A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo

Este é um livro que todo adventista deve ler, reler e ler novamente. Imprescindível em sua biblioteca. Recomendamos fortemente!Não é caro pela riqueza de compreensão que ele lhe trará. Aqui colocaremos só alguns trechos.

“Eu estava tendo uma vida ruim! Tudo que eu queria estava fora do adventismo e do cristianismo. Meu único desejo era voltar ao hedonismo que aproveitara durante a minha juventude. […]”  

Fiquei seis anos sem ler a Bíblia, seis anos sem orar, seis anos vagueando espiritualmente…  

Durante esses longos anos estudei filosofia em meu doutorado. Mas, na ocasião em que recebi diploma, eu já havia chegado à conclusão de que a filosofia falhava em responder às questões mais básicas da vida. Esse processo foi muito importante, pois iniciei meus estudos com a esperança de encontrar o ‘real sentido’ da vida que tinha sido frustrada em minha experiência com o adventismo.  

[…] meu orientador, um agnóstico existencialista de ascendência judaica disse que se não fosse judeu não seria ninguém. Essa declaração, vinda de um homem que rotineiramente espezinha a religião em sala de aula, apanhou-me de surpresa.  

[…] Josh me ajudou a enxergar o que eu deveria ter descoberto em Mateus 13 a respeito do joio e do trigo existentes em cada comunidade religiosa até o dia da colheita. Ele me ajudou a entender que todas as comunidades religiosas são formadas por duas classes de membros os fiéis e os adeptos culturais. […] Sua orientação religiosa era sua vida, mesmo não sendo um ‘fiel. Tratava-se de sua história sua cultura, seu convívio social, Josh de amava e respeitava sua comunidade religiosa por todas essas razões.  

[…]

Meu primeiro professor de religião foi ‘convidado’ para almoçar em minha casa. A ideia não foi minha, mas não tive como escapar. […] Ele, no entanto, não me deu sermão, nem conselhos, nem advertências. Simplesmente revelou uma atmosfera de serena confiança em sua fé e me tratou com bondade e amor. Naquele dia, encontrei Jesus na pessoa de Robert W Olson. Assim que foi embora falei para minha esposa que aquele homem tinha o que eu precisava.

[…] A partir daquele momento, passei a ser espiritualmente ativo no adventismo novamente. Não voltei porque a teologia adventista era perfeita, mas porque sua teologia era mais próxima da Bíblia do que de qualquer outra igreja que eu conhecia. Em resumo, fui e sou adventista por convicção, e não por escolha.  

[…] Para ter qualquer valor, nosso adventismo deve estar imerso no cristianismo. Sem esta imersão, o adventismo não é melhor do que qualquer outro ‘ismo’ ilusório.

[…] Para ter qualquer valor, nosso adventismo deve estar imerso no cristianismo. Sem esta imersão, o adventismo não é melhor do que qualquer outro ‘ismo’ ilusório.  

[…] minha mente vagueia em direções estranhas. Mas a conclusão de minha jornada deixou-me em três perguntas inevitáveis que têm conduzido minha vida existencial e intelectualmente.  

• Qual o sentido da vida pessoal e no contexto do Universo?  

• Por que ser cristão?  

• Por que esse adventista do sétimo dia?”

Adventistas ou Meramente evangélicos? 

[…] se o adventismo perder sua visão Apocalíptica, perderá a razão de sua existência como igreja e como sistema educacional.  

[…] Apesar das instituições adventistas serem boas instituições ninguém pode afirmar que sejam necessárias. Há diferença entre ser uma boa escola e afirmar que sejam necessárias e ter uma importância que a distingue como instituição.

[…]   Qual é a razão da existência da Igreja Adventista do Sétimo Dia? Qual é sua função ou utilidade? É ela importante ou mesmo necessária ? Será meramente mais outra denominação, apenas um pouco diferente das demais por ‘não abrir mão’ do Sétimo Dia, de certas questões ligadas a dieta alimentar?  

