Conversando sobre 1 Samuel 15 (parte 2)

“A justiça sem força e a força sem justiça são duas grandes desgraças. Justiça é a verdade em ação.” (Joseph Joubert)

Deus não perde Sua Onipotência quando decidimos não Lhe servir. Sua Onipotência não depende do nosso querer. Somos apenas testemunhas, argumentos vivos, através de nossas escolhas, da Verdade que Ele é. Viveremos as consequências de nossas escolhas, se será para a vida ou para a morte. Tente aplicar tal conceito neste verso bíblico: “Vai, pois, agora, e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo o que tiver, e nada lhe poupes; porém matarás homem e mulher, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos.”

Mas, por que os animais tinham que morrer?  

Israel não estava guerreando para saquear as posses dos seus adversários, mas para conquistar a terra e livrá-la daqueles moradores violentos e cruéis. No caso dos amelequitas a ordem de Deus era a destruição total, assim como foi no caso de Jericó, cuja cidade e tudo o que nela havia foi destruído, exceto Raabe a prostituta e todos os que estavam com ela em casa. (Josué 6:17-18)  

Alguém me perguntou certa vez: “Como entender as ordens para matar e as leis rígidas do Antigo Testamento, dilúvio, Sodoma e Gomorra, guerras, etc?” Esta é uma pergunta pertinente e que todo crente no Deus Criador precisa ter respondida em sua mente.

Se vamos “analisar” Deus (como se pudéssemos) é preciso que a fonte seja a Sua Palavra e é nela que vamos buscar luz para todas essas questões.  

Quanto ao dilúvio? Bom… foram 120 anos de avisos. Quando a chuva caiu como uma tempestade sobreviveu quem escutou, quem creu.  

Você pode estar se perguntando sobre os sacrifícios dos animais estabelecidos por Deus através de Moisés. Eram animais que também morriam não é? E mais uma vez por causa do homem. Segundo a Bíblia depois de o homem ter desobedecido as ordens divinas ele tentou esconder-se de Deus. Por quê? Porque a natureza da rebelião embrenhou-se à sua natureza e o homem passou a experimentar algo que até então desconhecia, o medo e a vergonha. Estes foram os primeiros resultados do conhecer o mal.  

Lembram do conselho? “Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gênesis 2:16-17)

Não havia nada no fruto, mas havia um teste ao qual o homem deveria submeter-se a fim de provar sua lealdade. Porém, o homem duvidou do conselho do Criador ao dar ouvidos à voz do Seu inimigo. A relação de cumplicidade se rompeu entre criatura e Criador. Exatamente nesta ordem, jamais ao contrário. Foi a criatura que rompeu, não Deus. Então, tudo o que está escrito de sangue é culpa do homem não de Deus. E exatamente porque Deus não rompeu com Sua criatura que em nenhum momento lhe propôs um plano de auto redenção. Ser-lhe-ia impossível cumprir. Deus pessoalmente veio lutar pela Sua criatura e no lugar dela, contra Seu Acusador.  

“Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isso, maldita serás tu dentre todos os animais domésticos, e dentre todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gênesis 3:14-15)

É claro que Adão não compreendia em toda a sua plenitude o que havia feito ou os resultados de sua desobediência. Ele não sabia o que era a morte. Jamais havia contemplado o quadro da morte, de modo que não compreendia o que ela significava. Foi com o intuito de impressionar lhe o espírito com a natureza do pecado que Deus vestiu a Adão e Eva com peles de animais que haviam sido sacrificados. Ao ver o animal sem vida para que ele pudesse se aquecer compreendeu.  

Compreendeu o significado de uma morte substituta. Sempre que a pele lhe vestia o corpo lembrava-se de seu pecado, mas também, e mais ainda, da salvação do pecado.

O primeiro animal morreu nas mãos de Deus, por quê? Para proteger o homem do frio que com certeza viria com a ação do pecado. Um ser vivo morreu para vestir o homem. É justo? Há pessoas que comem carne, é justo um boi morrer para que haja alimento? Isto faz de você um sanguinário?

Deus providenciou as vestes antes de expulsá-los do Éden. Por quê? Para que eles levassem consigo a prova de Seu amor. Queria que compreendessem que o fato de deixar o Éden não significava que não os amava mais. Eu vejo aqui os cuidados de um Deus de amor e provedor. Nisto está sintetizado o evangelho. Adão não foi entregue à própria sorte depois de pecar. Houve a promessa de um Salvador, simbolizado pelo cordeiro sacrifical. A lei que lhe havia sido dada para a vida, trouxera-lhe condenação e morte.

Por ocasião da morte de Abel, Deus perguntou a Caim: “Por que você está com raiva? Por que está carrancudo? Se tivesse feito o que é certo, você estaria sorrindo; mas você agiu mal… Onde está Abel, o seu irmão? (…) Por que você fez isto? Da terra o sangue do seu irmão está gritando, pedindo vingança.”

