O que é Apologética?

Por Bruno Ribeiro Nascimento   

Professor Substituto de Comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Professor no SENAC

Etimologicamente, a palavra apologética vem do grego apologia, que significa defesa no contexto de um tribunal de julgamento. Era uma resposta formal que a pessoa acusada dava diante de um magistrado (como as de Paulo no final do livro de Atos) ou uma defesa por escrito. Mas os cristãos fizeram um acréscimo importante a essa ideia: em 1 Pedro 3:15, o apóstolo recomenda a “CADA UM que pedir a razão da sua fé”, isto é, os cristãos devem estar racionalmente preparados para dar respostas adequadas, em ambientes formais ou informais, em qualquer ocasião, a quem pedir razões da esperança cristã. Nas narrativas do livro de Atos, isso é algo constante: os apóstolos, do começo ao fim, sempre apresentam razões a fim de justificar suas crenças (cumprimento de profecias, ressurreição de Jesus, fatos ocorridos em Jerusalém etc.). Assim, no contexto do cristianismo, a apologética cristã implica em fazer uma defesa em favor da verdade da fé cristã. Ela confere integridade e profundidade intelectual ao Evangelho, assegurando que o cristianismo atinja o homem todo, isto é, tanto a mente quanto o coração das pessoas (veja Mateus 22:37-38).

Qual a importância da Apologética?


Quem acompanha de perto a apologética sabe que existe uma série de motivos para estudar racionalmente as bases da fé. Vou colocar cinco motivos abaixo que demonstram sua importância:

1 – Porque a Bíblia manda

O maior dos mandamentos diz: “Ame o Senhor, o seu Deus, […] de todo o seu entendimento [nous]” (Mateus 22:37, NVI). A palavra grega utilizada por Lucas, nous, é a palavra mais intelectualizada do vocabulário grego. Quer dizer, literalmente, com o máximo da sua inteligência, da sua razão! Apologética é uma forma de adoração ao Deus que nos dotou com o raciocínio por um bom motivo. De acordo com a Bíblia, é a razão que nos faz diferentes dos animais: “Não sejam como o cavalo ou o burro, que não têm entendimento” (Salmo 32:9, NVI). Poderíamos citar várias passagens bíblicas que atribuem à razão um papel importante na vida. Ainda que não tivéssemos nenhuma necessidade de defender racionalmente nossa fé, ainda que não existisse incrédulos, ainda assim ela seria necessária porque Deus pede para adorá-Lo e amá-Lo com o máximo da nossa inteligência! Esse foi um mandamento que os cristãos sempre obedeceram: Lucas, Paulo, Pedro, Papias, Justino, Atenágoras, Anselmo, e assim por diante. Recentemente é que as pessoas passaram a fazer pouco caso desse grande mandamento.

2 – Por causa da cultura  

O Evangelho nunca é ouvido no vácuo. Ele sempre é recebido com o pano de fundo da cultura. Se nós não mostrarmos que o Evangelho é intelectualmente viável, nosso perigo é virar o que é hoje a Europa: igrejas se tornando peças de museu (literalmente), pessoas cada vez menos enxergando a pouca relevância do Evangelho em suas vidas, secularismo em alta etc. Muito disso porque o Iluminismo conseguiu ser muito ‘feliz’ ao espalhar as ‘más novas’ de que Deus é irrelevante, religião é o ópio do povo, a Bíblia é um conjunto de mitos, Jesus não existiu e se existiu não fez as coisas descritas nos Evangelhos etc. Que sentido faz participar de uma religião que cultua uma pessoa que nunca existiu? Que acreditam num relato de criação plenamente refutado pela ciência? As pessoas não escutam o Evangelho no vácuo. Da mesma forma que para nós é estranho a ideia de alguém do Movimento Hare Krishna nos convidando para um templo, pedindo para seguir a consciência de Krishna etc., pode soar estranho para as pessoas pedir para acreditar num Deus que ressuscitou no terceiro dia depois de uma morte de cruz. A apologética garante que a voz cristã seja ouvida em um mundo cada vez mais secularizado. 