Essas perguntas trazem à tona temas complexos relacionados à natureza do adventismo e ao equilíbrio adequado entre esses aspectos e o sistema de crenças que nos torna cristãos, aquele que nos torna adventistas e como tudo isso se encaixa. […]  

[…] a luta por um adventismo equilibrado esteve no centro do desenvolvimento histórico da teologia adventista. Ao longo do tempo, temos oscilado entre enfatizar com exagero os aspectos de nosso sistema de crenças que nos tornam iguais a Cristo e aqueles que nos distinguem como adventistas. Temos hoje na igreja o que chamo de adventistas adventistas, aqueles que encaram tudo o que a denominação ensina como algo unicamente adventista e ficam irritados quando somos chamados de evangélicos. No outro extremo estão os adventistas que podemos chamar de cristãos cristãos. As pessoas nesse polo da denominação ficam felizes em ser consideradas evangélicas e esquivam-se de Ellen White, das implicações escatológicas do Sábado, do Santuário Celestial, e assim por diante. No centro, felizmente, estão aqueles que podemos designar como adventistas cristãos, cujo adventismo encontra significado na estrutura evangélica que partilhamos com outros cristãos.

Em outras palavras, houve um tempo em que Ellen White observou que alguns adventistas estavam tão centrados na lei que haviam se tornado áridos como os montes de Gilboa. Hoje talvez ela dissesse algo semelhante sobre aqueles que estão tão focados na graça e perdem de vista a lei. Equilíbrio é o objetivo, mas evidentemente isso é algo difícil de ser atingido e quase impossível de ser mantido em um mundo desequilibrado. Isso não quer dizer, porém, que não devemos procurar aproximar esses dois extremos em nosso ministério.”

O Jesus Problemático 

“[…] eu gostaria de apontar a verdade óbvia de que Jesus de Nazaré não foi politicamente correto em Suas declarações. Além de afirmar que existia uma verdade e que Ele tinha a verdade, declarou também que Ele era a verdade o caminho e a vida e que ninguém poderia ir ao Pai senão por Ele. (João 14:6).

Jesus defendeu algo. […]

Como alguém que aberta e rigorosamente defendia, Jesus não se encaixaria muito bem na cultura do século 21(incluindo muitas de nossas igrejas). Chamar pessoas, especialmente líderes religiosos e intelectuais respeitados, de hipócritas e de sepulcros caiados repletos de ossos certamente não é nada aceitável hoje em dia. […]

Jesus também sofreu do que podemos chamar de ‘arrogância santificada’. Cria tanto em Si mesmo e em Sua mensagem politicamente incorreta que comissionou doze homens relativamente não instruídos a disseminá-la ao mundo inteiro. Essa ordem abala qualquer imaginação. […]. Eles conseguiram.

[…], ninguém faz este tipo de coisa se não estiver plenamente convicto. Ninguém entrega a vida e os bens materiais sem estar certo de que possui a verdade. Se Jesus tivesse sido politicamente correto e não possuísse arrogância santificada, o cristianismo teria durado alguns anos como uma seita judaica local e logo se reintegrado às crenças do Oriente Próximo.

Em seus primeiros anos, o adventismo sofreu profundamente dos mesmos ‘defeitos culturais’ de Jesus. Cria que possuía a verdade ou a verdade presente para a época. Apesar de poucos adeptos, passou a acreditar que tinha uma missão que englobava o mundo inteiro.

Logo no início do século 20, as principais denominações protestantes, ao perceberem a imensidão do campo missionário, decidiram dividir certas áreas do mundo entre os anglicanos, metodistas, presbiterianos, e assim por diante. Mas os adventistas não quiseram fazer parte dessa abordagem, por mais sensata que pudesse parecer. Rejeitaram a lógica e reivindicaram o mundo inteiro como sua esfera de ação e influência. Apesar de poucos, tinham ideias ousadas. Por quê? Porque eram impulsionados pela visão apocalíptica que provinha diretamente do centro do livro de Apocalipse e acreditavam que o mundo inteiro precisava conhecê-la. Os adventistas comunicaram às outras denominações que não poderiam dividir o trabalho, mas que enxergava cada nação como seu campo missionário.

