama-se agora Jebel et-Tôr. Os dois montes não possuíam qualquer tipo de arvoredo até 1920, quando o governo britânico plantou algumas árvores nas encostas a norte do Monte Gerizim. Por esta razão ele é mais fértil do que o árido Ebal.

Acontecimentos bíblicos importantes aconteceram nessa região: 
. Abraão acampou em Siquém (Gênesis 12:6–7);
. Jacó também acampou aqui e comprou um terreno (Gênesis 33:18–20);
. Os ossos de José estão enterrados em Siquém (Josué 24:32);
. No Monte Ebal Josué edificou um altar com uma cópia da lei de Moisés e então leu a lei aos israelitas (Josué 8:30–35).
. Segundo a Bíblia, Moisés dividiu as tribos nesses dois montes. comissionou um grupo para ir ao Monte Gerezim e de lá, depois que o povo tivesse atravessado o Jordão, deveria abençoá-lo. Enquanto que um outro grupo deslocar-se-ia para o Monte Ebal para proferir as maldições (Deuteronômio 27 e 28)

Eles “formavam um grande anfiteatro natural, de tamanho suficiente para acomodar a grande multidão. Os oradores deviam estar no centro, no vale; as tribos devem ter se reunido nas ladeiras dos dois montes. As 6 tribos descendentes de Lia e Raquel deviam responder às bênçãos. As tribos que deveriam responder às maldições pronunciadas por causa da desobediência eram as tribos descendentes de Zilpa e Bila, juntamente com as tribos descendentes de Zebulom, filho mais novo de Lia, e a de Ruben, que perdeu a primogenitura por causa do pecado cometido contra seu pai. ( Gênesis 35:22; 49:4)”1

Duas aldeias estão situadas no cume do Monte Gerizim, Kiryat Luza (samaritana) e Har Bracha (judaica).

“Os Samaritanos são um pequeno grupo étnico-religioso aparentado aos judeus que habita nas cidades de Holon e Nablus situadas em Israel e na Cisjordânia respectivamente. Designam-se a si próprios como Shamerim o que significa “os observantes” (da Lei). Há alguns anos  os Samaritanos tem igualmente usado o termo “israelita-samaritanos”. Em hebraico moderno, os Samaritanos são designados de שומרונים, os de Shomron, ou seja, os da Samaria.

A religião dos Samaritanos baseia-se no Pentateuco, tal como o judaísmo. Contudo, ao contrário deste, o samaritanismo rejeita a importância religiosa de Jerusalém. Os samaritanos não possuem rabinos e não aceitam o Talmud dos judeus ortodoxos. Não se consideram judeus, mas descendentes dos antigos habitantes do antigo reino de Israel (ou reino da Samaria). Os judeus ortodoxos consideram-nos por sua vez descendentes de populações estrangeiras, que adoptaram uma versão adulterada da religião hebraica; como tal, recusam-se a reconhecê-los como judeus ou até mesmo como descendentes dos antigos israelitas. O Estado de Israel, porém, os reconhece como judeus.”.2

Este problema de relacionamento entre judeus e samaritanos é histórico.

“Quando perdemos de vista o grande quadro do que Deus tem em mente para nós, as miudezas ocupam o espaço. Israel perdeu a perspectiva como nação; o tribalismo assumiu o comando. Ao longo do livro de Juízes, os vários clãs e tribos estavam prontos e dispostos a combater entre si. As práticas religiosas eram misturadas conforme a conveniência pessoal, e muitas crenças das culturas circundantes foram adotadas. De acordo com o autor do livro de Juízes, esse foi o resultado dos casamentos mistos com os cananeus que ainda viviam na terra (Juízes 3:3-7). Como consequência desse declínio espiritual, Israel entrou em um ciclo de dominação pelas forças estrangeiras, libertação, idolatria e, novamente, dominação.

