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Escrito por Ellen White, publicado pela Casa Publicadora Brasileira.
Profetas e Reis, Capítulo 35
Os primeiros anos do reinado de Jeoaquim foram cheios de advertências de próxima condenação. A palavra que o Senhor falara pelos profetas estava prestes a ser cumprida. O poder da Assíria, ao norte, supremo por tanto tempo, não mais devia reger as nações. O Egito ao sul, em cujo poder o rei de Judá estava inutilmente colocando a sua confiança, logo devia ser posto decididamente em xeque. Um novo poder mundial de todo inesperado — o império babilônico — estava surgindo a leste, e depressa lançando sombra sobre todas as nações.
Dentro de breves anos, o rei de Babilônia seria usado como instrumento da ira de Deus sobre o impenitente Judá. Uma e outra vez Jerusalém seria atacada e invadida pelos exércitos sitiantes de Nabucodonosor. Grupo após grupo — de início uns poucos apenas, porém mais tarde milhares e dezenas de milhares — seriam levados cativos para a terra de Sinear para ali viverem em forçado exílio. Jeoaquim, Joaquim, Zedequias — todos esses reis judeus se tornariam por seu turno vassalos do governador de Babilônia, e todos por sua vez se rebelariam. Castigos cada vez mais severos seriam infligidos à nação rebelde, até que afinal toda a terra se tornasse uma desolação; Jerusalém seria devastada e queimada com fogo, o templo que Salomão construíra seria destruído, e o reino de Judá cairia, jamais voltando a ocupar sua anterior posição entre as nações da Terra.
Aqueles tempos de mudança, tão pejados de perigos para a nação israelita, foram marcados com muitas mensagens do Céu através de Jeremias. Assim o Senhor deu aos filhos de Judá ampla oportunidade de se libertarem das embaraçantes alianças com o Egito, e evitar conflito com os príncipes de Babilônia. Aproximando-se mais o ameaçador perigo, ele ensinou o povo por meio de uma série de parábolas encenadas, esperando assim despertá-los para a noção de suas obrigações para com Deus, e também encorajá-los a se manterem cordiais para com o governo babilônico.
Com o propósito de ilustrar a importância de render implícita obediência aos reclamos de Deus, Jeremias reuniu alguns recabitas nas câmaras do templo, e pôs perante eles vinho, convidando-os a que bebessem. Como era de esperar, ele enfrentou protestos e recusa absoluta. “Não beberemos vinho”, declararam firmemente os recabitas, “porque Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos mandou, dizendo: Nunca jamais bebereis vinho, nem vós nem vossos filhos”.
“Então veio a palavra do Senhor a Jeremias, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Vai, e dize aos homens de Judá e aos moradores de Jerusalém: Porventura nunca aceitareis instrução, para ouvirdes as Minhas palavras? diz o Senhor. As palavras de Jonadabe, filho de Recabe, que ordenou a seus filhos que não bebessem vinho, foram guardadas, pois não beberam até este dia, antes ouviram o mandamento de seu pai”. Jeremias 35:6, 12-14.
Deus procurou assim criar agudo contraste entre a obediência dos recabitas e a desobediência e rebelião de Seu povo. Os recabitas haviam obedecido a ordem de seu pai, recusando-se agora a serem incitados à transgressão. Mas os homens de Judá não tinham dado ouvidos às palavras do Senhor, e estavam em consequência em vias de sofrer Seus mais severos juízos.
“A Mim, porém, que vos tenho falado a vós, madrugando e falando”, o Senhor declarou, “vós não Me ouvistes. E vos enviei todos os Meus servos os profetas, madrugando, e enviando, e dizendo: Convertei-vos agora, cada um do seu mau caminho, e fazei boas as vossas ações, e não sigais a outros deuses para servi-los, e assim ficareis na terra que vos dei a vós e a vossos pais; mas não inclinastes o vosso ouvido, nem Me obedeceste a Mim. Visto que os filhos de Jonadabe, filho de Recabe, guardaram o mandamento de seu pai, que ele lhes ordenou, mas este povo não Me obedeceu, por isso assim diz o Senhor, o Deus dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis que trarei sobre Judá, e sobre todos os moradores de Jerusalém, todo o mal que falei contra eles; pois lhes tenho falado, e não ouviram, e clamei a eles, e não responderam”. Jeremias 35:14-17.