Isso é arrogância santificada! E eles conseguiram. Através da dedicação de muitas pessoas e com muito sacrifício, o adventismo tornou-se o grupo protestante unificado mais amplamente disseminado da história do cristianismo. Esse sucesso foi alcançado devido à força e ao apoio que recebeu de compreensões politicamente incorretas a respeito da verdade e da arrogância santificada que refletiu na deficiência de outros ramos do cristianismo e na importância da mensagem divina do tempo do fim.

[…] por que qualquer um de nós deveria arriscar a vida por uma causa? Por que dedicar a vida a ela? Por que os primeiros adventistas sacrificaram seus recursos e a família para cumprir uma missão? Unicamente devido à profunda convicção de que tinham uma mensagem provinda diretamente do centro do livro de Apocalipse e que o mundo inteiro precisava ouvi-la antes de Jesus voltar nas nuvens do céu.”  

Introdução à Esterilização 

“[…] Ricos e munidos de concepções politicamente corretas, perdemos a arrogância santificada que no passado nos levou a crer que possuíamos uma mensagem que o mundo inteiro tinha que ouvir.

[…] Parte do problema é que o adventismo perdeu, em grande escala, a base apocalíptica de sua mensagem. […]

[…] no momento em que a igreja se torna politicamente correta em todas as suas reivindicações e perde a quantidade adequada de arrogância santificada em relação à sua mensagem e missão, torna-se estéril, mesmo que continue a vangloriar-se de sua potência.

[…] O melhor exemplo de esterilização religiosa no mundo moderno é o liberalismo protestante, que na década de 1920, renunciou às ideias ‘primitivas’ do cristianismo, como a imaculada conceição, a ressurreição de Cristo, o sacrifício expiatório, os milagres, o segundo advento, criacionismo e, claro a inspiração divina da Bíblia, no sentido de que suas informações ultrapassam o entendimento humano e, por isso, foram obtidas por meio da revelação divina.

A razão humana apresentou-se como a fonte do conhecimento, a doutrina tornou-se irrelevante, se não desagradável, e Jesus, de Salvador que morreu em nosso lugar, passou a ser visto como uma pessoa excepcionalmente boa, um exemplo digno de ser imitado. No processo, o cristianismo deslocou-se consideravelmente do campo da religião para o da ética.

Diante dessas façanhas do intelecto humano, o liberalismo protestante eficazmente perdeu a mensagem cristã distintiva que possuía. […] ele se auto esterilizou.

O resultado final foi a redução de milhões de membros das principais denominações protestantes norte-americanas. […]

Além da redução, a idade média dos membros aumentou e consequentemente, o ânimo despencou. A revista Newsweek reportou, de forma branda, que ‘as principais denominações talvez estejam morrendo devido à perda de sua integridade teológica’. Stanley Hauerwas, professor na Duke Divinity School, demonstrou a mesma coisa de maneira mais clara ao afirmar: ‘Deus está matando as principais denominações protestantes da América e nós merecemos’.

[…]

Na obra The Churching of América, 1776 – 1990: Winners and Losers in Ours Religions Economy [ A Igreja da América, 1776 – 1990: Ganhadores e Perdedores em Nossa Economia Religiosa] Roger Finke e Rodney Stark discorrem sobre a tese ultrajante de que ‘as organizações religiosas são mais fortes de acordo com a imposição de cobranças significativas em termos de sacrifício e até mesmo do estigma lançado sobre os membros. […]. As pessoas tendem a valorizar a religião de acordo com o quanto lhes custa para pertencer àquele grupo – quanto maior é o sacrifício a fim de obter uma boa posição, maior valor atribui à religião’.

Além dessas obras, há também aquela que ė considerada a originadora da morte vagarosa do liberalismo: Why Conservative Churches Are Growing [Por que as Igrejas Conservadoras Estão Crescendo], de Dean Kelley. O autor (Metodista) demonstra-se muito sincero em suas respostas. Em síntese, as igrejas conservadoras estão crescendo porque representam algo. De acordo com Kelley, se alguém decide se unir a uma igreja é porque essa igreja representa uma verdade especial e sabe disso. Ou seja, as pessoas estão em busca de uma igreja que esteja acima da cultura, que seja arrogante o suficiente para crer que há erro e verdade e que ela possui a verdade.