Embora tenha recebido tanto de Deus, e tanto mais lhe tenha sido prometido caso obedecesse, o povo de Israel foi influenciado negativamente pela cultura circundante. Por exemplo, os israelitas viam nos reinos vizinhos uma estrutura política muito diferente. Todas aquelas nações tinham um rei. Agravada pelo fato de que os filhos de Samuel não imitavam o comportamento e a liderança de seu pai, mas “aceitavam suborno e pervertiam a justiça” (1 Samuel 8:3, NVI), a liderança tribal de Israel sentia que estava na hora de escolher um rei sobre Israel (1 Samuel 8:4, 5). O profeta Samuel não ficou nada satisfeito com aquela decisão, mas foi orientado pelo Senhor a aceitar (1 Samuel 8:7).”3

A história dos reis de Israel começa com Saul (1 Samuel 10:1). O povo pediu um rei. Porém, como Deus já havia previsto, as coisas não foram fáceis para o novo rei. As tensões tribais não cessaram de existir. A própria existência de Israel esteve em risco devido à pressão dos poderes vizinhos. Mas, o grande problema, porém, foi resultante do fato de que o novo rei não se dedicou a seguir os mandamentos de Deus (1 Samuel 15:3, 8, 9).

“Por volta de 1000 a.C., os Israelitas viviam nas terras altas situadas a oeste do rio Jordão no atual território da Jordânia. Segundo a Bíblia, os Israelitas dividiam-se em doze tribos, que alimentavam rivalidades mais ou menos intensas umas com as outras.”3

Foi o rei Saul quem unificou estas tribos. Depois Davi foi ungido rei por ordem de Deus. Primeiramente, Davi assumiu o trono de Judá e, então, sete anos depois, reinou sobre todo o Israel. Ele estabeleceu Jerusalém como a nova capital da monarquia unida. À semelhança de nossa própria vida, o reinado de Davi foi marcado por grandes vitórias, algumas escolhas infelizes e muita graça de Deus. Ele foi sucedido por seu filho, Salomão, que também reinou por quarenta anos (1 Reis 11:42).

Salomão não foi um guerreiro nem conquistador e durante muitos anos de sua vida ele também abandonou o Senhor, seguindo as práticas religiosas de suas muitas esposas (1 Reis 11:1-8).

A morte de Salomão marcou outro importante ponto decisivo na história de Israel. A linha-dura administrativa, as leis de recrutamento obrigatório para o trabalho e as experiências sobre pluralismo religioso levaram a grande tensão no princípio do reinado de Roboão, seu filho.

“Depois da morte de Salomão, em cerca de 930 a.C., dez tribos do norte separaram-se e formaram o reino de Israel, também conhecido como reino da Samaria, devido ao nome da cidade que se tornou a sua capital no século IX a.C. Este reino tornou-se vizinho e por vezes rival do reino do Sul, o reino de Judá.”3

Num contexto em que a religião e a política não estão separadas, o controle da religião é um aspecto importante do poder. Assim, cada reino fixou os seus próprios lugares de culto.”2

O povo de Deus, antes unido, começou a seguir caminhos diferentes. “O lugar de culto do reino de Judá foi instalado em Jerusalém, enquanto que os do reino de Israel situavam-se em diversos pontos . Vendo que o centro de adoração e sacrifício estava localizado em Judá, o rei de Israel, Jeroboão I, mandou fundir dois bezerros de ouro (1 Reis 12:26-29) e erguer dois lugares de adoração com altares – um em Betel e o outro em Dã.