Quando o coração dos homens é abrandado e subjugado pela influência constrangedora do Espírito Santo, darão ouvidos ao conselho; mas quando viram as costas à admoestação até que seus corações se tornem endurecidos, o Senhor lhes permite serem levados por outras influências. Recusando a verdade, aceitam a falsidade, a qual se torna um laço para a sua própria destruição.
Deus Se empenhara com Judá para que Lhe não provocasse a ira, mas não Lhe deram ouvidos. Finalmente foi pronunciada contra eles a sentença. Eles deviam ser levados cativos para Babilônia. Os caldeus iam ser usados como instrumento pelo qual Deus castigaria Seu povo desobediente. Os sofrimentos dos homens de Judá deviam estar na proporção da luz que haviam recebido e das advertências que haviam desprezado e rejeitado. Por muito tempo estivera Deus retardando Seus juízos; mas agora Ele faria cair sobre eles o Seu desprazer, como derradeiro esforço no sentido de detê-los em seu mau caminho.
Sobre a casa dos recabitas foi pronunciada uma bênção constante. O profeta declarou: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Pois que obedecestes ao mandamento de Jonadabe, vosso pai, e guardastes todos os seus mandamentos, e fizestes conforme tudo quanto vos ordenou, portanto assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Nunca faltará varão a Jonadabe, filho de Recabe, que assista perante a Minha face todos os dias”. Jeremias 35:18, 19. Assim ensinou Deus a Seu povo que a fidelidade e obediência se refletiriam sobre Judá em bênção, tal como foram os recabitas abençoados pela obediência à ordem de seu pai.
A lição é para nós. Se os requisitos de um pai bom e sábio, que usou o melhor e mais eficaz meio de garantir sua posteridade contra os males da intemperança, foram dignos de estrita obediência, sem dúvida a autoridade de Deus deve ser tida em muito maior reverência quão mais santo é Ele que o homem. Nosso Criador e Comandante, infinito em poder, terrível no juízo, procura por todos os meios levar os homens a ver seus pecados e deles se arrependerem. Por boca de Seus servos Ele predisse os perigos da desobediência; faz soar a nota de advertência, e fielmente reprova o pecado. Seu povo desfruta prosperidade unicamente por Sua misericórdia, graças ao vigilante cuidado de agentes escolhidos. Ele não pode sustentar e guardar um povo que rejeita Seu conselho e despreza Suas reprovações. Por algum tempo Ele pode conter Seus juízos retributivos; mas não pode reter sempre a Sua mão.
Os filhos de Judá foram numerados entre aqueles de quem Deus dissera: “Sereis um reino sacerdotal e o povo santo”. Êxodo 19:6. Jamais em seu ministério Jeremias perdera de vista a importância vital da santidade de coração nas variadas relações da vida, e principalmente no serviço do altíssimo Deus. Claramente ele previu a queda do reino e a disseminação dos habitantes de Judá entre as nações; mas com os olhos da fé viu além de tudo isto para os tempos da restauração. Soando em seus ouvidos estava a promessa divina: “Eu mesmo recolherei o resto das Minhas ovelhas de todas as terras para onde as tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos. […] Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará, e prosperará, e praticará o juízo e a justiça na Terra. Em seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o Seu nome, com que o nomearão: O Senhor justiça nossa”. Jeremias 23:3-6.