Se não há uma verdade especial, por que se unir à Igreja? […] Sem encontrar razão suficiente para permanecer, grande número de pessoas encontrou sentido em sua vida e deixando as principais denominações. O mesmo pode ser dito hoje de muitos adventistas.

A palavra chave para o protestantismo liberal na década de 1960 foi a ‘relevância’. As denominações protestantes procuraram ser relevantes para a cultura em que estavam inseridas. O que provaram, no entanto, foi que o atalho para irrelevância é a mera relevância. Afinal, quem precisa obter mais daquilo que pode ser encontrado na cultura predominante?

Não há nada de errado em ser relevante do ponto de vista bíblico, mas a mera relevância é o caminho para se aculturar ou ser absorvido pela cultura predominante. O cristianismo saudável deve, por necessidade, estar acima da cultura predominante e se apegar às verdades que a cultura julga detestáveis. Talvez o documento contracultural mais conhecido da história seja o Sermão do Monte. O sistema de valores apresentado por ele difere radicalmente daquele adotado pelo mundo e pela maioria das igrejas.  

[…] a relevância não é a resposta. Como cristãos, não devem nos defender apenas a verdade, mas também aquilo que é importante para o tempo em que vivemos. É justamente nesse ponto que o adventismo pode contribuir. O adventismo fortaleceu-se ao proclamar que possuía uma mensagem profética para o nosso tempo. É exatamente essa mensagem remodelada para o século 21 que fortalecerá o adventismo no presente do futuro.

Por outro lado, se descobrimos que o adventismo não possui algum único e valioso para oferecer, devemos ser honestos desarmar ao acampamento e encontrar algo útil pra fazer na vida. O adventismo não pode escapar do dilema entre ser significativo ou ser estéril. Não tem como ser os dois.

A Esterilização do Adventismo 

[…] O adventismo moderno, queira ou não, está firmemente enraizado nas visões apocalípticas de Daniel e de Apocalipse. Ao olhar para esses dois livros bíblicos, vejo no mínimo três maneiras em que o adventismo pode se autoesterilizar. Acredite ou não, nós adventistas encontramos todos os três.  

A primeira é a “pregação apocalíptica da besta”. Temos nos demorado demais nesse ângulo da visão apocalíptica. […] As bestas e os períodos proféticos têm seu lugar, mas o exagero até mesmo de algo bom pode se tornar desagradável. E muito fácil para nós adventistas ater-nos aos detalhes da visão apocalíptica e esquecer-nos dAquele que é a razão da profecia.

Ellen White foi ao centro da questão ao escrever: “O sacrifício de Cristo como expiação pelo pecado é a grande verdade em torno da qual se agrupam as outras. A fim de ser devidamente compreendida e apreciada, toda verdade da Palavra de Deus, de Gênesis a Apocalipse, precisa ser estudada à luz que dimana da cruz do Calvário. Apresento-lhes o grande, magno monumento de misericórdia e regeneração, salvação e redenção – o Filho de Deus erguido na cruz. Este tem de ser o fundamento de todo discurso feito por nossos pastores.”  

Devo admitir que também já contribuí para a “pregação apocalíptica da besta”, mas logo aprendi que, se não pudesse firmar genuinamente minha mensagem no amor de Deus e na cruz de Cristo, não transmitiria uma mensagem cristã. Sem essa integração tão importante, não passaria de mera “pregação apocalíptica da besta”, por mais correto e verídico que fosse o assunto. Precisamos notar que tanto a cruz de Cristo quanto o amor de Deus são contraculturais diante de um mundo que defende o “eu” e o “lucro”. […]  

[…] O papel do evangelismo é exatamente o contrário. É levar as pessoas a não se adaptarem a uma cultura que foi julgada pela cruz e encontrada em falta; a não se adaptarem a uma cultura que chama a violência e o sexo ilícito de diversão; a não se adaptarem a uma cultura que paga milhões de dólares aos jogadores de futebol, mas permite que os professores de ensino fundamental ganhem um salário que mal dá para sustentar a família.