Isto me ensina que Deus não compactua com o assassinato. Não havia prazer divino por ocasião das guerras. Na Bíblia está escrito que Ele não tem prazer na morte do ímpio. O sistema de sacrifícios vem, então, desde o Éden, não foi com Israel. E neste sistema de sacrifício havia uma lição objetiva. Não era somente uma morte, mas, uma vida eterna que se anunciava novamente para o homem transgressor.  

Quando Deus juntou os hebreus que eram escravos no Egito para formar a nação de onde deveria nascer o Messias Salvador qual era o contexto moral e espiritual? Eles tiveram que reaprender tudo, principalmente o que era ser livre. Por isso, Deus teve que também orientá-los com relação ao código civil e penal que como nação deveriam ter. Isso incluiu leis sobre a escravidão, matrimônio, agricultura, etc. Deus se propôs a formar uma nação forte e que se estabelecesse. Um povo precisa de terra. E como se conquista terras? Através de guerras.  

As outras nações valiam-se de seus deuses, Israel valeu-se do Deus Criador. Como o Criador era mais forte, sempre venceu. Os métodos desta guerra não eram de tortura, mas de conquista. Os que reconheceram o poder do Deus dos hebreus e estabeleceram pactos com Israel permaneceram vivos, um pequeno exemplo é o da prostituta Raabe.

Porém, os que O confrontaram morreram. Coisa séria é contender com Deus. O caso de Sodoma e Gomorra e de Canaã não está fora desta análise. Em Sodoma e Gomorra habitava Ló e no auge do tempo que antecedeu a destruição destas cidades os seus moradores foram avisados da presença dos mensageiros de Deus, mas não quiseram ouvir. Resultado: Padeceram. Ao contrário do que aconteceu com a cidade de Nínive. Seus moradores se arrependeram e foram poupados.

As intervenções (guerras do passado, narradas no Antigo Testamento) tinham um contexto específico. Não vejo neste Deus crueldade, vejo determinação de preservar sob Seu poder algo que Lhe pertence por direito. A terra é Sua, Ele a criou. Não será diferente quando Ele vier novamente a Terra. Os que não ouvirem o Seu convite terão que morrer porque Ele quer a Sua criação de volta. A Terra é obra Sua e Ele não quer mais o mal sobre a Terra. Isto se chama justiça. A Deus o que é de Deus. A história da humanidade com suas guerras e conflitos tem que ser lida neste contexto de forças antagônicas e potencialmente diferentes.

Gosto muito deste texto do pastor Alberto R. Timm, publicado na Revista do Ancião de out-dez 2006. O pastor Timm recorre à Bíblia e aos escritos e opiniões da escritora cristã Ellen G. White.

“Serão salvas as crianças que morreram antes de atingirem a idade da razão? A possibilidade dessas crianças serem salvas parece, à primeira vista, descartada pelas afirmações de que “quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mar. 16:16), e que, para crer, é necessário entender o evangelho (Rom. 10:12-15). Na tentativa de resolver esse dilema, a Igreja Católica e mesmo alguns reformadores (inclusive Lutero) argumentavam que Deus concede o “dom” da fé a um bebê que for batizado, sendo assim salvo da culpa do “pecado original” de Adão. Mas essa proposta é inaceitável, pois as Escrituras ensinam que os seres humanos herdam apenas a natureza pecaminosa, sem que lhes seja atribuída a “culpa” do pecado de Adão. Além disso, a Bíblia não recomenda a prática do batismo infantil nem reconhece o caráter sacramental desse rito.

No entanto, a experiência do ladrão que se converteu na cruz (Luc. 23:39-43) confirma que entre os remidos estarão pessoas que não tiveram condições de ser batizadas. Nessa categoria estão as crianças que morreram antes de atingirem a idade ideal para o batismo. A salvação das crianças é uma questão que transcende à mera questão do batismo. Se os pecadores são justificados unicamente pela fé em Cristo (Rom. 5:1 e 2; cf. João 14:6), como pode uma criança que não exerceu conscientemente tal fé ser justificada para a salvação?

As declarações de Ellen G. White nos livros Mensagens Escolhidas, vol.2, págs. 259 e 260 (tópico “As Crianças na Ressurreição”); ibid., vol. 3, págs. 313-316 (capítulo “Perguntas a Respeito dos Salvos”); e Eventos Finais, págs. 253 e 254 (tópico “A Salvação de Criancinhas e de Imbecis”) revelam pelo menos três conceitos fundamentais sobre a salvação de crianças que morreram em tenra idade. Um deles é que os filhos de pais crentes serão salvos, pois a fé dos pais é extensiva aos filhos que ainda não atingiram a idade da razão. É-nos assegurado que “a fé dos pais que crêem protege os filhos, como sucedeu quando Deus enviou Seus juízos sobre os primogênitos dos egípcios” (Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 314). Os pais crentes podem ter a certeza de que esses pequeninos lhes serão devolvidos na gloriosa manhã da ressurreição. “Ao surgirem os pequenos, imortais, de seu leito poento, imediatamente seguirão caminho, voando, para os braços maternos. Reencontrar-se-ão, para nunca mais se separarem“ (ibid., vol. 2, pág. 260).