Assim profecias de juízo próximo foram misturadas com promessas de final e glorioso livramento. Os que escolhessem fazer paz com Deus, vivendo vida santa em meio a prevalecente apostasia, receberiam força para cada prova, e seriam capacitados para testificar dEle com forte poder. E nos séculos por vir o livramento que se havia de operar em benefício deles excederia em fama ao efetuado em favor dos filhos de Israel ao tempo do Êxodo. Aproximavam-se os dias, declarou o Senhor por intermédio do Seu profeta, em que eles não mais diriam: “Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do Egito; mas: Vive o Senhor, que fez subir, e que trouxe a geração da casa de Israel da terra do norte, e de todas as terras para onde os tinha arrojado; e habitarão na sua terra”. Jeremias 23:7, 8. Tais eram as maravilhosas profecias proferidas por Jeremias durante os anos finais da história do reino de Judá, quando Babilônia estava se tornando soberana universal, e estavam mesmo levando o cerco de seus exércitos contra os muros de Sião.
Como a mais suave música essas promessas de livramento caíram nos ouvidos dos que se mantinham firmes na adoração a Jeová. Nos lares do elevado e do humilde, onde os conselhos de um Deus que guarda o concerto eram ainda tidos em reverência, as palavras do profeta foram repetidas uma e outra vez. Mesmo as crianças foram fortemente animadas, e em suas mente jovem e receptiva foram feitas duradouras impressões.
Foi sua conscienciosa observância das ordenações da Santa Escritura, que nos dias do ministério de Jeremias proporcionou a Daniel e seus companheiros oportunidades de exaltar o verdadeiro Deus perante as nações da Terra. A instrução que essas crianças hebreias haviam recebido no lar de seus pais, as tornou fortes na fé e constantes no seu serviço ao Deus vivo, o Criador dos Céus e da Terra. Quando, logo no início do reinado de Jeoaquim, Nabucodonosor pela primeira vez sitiou e capturou Jerusalém, e transportou a Daniel e seus companheiros, juntamente com outros especialmente escolhidos para o serviço na corte de Babilônia, a fé dos cativos hebreus foi provada ao máximo. Mas os que tinham aprendido a pôr a sua confiança nas promessas de Deus verificaram que estas eram todo-suficientes em cada experiência por que foram chamados a passar durante a sua estada numa terra estranha. As Escrituras provaram-se-lhes um guia e um arrimo.
Como intérprete do significado dos juízos que começavam a cair sobre Judá, Jeremias manteve-se nobremente na defesa da justiça de Deus e de Seus misericordiosos desígnios mesmo nos mais severos castigos. Incansavelmente o profeta laborou. Desejoso de alcançar todas as classes, estendeu a esfera de sua influência além de Jerusalém para os distritos circunjacentes, graças a frequentes visitas a várias partes do reino.
Em seus testemunhos à igreja, Jeremias constantemente se referia aos ensinos do livro da lei que haviam sido tão grandemente honrados e exaltados durante o reinado de Josias. Deu ele nova ênfase à importância de manter-se uma relação de concerto com o todo-misericordioso e compassivo Ser que sobre as alturas do Sinai havia anunciado os preceitos do Decálogo. As palavras de advertência e ameaça da parte de Jeremias haviam alcançado cada parte do reino, e todos tiveram a oportunidade de conhecer a vontade de Deus concernente à nação.
O profeta tornara claro o fato de que nosso Pai celestial permite que Seus juízos caiam, “para que as nações saibam que são constituídas por meros homens”. Salmos 9:20. “Se andares contrariamente para comigo, e não Me quiserdes ouvir”, o Senhor prevenira a Seu povo, “Eu […] vos espalharei entre as nações, e desembainharei a espada atrás de vós; e a vossa terra será assolada, e as vossas cidades serão desertas”. Levítico 26:21, 28, 33.