[…] Admitamos: o cristianismo é uma religião anormal. Deus deseja que sejamos anormais segundo os parâmetros do mundo. Ao pensarmos na centralidade de Cristo e Sua vida, morte e ressurreição, não precisamos evitar a visão apocalíptica. Ao contrário, Cristo é a coluna central dos eventos proféticos de Daniel e Apocalipse. No livro de Apocalipse, por exemplo:  

• Ele é o Alfa e o Omega, Aquele que venceu a morte e detém as chaves da morte e do inferno (Ap 1:18).  

• Nos capítulos 1 a 3, Ele é o Senhor da igreja e caminha entre os candeeiros.

• Nos capítulos 4 e 5, Ele é o Cordeiro achado digno por ter derramado Seu sangue para resgatar os seres humanos. Ele é o Leão da tribo de Judá.  

• Em Apocalipse 6, Ele é o Cordeiro que abre os sete selos.  

• No capítulo 12, Ele é o Bebê que Se tornou o Cordeiro que venceu o dragão por meio de Seu sangue.  

• O capítulo 14 retrata-0 como Aquele que vem nas nuvens do céu para ceifar a colheita.  

• E, no capítulo 19, Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores montado em um cavalo branco para trazer salvação aos Seus seguidores.  

Em resumo, […] a primeira maneira de esterilizar ou castrar o adventismo no Apocalipse é por meio da pregação apocalíptica da besta – a pregação que falha em colocar Cristo e o amor de Deus no centro da mensagem. […] precisamos manter sempre em mente que a pregação bíblica não é o evangelho versus a visão apocalíptica, mas sim o evangelho e a visão apocalíptica. A visão apocalíptica, corretamente compreendida, é o evangelho. No entanto, precisamos buscar o equilíbrio adequado até mesmo no evangelho. Sem equilíbrio, teremos a pregação apocalíptica da besta.  

A segunda e a terceira maneiras em que os adventistas podem esterilizar sua mensagem estão relacionadas a Cristo, que está no-centro do Apocalipse de João. […]   

[…] a segunda maneira em que os adventistas podem esterilizar sua mensagem – removendo as características do Cordeiro.   Observe as características do Cordeiro descritas em Apocalipse 5:  

• O verso 6 descreve-0 como tendo sido morto.  

• O verso 9 dignifica o Cordeiro como Aquele que foi morto c que com Seu sangue resgatou a muitos.  

• O verso 12 proclama que ELe é digno de receber toda honra e glória, pois foi morto.  

[…]      

O sacrifício é central tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. No Antigo Testamento, encontramos o Cordeiro pascal, o cordeiro do sacrifício diário e os cordeiros e outros animais sacrificados pelos pecados individuais. Todos eles morreram no lugar dos pecadores.  

O Novo Testamento apresenta essa mesma figura na ocasião em que João Batista proclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1:29). Paulo afirmou aos gálatas que “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-Se Ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro)” (G1 3:13). […] A descrição que Paulo faz do evangelho enfatiza o fato de que “Cristo morreu pelos nossos pecados” (ICo 15:3; ver Is 53:5).  

[…] Paulo também observou que a doutrina do Cordeiro imolado é o aspecto que mais distingue o cristianismo. Trata-se de escândalo para os judeus e loucura para os gentios (ICo 1:23, 18).  

[…] a mensagem da morte expiatória de Cristo na cruz não é lógica. No mínimo, soa uma grande loucura proclamar que o melhor ser humano morreu para que um bando de criminosos e rebeldes pudesse ganhar aquilo que não merecem (isto é, graça). […]  

[…]  Apocalipse […] revela que unicamente pelo derramamento do sangue de Cristo na cruz em nosso lugar foi que Ele Se tornou vitorioso. George Eldon Ladd coloca da seguinte forma: “A dignidade [de Cristo] não se baseia em especial em Sua divindade, Seu relacionamento com Deus, Sua encarnação ou Sua vida humana imaculada, mas sim em Sua morte expiatória.” Em resumo, o Cordeiro conquistou a vitória por meio de Seu sacrifício.  