3 – Porque amadurece a fé   Nos momentos de dúvidas e angústia, a razão pode ser uma “fortaleza” utilizada pelo Espírito Santo para nós permanecermos em Cristo. Nossos sentimentos não são seguros. Muitos cristãos não se sentem perdoados ou que Deus escuta as orações. Mas a apologética serve para sabermos que “Deus é maior que nosso coração” (1 João 3:20). Sentir pode não importar muito: o cristão DEVE SABER que é perdoado em Cristo Jesus, que Deus escuta as orações, que está servindo a um Deus que, de fato, existe, morreu e ressuscitou dos mortos. Ainda que os problemas desta vida possam levar a abalar a fé de uma pessoa, a apologética ajuda a dar realidade a fé, ver que Jesus ressuscitou mesmo, é um fato, existiu e morreu e que um dia colocará fim a essa presente ordem de coisas. Ou seja, a apologética pode muito bem ser utilizada em tempos de dificuldades para dar maior senso de “realidade” à fé cristã e fazer as pessoas verem objetivamente que tudo que creem é real e não um conjunto de fábulas engenhosamente inventadas (2 Pedro 1:16).

4 – Para ajudar outras Pessoas
  Bem mais importante do que servir para o indivíduo, a apologética pode servir para os irmãos que estão em dificuldades, passando por problemas espirituais e que, por causa disso, são abalados mentalmente por uma série de dúvidas sobre a confiabilidade da Bíblia, a existência de Jesus etc. A universidade é um campo de batalha por mentes e corações. Como diz o Dr. Willian Lane Craig, é uma covardia enviar os jovens para lá desarmados, diante de professores que colocam em dúvidas questões relativas a fé – na maioria das vezes com argumentos muito ruins que, caso os universitários cristãos tivessem um mínimo conhecimento de apologética, saberiam como refutar, ou pelo menos não seriam enganados por qualquer vento de ideologia. 

5 – Por fim, por causa dos incrédulos   Mesmo que se diga: “Dificilmente um incrédulo vem a acreditar em Deus por causa de argumentos”, a experiência vem mostrando que isso é falso: o Dr. Willian Lane Craig já perdeu as contas de quantas pessoas vieram a Cristo porque ele apresentou argumentos racionais para a existência de Deus. Lee Strobel teve seus livros Em Defesa de Cristo (Vida, 2001) e Em Defesa da Fé (Vida, 2002) utilizados por várias pessoas que não acreditavam em Deus e passaram, depois de lê-los, a abraçar a fé cristã. Particularmente, eu já tive experiências muito gratificantes na Universidade Federal da Paraíba com ateus e agnósticos por causa dos argumentos racionais sobre Deus e sobre o cristianismo. Creio plenamente que o Espírito Santo pode utilizar tal saber para a glória de Deus e para a salvação dos que estão perdidos!

A Apologética é uma área de estudos apenas para um grupo seleto de pessoas?  

A apologética é um campo de estudo para todas as pessoas. O texto de 1 Pedro 3:15 diz, literalmente: estejam preparados para “CADA UM que pedir a razão da sua fé”, ou seja, QUALQUER PESSOA INDIVIDUALMENTE. É claro que, para produzir argumentos, pode ser necessário um conhecimento técnico a ponto de algumas pessoas precisarem ser profissionalmente capacitadas para tal atividade. No entanto, para trabalhar com esses argumentos que foram produzidos, qualquer pessoa pode fazê-lo. Geralmente, os filósofos são responsáveis por debater, de forma profissional; esse é o trabalho dos apologistas cristãs. No entanto, dado o contexto de um mundo pós-moderno cada vez mais informatizado, como o nosso, essas grandes questões saíram da academia e são debatidas nos pátios das escolas, nas mesas de bares, nas lanchonetes, entre outros lugares.

 Com que idade se deveria iniciar o estudo apologético?  

A apologética deveria começar logo nos primeiros anos de vida de uma criança. É interessante que, já no Antigo Testamento, o mandamento que Deus ordenou era que, se uma criança perguntasse a RAZÃO da fé dos israelitas, os pais deveriam apontar para os argumentos históricos e de testemunhas oculares que Israel presenciou a fim de explicar o porquê dos mandamentos, decretos e ordenanças. “No futuro, QUANDO O SEU FILHO LHES PERGUNTAR: ‘O que SIGNIFICAM estes preceitos, decretos e ordenanças que o Senhor, o nosso Deus, ordenou a vocês?’, VOCÊS LHE RESPONDERÃO: ‘Fomos escravos do faraó no Egito, mas o Senhor nos tirou do Egito com mão poderosa. O Senhor realizou, DIANTE DOS NOSSOS OLHOS, sinais e maravilhas grandiosas e terríveis contra o Egito e contra o faraó e toda a sua família’” (Deuteronômio 6:20-22, NVI). 