Nesse mesmo tempo mensagens de juízo impendente foram levadas a príncipes e povo, e a seu governante Jeoaquim, que devia ter sido um líder espiritual sábio, o primeiro na confissão dos pecados e em reforma e boas obras, estava gastando o seu tempo em prazeres egoístas. “Edificarei para mim uma casa espaçosa”, ele se propôs; e esta casa, “forrada de cedro e pintada de vermelhão” (Jeremias 22:14), foi construída com dinheiro e trabalho obtidos pela fraude e opressão.
A ira do profeta foi despertada, e ele foi inspirado a pronunciar juízo sobre o governante sem fé. “Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça, e os seus aposentos sem direito”, ele declarou, “que se serve do serviço do seu próximo sem paga, e não lhe dá o salário do seu trabalho. […] Reinarás tu, porque te encerras em cedro? acaso teu pai não comeu e bebeu, e não exerceu o juízo e a justiça? por isso lhe sucedeu bem? Julgou a causa do pobre e do necessitado; então lhe sucedeu bem; porventura não é isto conhecer-Me? diz o Senhor. Mas os teus olhos e o teu coração não atentam senão para a tua avareza, e para o sangue inocente, a fim de derramá-lo, e para a opressão, e para a violência, a fim de levar isso a efeito.
“Portanto assim diz o Senhor acerca de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá: Não lamentarão por ele, dizendo: Ai, irmão meu, ou, ai, minha irmã nem lamentarão por ele, dizendo: Ai, Senhor, ou, ai, Majestoso Em sepultura de jumento o sepultarão, arrastando-o e lançando-o para bem longe, fora das portas de Jerusalém”. Jeremias 22:13-19.
Dentro de poucos anos este terrível juízo recairia sobre Jeoaquim; mas antes o Senhor em Sua misericórdia informou a impenitente nação de Seu decidido propósito. No quarto ano do reinado de Jeoaquim, “falou o profeta Jeremias a todo o povo de Judá, e a todos os habitantes de Jerusalém”, ressaltando o fato de que por mais de vinte anos, “desde o ano treze de Josias […] até este dia” (Jeremias 25:2, 3), ele havia dado testemunho do desejo de Deus para salvar, mas que suas mensagens haviam sido desdenhadas. E agora a palavra do Senhor a eles era:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos: Visto que não escutastes as Minhas palavras, eis Eu enviarei, e tomarei a todas as gerações do norte, diz o Senhor, como também a Nabucodonosor, rei de Babilônia, Meu servo, e os trarei sobre esta terra, e sobre os seus moradores, e sobre todas estas nações em redor, e os destruirei totalmente, e pô-los-ei em espanto, e em assobio, e em perpétuos desertos. E farei perecer entre eles a voz de folguedo, e a voz de alegria, a voz do esposo, e a voz da esposa, o som das mós, e a luz do candeeiro. E toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; e estas nações servirão ao rei de Babilônia setenta anos”. Jeremias 25:8-11.
Embora a sentença de condenação houvesse sido claramente pronunciada, seu horrível conteúdo mal podia ser compreendido pelas multidões que ouvia. Para que impressões mais profundas pudessem ser feitas, o Senhor procurou ilustrar o significado das palavras pronunciadas. Ele ordenou que Jeremias assemelhasse a sorte da nação à libação de um copo de vinho da ira divina. Entre os primeiros a beber deste copo de ai, deviam estar “Jerusalém, e as cidades de Judá, e os seus reis”. Outros deviam partilhar do mesmo copo, a saber, “Faraó, rei do Egito, e seus servos, e seus príncipes, e todo o seu povo”, e muitas outras nações da Terra, até que o propósito de Deus houvesse sido cumprido. Jeremias 25:18, 19.
A fim de melhor ilustrar a natureza dos juízos iminentes, o profeta recebeu ordem de tomar consigo “os anciãos do povo, e os anciãos dos sacerdotes”, e ir “ao vale do filho de Hinom”, e ali, depois de recapitular a apostasia de Judá, devia fazer em pedaços “uma botija de oleiro”, e declarar em defesa de Jeová, cujo servo era ele: “Deste modo quebrarei Eu a este povo, e a esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais refazer-se”.