O sacrifício do Cordeiro em nosso lugar é o elemento singular do cristianismo. Ellen White salienta que “o princípio de que o homem se pode salvar por suas próprias obras […] jaz à base de toda religião pagã”. […]  

[…] Se retirarmos de cena o Cordeiro que foi morto em nosso lugar, restarão apenas os princípios da ética.  

Não tenho nada contra os princípios da ética e da vida correta, mas sem o Cordeiro imolado não há esperança. Em outras palavras, a ética sem a obra salvadora de Cristo por nós é igual à morte. Foi justamente nesse ponto que os liberais da década de 1920 se desviaram do foco. Eles esterilizaram o Cordeiro e, no processo, se autoesterilizaram. No centro do Apocalipse de João encontra-se o Cordeiro imolado ou morto.  

Isso nos leva ao Leão da tribo de Judá e à terceira maneira pela qual nos adventistas podemos esterilizar nossa mensagem. Porém, antes de prosseguir, precisamos analisar a relação entre o símbolo do Cordeiro e o símbolo do Leão no livro de Apocalipse. Além de o fato de ambos se referirem a Cristo, o ponto mais importante que os une é a violência. Em Apocalipse, ambos são símbolos violentos: o Cordeiro porque foi morto e o Leão por suas atitudes. Encontramos a violência do símbolo do Cordeiro e do Leão unida numa frase improvável: a “ira do Cordeiro” (Ap 6:16). Quem já ouviu falar de um cordeiro irado?  

Ira! Aqui está uma palavra desagradável que, unida à violência, torna-se politicamente incorreta e deixa todos os bons adventistas um pouco nervosos. Pessoalmente, tento evitar essa palavra por duas décadas. Mas a triste verdade é que o fato de nos livrarmos da pregação apocalíptica da besta não significa que poderemos nos livrar de todos os temas difíceis da Bíblia.  

A ira é um tema impossível de ser ignorado. Pode ser impopular na opinião de alguns teólogos, mas é muito popular na visão de Deus. A quantidade de referências bíblicas à ira de Deus ultrapassa a casa de 580, e o Apocalipse de João não fica atrás nessa questão. Os estudiosos têm gastado tonéis de tinta para tentar explicar a ira de Deus, mas, no fim das contas, o Leão da tribo de Judá atuará para erradicar o problema do pecado.  

Não nos confundamos. A ira de Deus não pode ser comparada à ira humana. Ao contrário, a ira de Deus é uma função de Seu amor. Deus odeia o pecado que continua a destruir a vida e a felicidade de Suas criaturas. Ele está farto de ver bebês ceifados pela morte, o sofrimento causado pelo câncer, pela deficiência visual e tantas outras enfermidades; estupro, assassinato e roubo; holocaustos, Rwandas e Iraques.  

No tempo determinado, Deus responderá às pessoas que clamam diante do altar: “Até quando, ó Soberano Senhor”, esperaremos para que coloques um fim à bagunça que chamamos de história do mundo (Ap 6:10)? Como afirma W. L. Walker, “a ira [dc Deus] apenas entra em ação porque Deus é amor, e porque o pecado machuca Seus filhos e se opõe ao propósito de Seu amor”.14 Alan Richardson enfatiza que “apenas certa classe de teologia protestante degenerada tem tentado contrastar a ira de Deus com a misericórdia de Cristo”.  

Deus, conforme retratado na Bíblia, não pode e não irá assistir para sempre ao sofrimento de Suas criaturas. Sua reação é o julgamento do pecado que está destruindo Seu povo. Devemos entender esse julgamento como o sentido real da ira bíblica. Deus condena o pecado em Seu julgamento e, por fim, irá erradicá-lo completamente.  