As coisas não pareciam boas para Israel e, nos duzentos anos seguintes, os israelitas tiveram a experiência de uma montanha-russa. Alguns reis seguiram (ao menos com um coração dividido) o chamado de Deus ao arrependimento; outros recusaram obstinadamente ouvir os profetas. As dinastias mudaram, e houve muitos assassinatos políticos. Desde Jeroboão I até o último rei de Israel em Samaria, Oseias, reinaram vinte reis, sinalizando a instabilidade do reino. Finalmente, em 722 a.C., Samaria foi capturada pelos assírios ocasionando a sua destruição, e Israel foi levado em cativeiro.”2

O profeta Oséias viveu nos últimos dias do reino de Israel. durante a mesma época do trabalho de Amós (Amós 1:1), Isaías (Isaías 1:1) e Miquéias (Miquéias 1:1). Sua mensagem denunciava o enfraquecimento espiritual da nação por causa da idolatria, a imoralidade e a injustiça. Destes quatro profetas, Amós e Oséias profetizaram principalmente para Israel, e Isaías e Miquéias pregaram mais para Judá.

O livro de Oséias, talvez mais do que qualquer outro livro do Velho Testamento, expõe o coração de Deus. A infidelidade espiritual do povo é comparada na Bíblia ao pecado de adultério. Para conhecer mais esse período da história, leia 2 Reis 14-17 e 2 Crônicas 26-29.

Em 586 a.C., o reino de Judá também cai perante o inimigo, e uma parte da sua população é deportada para a Babilônia. Após a libertação dos exilados por Ciro II em 537 a.C., estes decidem reconstruir o templo de Jerusalém. Os Samaritanos oferecem então a sua ajuda, mas esta é rejeitada.

“Os Samaritanos consideram-se como descendentes das tribos de Efraim e de Manassés (duas tribos procedentes da tribo de José) que viviam no reino de Israel. Esta visão está bastante próxima dos estudos da maior parte dos historiadores. Afirmam ainda que foram os Judeus a se separar deles quando da transferência da Arca da Aliança no século XI a.C.. De acordo com a segunda das suas sete crônicas, foi o profeta Elias a causar o cisma quando estabeleceu em Siló um santuário que visava substituir o santuário do Monte Gerizim.

[…] As relações com os judeus foram em geral negativas durante toda a Antiguidade. Existia entre eles um ódio recíproco. Depois do sucesso da revolta judaica contra os selêucidas, o novo reino dos Hasmoneus, governado por João Hircano I conquista Siquém e destrói o templo de adoração dos samaritanos no Monte Gerizim (128 a.C.)

[..] Flávio Josefo refere que até à época do procurador romano de Coponius (6-8 d.C.), o Templo de Jerusalém encontrava-se aberto aos samaritanos.

[…] À semelhança do judaísmo, os Samaritanos conheceram disputas religiosas, que são mal conhecidas. Hoje em dia existe na religião samaritana apenas uma corrente religiosa.

Os Samaritanos aceitam apenas a autoridade do Pentateuco. Rejeitam os outros livros da Bíblia judaica, assim como a tradição oral (Talmud). O Pentateuco dos Samaritanos é escrito em hebraico samaritano com recurso ao alfabeto samaritano, uma variante do antigo alfabeto paleo-hebraico abandonado pelos judeus.

Para além da questão linguística, existem diferenças entre as duas versões do Pentateuco. A mais importante está relacionada com a atribuição ao Monte Gerizim do estatuto de local mais sagrado em vez de Jerusalém. Os Dez Mandamentos da Torá samaritana integram como décimo mandamento o respeito do Monte Gerazim como centro do culto. As duas versões dos Dez Mandamentos existentes na Bíblia (no Livro do Êxodo e Deuteronômio), encontram-se entre os Samaritanos uniformizadas.