O profeta fez como lhe fora ordenado. Então, retornando à cidade, ele se pôs no átrio do templo, e declarou aos ouvidos do povo: “Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis que trarei sobre esta cidade, e sobre todas as suas cidades, todo o mal que pronunciei contra ela, porquanto endureceram a sua cerviz, para não ouvirem as Minhas palavras”. Jeremias 19.
As palavras do profeta, em lugar de levar à confissão e arrependimento, suscitaram a ira dos que tinham posição de autoridade, e como consequência Jeremias ficou privado de sua liberdade. Preso e posto no cepo, o profeta continuou ainda assim a transmitir as mensagens do Céu aos que lhe estavam próximo. Sua voz não podia ser silenciada pela perseguição. A palavra da verdade, declarou ele, “foi no meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou fadigado de sofrer, e não posso”. Jeremias 20:9.
Foi cerca deste tempo que o Senhor ordenou a Jeremias que escrevesse as mensagens que desejava levar àqueles por cuja salvação seu coração piedoso estava continuamente a arder. “Toma o rolo dum livro”, ordenou o Senhor a Seu servo, “e escreve nele todas as palavras que te tenho falado de Israel, e de Judá, e de todas as nações, desde o dia em que Eu te falei a ti, desde os dias de Josias até hoje. Ouvirão talvez os da casa de Judá todo o mal que Eu intento fazer-lhes; para que cada qual se converta do seu mau caminho, e Eu perdoe a sua maldade e o seu pecado”. Jeremias 36:2, 3.
Em obediência a esta ordem, Jeremias chamou em seu auxílio um fiel amigo, o escriba Baruque, e ditou-lhe “todas as palavras do Senhor, que Ele lhe tinha revelado, no rolo de um livro”. Jeremias 36:4. Estas palavras foram cuidadosamente escritas num rolo de pergaminho, e constituíam solene reprovação do pecado, uma advertência dos resultados infalíveis da constante apostasia, e um fervente apelo para renúncia a todo mal.
Quando o escrito ficou completo, Jeremias, que estava ainda prisioneiro, enviou Baruque para ler o rolo às multidões que se reuniam no templo por ocasião de um dia nacional de jejum, “no quinto ano de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá, no mês nono”. “Pode ser”, o profeta dissera, “que caia a sua súplica diante do Senhor, e se converta cada um do seu mau caminho; porque grande é a ira e o furor que o Senhor tem manifestado contra este povo”. Jeremias 36:9, 7.
Baruque obedeceu, e o rolo foi lido perante todo o povo de Judá. Posteriormente foi o escriba convocado à presença dos príncipes, a fim de ler as palavras perante eles. Eles ouviram com grande interesse, e prometeram informar o rei sobre tudo o que tinham ouvido, mas aconselharam o escriba a se esconder, pois temiam que o rei rejeitasse o testemunho, e procurasse matar os que haviam preparado e apresentado a mensagem.
Quando o rei Jeoaquim foi informado pelos príncipes do que Baruque havia lido, imediatamente ordenou que o rolo fosse trazido e lido em sua presença. Um dos assistentes reais, de nome Jeudi, trouxe o rolo, e pôs-se a ler as palavras de reprovação e advertência. Era o tempo do inverno, e o rei e seus companheiros de Estado, os príncipes de Judá, estavam reunidos junto de uma crepitante lareira. Apenas uma pequena parte havia sido lida, quando o rei, longe de tremer ante o perigo pendente sobre si e seu povo, tomou o rolo, e num frenesi de ira, cortou-o “com um canivete de escrivão, e lançou-o no fogo que havia no braseiro, até que todo o rolo se consumiu no fogo”. Jeremias 36:23.