Outro conceito fundamental é que no céu estarão também criancinhas cujos pais não serão salvos, e que elas serão cuidadas pelos próprios anjos até atingirem a estatura necessária para se manterem sozinhas. Ellen White declara que “muitos dos pequeninos, porém, não terão mãe ali. Em vão nos pomos à escuta do arrebatador cântico de triunfo por parte da mãe. Os anjos acolherão os pequeninos sem mãe e os conduzirão para junto da árvore da vida” (ibid.). Em contraste com a fé dos pais crentes que é extensiva aos filhos em tenra idade, não existe qualquer possibilidade de os pais incrédulos protegerem seus filhos desta forma. A salvação de tais crianças é, por conseguinte, um ato exclusivo da graça de Deus, a respeito do qual não é apropriado conjecturar.

Um terceiro conceito fundamental é que “não podemos dizer se todos os filhos de pais descrentes serão salvos, porque Deus não tornou conhecido o Seu propósito a respeito desse assunto” (ibid., vol. 3, pág. 315).

(…) Portanto, entre os salvos estarão os filhos que morreram em tenra idade cujos pais se salvarão, bem como outras criancinhas cujos pais se perderão. (…)”

Bom, se for assim, e eu creio que é pelo conjunto do que a Bíblia discorre sobre a morte, a ressurreição, a justiça, o perdão, a misericórdia, a graça de Deus e o plano da salvação da humanidade como um todo, não temos o que recear.      

A Bíblia diz que Deus não terá por inocente o culpado, nem terá por culpado o inocente. Deus fará justiça na medida da justiça, pois Sua referência é o amor, o mais perfeito e absoluto amor. Reflita em Números 14: 18-19 e em Mateus 12:7 diz.      

Alguém me perguntou certa vez: “Porque teve que ter sangue e sofrimento? Hoje se a umbanda faz o mesmo é bizarro né?”

É. Bizarro e bastante questionável. Os sacrifícios na umbanda podem ser incluídos na indignação “é justo os animais pagarem?” Não. Neste caso é injusto porque é um sacrifício inútil.       

Com relação às mortes dos animais por sacrifício solicitadas por Deus, seja pelo cordeiro pascal, pelo novilho, pelo carneiro, pelo bode, pelas rolas e pombos; pelo espargir do sangue sobre o altar da oferta queimada, sobre o altar do incenso, para o véu ou sobre a arca; pelos ensinos de mediação do sacerdote, tudo seguiu o mesmo objetivo dado a Adão: ensinar aos israelitas sobre a vinda do Messias Salvador e a verdade de que Deus morreria por eles. O sistema sacrifical era o evangelho para Israel. Deus desejava que Israel aprendesse que o perdão do pecado pode ser obtido unicamente pela confissão e intercessão do sangue. O perdão do pecado significava mais do que passar por alto faltas.  

No sistema sacrifical se encerram os princípios fundamentais do amor e justiça. E estes encontram seu pleno cumprimento em Cristo. Por não compreenderem estas lições fundamentais alguns são incapazes de compreender a morte substituta de Deus e Sua graça.      

O Antigo Testamento é básico. Aquele que está bem firmado nele será capaz de construir uma superestrutura para compreender o Novo Testamento. E esta mensagem é para nós hoje. Perdoar custa alguma coisa; e o preço é a vida, a vida do próprio Cordeiro de Deus. Para alguns, a morte de Cristo se figura desnecessária. Deus podia, ou devia perdoar, sem o Calvário, pensam eles. A cruz não se lhes apresenta como parte integrante e vital da obra da expiação. Não pensem que as mortes daqueles animaizinhos foram despercebidas por Deus. O perdão não é um simples fato. Custa alguma coisa. Mediante o sistema cerimonial Deus ensinou a Israel que ele pode ser obtido unicamente pelo derramamento de sangue. A morte de Jesus é, para nós hoje, a nossa lição de aprendizado.      

Sim, tinha que haver sangue porque é no sangue que há a vida. Com a morte de Cristo o cerimonial com os animais foi abolido, afinal, o Messias Prometido havia nascido e morrido por toda a humanidade. O Cordeiro de Deus foi sacrificado e Deus foi fiel a Sua promessa a Adão. Uma grande esperança nos anima quando aceitamos crer que um dia Deus colocará ordem no mundo. “Eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.” (Apocalipse 22:12 ).

Disse Basdassare Castiglione: “Perdoando demasiadamente aos que cometem faltas, fazemos uma injustiça contra os que não as cometem.” E eu complementaria…

Faria Deus uma injustiça aos que decidem segui-LO se Ele não interviesse na maldade humana. Mas, Deus não é injusto, então…       Pense no amor de Deus quando vir Seus atos de justiça.         

Ruth Alencar

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