Para os Samaritanos, aquilo que os judeus chamam de primeiro mandamento (“Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”) é apenas uma apresentação que Deus faz de si próprio; assim, o primeiro mandamento dos Samaritanos é o segundo mandamento dos Judeus (“Não terás outros deuses diante de mim”). Segundo os Samaritanos os judeus fizeram da apresentação de Deus o primeiro mandamento depois de terem retirado como décimo mandamento o dever de considerar o Monte Gerizim como local de culto. […]

O surgimento do Cristianismo se deu em uma época de conflito entre judeus e samaritanos, e o ministério apostólico os englobou em sua obra missionária (por exemplo João 4:5-42 e Atos 8:4-19). Jesus, por exemplo, usou esta diferença religiosa para enfatizar o amor ao próximo na história do “Bom samaritano” (Lucas 10:25-37). […] O rei Hussein da Jordânia comprou terras perto do Monte Gerizim, que entregou à comunidade samaritana, que as utilizou para construir uma aldeia de nome Kiryat Luza. Esta localidade é o centro espiritual da comunidade, encontrando-se nela a residência do sumo sacerdote.

[…] Os Samaritanos são reconhecidos como judeus pelo Estado de Israel, encontrando-se abrangidos pela “lei do retorno” que concede a cidadania israelita de forma automática. Os bilhetes de identidade dos Samaritanos de Israel classificam-nos como “judeus samaritanos” ou simplesmente “judeus”. No entanto, os Samaritanos não são reconhecidos como judeus pelo rabinato ortodoxo de Israel. As relações com os judeus ultra ortodoxos são particularmente más, já que os primeiros os rejeitam completamente. Em 1992 foi mesmo proposto retirar aos Samaritanos a possibilidade de beneficiarem da lei do retorno, sob pressão do Shas, partido ultra ortodoxo, mas o Tribunal Supremo de Israel confirmou em 1994 o estatuto de judeus dos Samaritanos. […]

Os problemas oriundos da consanguinidade são comuns entre os Samaritanos. Hoje em dia, antes de terem filhos muitos casais Samaritanos submetem-se a exames genéticos no hospital israelita Tel HaShomer. Desde a década de 20 do século XX que os Samaritanos admitem a entrada de mulheres judias na comunidade, como forma de resolver este problema. Contudo, estas uniões levantam problemas para ambas as partes: o rabinato de Israel, que possui o monopólio sobre o casamento no país, é contra as uniões com Samaritanos, enquanto que para os Samaritanos a uniões podem gerar a dissolução no meio judaico. Estes casamentos são por isso, raros. Em 2003 encontravam-se recenseados 14 casamentos mistos.

Numa nova tentativa de solucionar a situação, Eleazar ben Tsedaka, sumo sacerdote dos Samaritanos desde 2004, emitiu uma diretiva que autoriza os homens da sua comunidade a casar com mulheres oriundas de qualquer meio religioso, desde que estas se convertam à fé samaritana antes do casamento.”2

Tudo teria sido diferente se tão somente o povo e sua liderança não tivessem alimentado a natureza pecaminosa de querer viver sem submeter-se a Deus. Pois, foi exatamente essa a razão do pedido para que tivessem um rei.

O Monte Gerazim é o local de culto mencionado e reivindicado pela mulher samaritana na conversa com Jesus junto ao poço de Jacó (João 4:20, 21).Esta é uma, entre as muitas histórias na Bíblia, que falam de um amor sem fronteiras:

“Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.” (João 4:20)

A resposta de Jesus foi maravilhosa! Ele desviou o foco da geografia para algo muito mais significativo: Jesus afirmou que era o Messias tão aguardado. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.[…] Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.

Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo.”  (João 4:21-26)

“Um coração vivo em sintonia com Deus é essencial. Jesus contrasta a autêntica adoração em espírito e verdade com a adoração externa concentrada em Samaria e em Jerusalém. […] A essência da adoração está na visão verdadeira de Deus em nossa mente e nas afeições autênticas de nosso espírito por Deus. […] nossa vida deve ser dedicada a servir a Deus, isto é, a vida inteira deve ser moldada por um desejo ardente de maximizar nossa experiência acerca do valor supremo de Deus em Jesus.”4

Parte 2



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Fontes:

1- Comentário Bíblico Adventista, vol 1, CPB
4- Jonh Piper, O que Jesus Espera de Seus seguidores, mandamento 12. Editora Vida.

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