Nem o rei nem seus príncipes temeram, “nem rasgaram os seus vestidos”. Alguns dos príncipes, entretanto, pediram “ao rei que não queimasse o rolo, mas não lhes deu ouvido”. Havendo sido destruído o escrito, a ira do ímpio rei se levantou contra Jeremias e Baruque, e prontamente os mandou prender; “mas o Senhor tinha-os escondido”. Jeremias 36:24-26.
Levando à atenção dos adoradores do templo, e dos príncipes e rei, as admoestações escritas contidas no rolo inspirado, Deus estava graciosamente procurando advertir os homens de Judá para o seu bem. “Ouvirão talvez”, disse Deus, “os da casa de Judá todo o mal que Eu intento fazer-lhes; para que cada qual se converta do seu mau caminho, e Eu perdoe a sua maldade e o seu pecado”. Jeremias 36:3. Deus Se compadece dos homens em luta na cegueira da perversidade; Ele procura iluminar a mente entenebrecida, enviando reprovações e ameaças destinadas a levar os mais exaltados a sentirem sua ignorância e deplorarem seus erros. Ele procura ajudar o indulgente consigo mesmo a se tornar insatisfeito com suas vãs realizações, e a buscar bênção espiritual por meio de íntima comunhão com o Céu.
O plano de Deus não é enviar mensageiros que lisonjeiem e adulem os pecadores; Ele não envia mensagens de paz para adormentar o não santificado em segurança carnal. Ao contrário, Ele coloca pesado fardo sobre a consciência do praticante do mal, e mortifica-lhe a alma com os aguilhões da convicção. Anjos ministradores lhe apresentam os terríveis juízos de Deus, a fim de aprofundar o senso da necessidade, levando o agonizante a clamar: “Que é necessário que eu faça para me salvar?” Atos dos Apóstolos 16:30. Mas a Mão que humilha até o pó, reprova o pecado e submete à vergonha o orgulho e a ambição, é a Mão que ergue o penitente e abatido. Com a mais profunda simpatia, Aquele que permite caia o castigo, interroga: “Que queres que Eu faça por ti?”
Quando o homem peca contra um Deus santo e misericordioso, não pode seguir mais nobre caminho que arrepender-se sinceramente, e confessar seus erros com lágrimas e amargura de alma. Isto Deus requer dele; Ele não aceita nada menos que um coração quebrantado e um espírito contrito. Mas o rei Jeoaquim e seus cortesões, em sua arrogância e orgulho, recusaram o convite de Deus. Eles não iriam aceitar a advertência e arrepender-se. A graciosa oportunidade que lhes fora ofertada quando o rolo sagrado foi lançado ao fogo, foi a última. Deus havia declarado que se então recusassem ouvir-Lhe a voz, Ele lhes daria terrível retribuição. Eles se recusaram ouvi-Lo, e Ele pronunciou Seu juízo final sobre Judá; e Ele visitaria com ira especial o homem que orgulhosamente havia-se levantado contra o Todo-poderoso.
“Assim diz o Senhor, acerca de Jeoaquim, rei de Judá: Não terá quem se assente sobre o trono de Davi, e será lançado o seu cadáver ao calor de dia, e à geada de noite. E visitarei sobre ele, e sobre a sua semente, e sobre os seus servos, a sua iniquidade; e trarei sobre ele e sobre os moradores de Jerusalém, e sobre os homens de Judá, todo aquele mal que lhes tenho falado”. Jeremias 36:30, 31.
A incineração do rolo não foi o fim da questão. As palavras escritas foram mais facilmente removidas do que a reprovação e advertência que elas continham e a iminente punição que Deus havia pronunciado contra o rebelde Israel e que estava prestes a vir. Mas até o próprio rolo escrito foi reproduzido. “Toma ainda outro rolo”, o Senhor ordenou a Seu servo, “e escreve nele todas as palavras que estavam no primeiro volume, que queimou Jeoaquim, rei de Judá.” O registro das profecias concernente a Judá e Jerusalém tinha sido reduzido a cinzas; mas as palavras estavam ainda vivas no coração de Jeremias, “como um fogo devorador”, e foi permitido ao profeta reproduzir o que a ira do homem teria de bom grado destruído.