É justamente nesse momento que a ira do Cordeiro entra em cena. É nesse momento que, segundo Apocalipse 19, o Leão da tribo de Judá aparece, vindo do céu montando em um cavalo branco para pôr fim ao problema do pecado e à miséria causada por ele.  

O fato é que, se tivermos apenas o Cordeiro de Deus, teremos apenas metade do evangelho. O Cordeiro foi imolado, mas os filhos de Deus continuam a sofrer. O auge da obra do Cordeiro é Sua função como Leão da tribo de Judá no fim dos tempos. Por isso, o Apocalipse refere-se à ira do Cordeiro.  

A visão apocalíptica mostra o fim do pecado e um novo céu e uma nova Terra. A visão apocalíptica é a razão da existência do adventismo. Se a pregação do cristianismo é o Cordeiro imolado, a pregação do adventismo é o Leão da tribo de Judá: O adventismo sem o Leão é um adventismo estéril, assim como o cristianismo sem o Cordeiro imolado é um cristianismo estéril.

Como adventistas do sétimo dia, Deus não nos chama para sermos profetas da respeitabilidade, mas proclamadores da mensagem do Leão e do Cordeiro.  

Essa é uma mensagem muito séria, juntamente com ela, aparece outra palavra impopular: temor. “Temei a Deus e dai-Lhe glória”, lemos em Apocalipse 14:7, “pois é chegada a hora do Seu juízo”.  

Que coisa horrível de se dizer a respeito de Deus! Afinal, anunciar que as pessoas devem “temer a Deus’’ é algo politicamente incorreto em pleno século 21. “Certamente”, pode alguém dizer, “temor significa respeito ou reverência a Deus.”        

O Chamado ao Despertamento de Apocalipse  

“O Apocalipse de João é o chamado ao despertamento do mundo em geral e dos adventistas em particular.  

O Apocalipse de João é o chamado para abandonar as atitudes casuais e despreocupadas em relação a Deus e às questões que envolvem o grande conflito e para começarmos a nos preocupar com as questões reais do mundo em que vivemos.  

Não há dúvida disso, mas essa palavra também significa temor no sentido de ter medo dAquele que não tolerará para sempre as atitudes pecaminosas que continuam a destruir Seus filhos. Significa medo para aqueles que dirão “aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face dAquele que Se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande dia da ira dEles; e quem é que pode suster-se?” (Ap 6:16, 17).  

Quem sabe nosso real problema em relação ao temor a Deus seja que muitos cristãos tenham esterilizado o conceito bíblico do pecado. Esquecemos as declarações estrondosas de Paulo, que diz: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3:23) e “o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23). A compreensão estéril do pecado leva à esterilização do Cordeiro e do Leão. Se somarmos tudo isso, obteremos a esterilização da importância da pregação e da religião.

Desperdiçamos tempo demais tentando tornar Deus um cavalheiro do século 21 […].  

[…]  

C. S. Lewis retrata muito bem a questão ao sugerir que o que a maioria das pessoas quer “não é um pai no Céu, mas um avô no Céu”, uma espécie de “benevolência senil”. O Apocalipse de João é um julgamento de tais pensamentos.  

O Apocalipse de João é o julgamento da mentalidade pós-moderna, que evita qualquer certeza a respeito da verdade religiosa e procura em seu lugar uma espiritualidade nebulosa.  

O Apocalipse de João fala a respeito de um novo céu e uma nova Terra.

O Apocalipse de João fala a respeito do Cordeiro e do Leão.

O Apocalipse de João é um chamado para os adventistas se despertarem não apenas para a beleza desse último livro da Bíblia, mas também para (1) seu poder e força e (2) sua mensagem para nossos dias.

Que Deus nos ajude a responder à mensagem do livro que fez de nós um povo vibrante! Nós temos a mensagem sobre o Leão e o Cordeiro e estamos correndo o perigo de distorcê-la e perdê-la.

O chamado é para abandonarmos a pregação apocalíptica da besta e outras formas de esterilizar a visão apocalíptica e prosseguirmos para um estudo renovado dessa visão em relação ao adventismo e ao mundo do século 21.

Continua…

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