Adolescentes e jovens podem ser apologetas?  

Não só podem como devem. O mandamento é para todos os cristãos, não apenas os adultos. Boa parte dos adolescentes e jovens se interessa pelas grandes questões da vida. Faz parte da identidade deles em particular e de todos os seres humanos em geral. Hoje, grande parte dos adolescentes e jovens que se interessam por filosofia se deparam com argumentos péssimos de ateus como Richard Dawkins ou de séries como Dr. House. É interessante que, nessa fase, tenhamos adolescentes e jovens com argumentos sofisticados (muito melhor que esses) a fim de mostrar que o cristianismo é verdadeiro e razoável.


Qual a melhor forma de se ensinar apologética a adolescentes e jovens?

Disciplina é importante aqui: leitura e exposição de argumentos é algo essencial. Debate simulados é uma ideia contagiante, desde que os adolescentes e jovens tenham sido previamente preparados, leram os textos, assistiram a exposição. Senão, teremos apenas ideias do senso comum e bate-boca gratuito. É interessante também que o professor de escola ou líder de igreja que irá conduzir tal empreitada assista pequenos vídeos e documentários no YouTube, trecho de filmes, baixe, traga para a aula ou reunião, e mostre como se pode pensar criticamente sobre esses conteúdos. 

Como motivar as pessoas a se interessarem pela apologética?  

O debate é uma boa ideia. Geralmente as pessoas gostam de assistir um debate, principalmente adolescentes e jovens. O tema também é um atrativo por si só: argumentos para existência de Deus é algo que interessa a muitas pessoas. Nesse caso, a curiosidade é um grande atrativo. Por isso, o debate pode ser uma forma legal de transformar a curiosidade em algo mais produtivos, justamente para não fazer os alunos saírem com a ideia de que esse tipo de debate é chato. Na minha experiência, vejo que até pessoas que dizem não gostar do tema, costumam ficar curiosas em saber como se dará o debate.

Que sugestões você daria para se trabalhar apologética com adolescentes jovens?  

• Apresentar William Lane Craig para eles e seus vídeos curtos sobre o tema (há inúmeros no YouTube). 

• Exposição de argumentos.

• Refutação de trechos de filmes e de pequenos vídeos da internet.

• Debate simulado.

• Júri simulado formal.

Indique materiais (livros, revistas, documentários, filmes etc.) e autores que podem ser úteis para leigos no assunto:  

10 livros super importantes, na ordem de importância para esse contexto de trabalho com adolescentes e jovens:


• William Lane Craig, Em Guarda: Defenda a fé cristã com razão e precisão (Vida Nova, 2011);  

• Timothy Keller, A Fé na Era do Ceticismo: Como a razão explica Deus (Vida Nova, 2015);  

• John Lennox, Por que a Ciência não Consegue Enterrar Deus (Mundo Cristão, 2011);  

• C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples (Martins Fontes, 2009);


• Humberto Rasi e Nancy Vyhmeister (eds.), A Lógica da Fé: Respostas inteligentes para perguntas difíceis sobre nossas crenças (Casa Publicadora Brasileira, 2014);  

• Lee Strobel, Em Defesa de Cristo: Um jornalista ex-ateu investiga as provas da existência de Cristo (Vida, 2001);  

• Nancy Pearcey, Verdades Absolutas: Libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural (Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2007);  

• Alister McGrath, Apologética Cristã no Século XXI: Ciência e arte com integridade (Vida, 2008);  

• William Lane Craig, Apologética Contemporânea: A veracidade da fé cristã (Vida Nova, 2012);  

• Joe Coffey, Defenda sua fé: Pondo por terra as gigantescas questões da apologética (Vida Nova, 2012).    

Duas excelentes obras:  

• Francis Beckwith, William Lane Craig e J. P. Moreland (orgs.), Ensaios Apologéticos: Um estudo para uma cosmovisão cristã (Hagnos, 2006);    

• William Lane Craig, Filosofia e Cosmovisão Cristã (Vida Nova, 2005).     Bruno Ribeiro    

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