Tomando outro rolo, Jeremias deu-o a Baruque, “o qual escreveu nele da boca de Jeremias todas as palavras do livro que Jeoaquim, rei de Judá, tinha queimado no fogo; e ainda se acrescentaram a elas muitas palavras semelhantes”. Jeremias 36:28, 32. A ira do homem tinha tentado impedir a ação do profeta de Deus; mas o próprio meio pelo qual Jeoaquim tinha procurado limitar a influência do servo de Jeová, proveu posterior oportunidade para tornar claros os divinos reclamos.
O espírito de oposição à reprovação, que levou à perseguição e aprisionamento de Jeremias, existe hoje. Muitos recusam atender a repetidas advertências, preferindo dar ouvidos a falsos mestres que lisonjeiam sua vaidade e revelam suas más obras. No dia da tribulação tais pessoas não terão refúgio certo, nem auxílio do Céu. Os servos escolhidos de Deus devem enfrentar com coragem e paciência as provas e sofrimentos que sobre eles recaem na forma de acusações, desprezo, deturpações. Devem eles continuar a desempenhar fielmente a obra que Deus lhes deu a fazer, sempre lembrando que os profetas do passado e o Salvador da humanidade e Seus apóstolos também suportaram abusos e perseguições por amor da Palavra.
Era propósito de Deus que Jeoaquim atendesse aos conselhos de Jeremias, e ganhasse o favor de Nabucodonosor, livrando-se de muitos pesares. O jovem rei havia jurado obediência ao rei de Babilônia. Tivesse ele permanecido fiel a sua promessa, e teria conquistado o respeito dos pagãos, e isto teria levado a preciosas oportunidades para a salvação de pecadores.
Desdenhando os privilégios fora do comum que lhe eram outorgados, o rei de Judá deliberadamente seguiu o caminho de sua própria escolha. Violou sua palavra de honra ao rei de Babilônia, e rebelou-se. Isto o levou, como também ao seu reino, a um caminho apertado. Contra ele foram enviadas “as tropas dos caldeus, e as tropas dos siros, e as tropas dos moabitas, e as tropas dos filhos de Amom” (2 Reis 24:2), e ele foi impotente para livrar a terra de invasão desses piratas. Dentro de poucos anos ele encerrou seu desastroso reinado em ignomínia, rejeitado do Céu, malquisto por seu povo e desprezado pelos senhores de Babilônia cuja confiança ele traíra — e tudo isto como resultado de seu erro fatal de virar as costas aos propósitos de Deus como revelados por meio de Seu escolhido mensageiro.
Joaquim (também conhecido como Jeconias, e Conias), filho de Jeoaquim, ocupou o trono apenas três meses e dez dias, quando se rendeu aos exércitos caldeus que, em virtude da rebelião do rei de Judá, estavam uma vez mais cercando a cidade condenada. Nesta ocasião, Nabucodonosor “transportou Joaquim a Babilônia; como também a mãe do rei, e as mulheres do rei, e os seus eunucos, e os poderosos da terra”, contando vários milhares, juntamente com “carpinteiros e ferreiros até mil”. Juntamente com estes o rei de Babilônia levou “todos os tesouros da casa do Senhor, e os tesouros da casa do rei”. Jeremias 24:15, 16, 13.
O reino de Judá, debilitado em poder, roubado em sua força representada por homens e tesouros, teve não obstante ainda a permissão de continuar a existir como um governo separado. Como sua cabeça Nabucodonosor colocou a Matanias, jovem filho de Josias, mudando-lhe o nome para Zedequias.
Ellen White