“Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até SETE? Jesus lhe disse: Não te digo que até SETE; mas, até SETENTA VEZES SETE.” Mateus 18:21-22
Esta é a parábolas dos ABSURDOS. Dependendo dos cálculos, 10.000 talentos pode chegar ao equivalente do PIB de 30 gerações. Respeitados os contextos, reajustes e população mundial, este valor atualizado (de acordo com a alguns comentaristas) alcançaria facilmente a casa dos “octilhões”. Esta parábola começa falando sobre um valor que não existe. E, caso existisse, certamente não teria o destino que teve nesta história. Acompanhe a sequência de absurdos do relato.
– O rei TINHA 10.000 talentos – absurdo
– O rei EMPRESTOU a um servo os 10.000 talentos – absurdo
– O servo conseguiu GASTAR os 10.000 talentos – absurdo
– O rei propôs a venda da família do servo para COMPENSAR o calote dos 10.000 talentos – absurdo
– O servo disse que se tivesse mais tempo conseguiria LEVANTAR a soma de 10.000 talentos – absurdo
– O rei PERDOOU a dívida dos 10.000 talentos – absurdo
Não há nada mais absurdo no contexto de pecado do que a graça. Quando somos incapazes de compreender suas dimensões inevitavelmente somos levados a ter conceitos errados de quem é Deus e quem somos nós. Aparentemente o servo desta parábola sofria desta mesma miopia.
O empregado viu o Rei descer do seu trono, pisar no mesmo chão que ele e lhe declarar JUSTO. Estas palavras não fizeram bem para o ambicioso serviçal, que ao ser liberto naquele dia, ao invés de multiplicar as ações do rei decidiu pegar seu CONSERVO pelo pescoço e lhe obrigar a pagar a dívida de 100 denários que constava como ativa. Um absurdo.
Interessante notar que 100 denários correspondiam ao salário de 1/3 do ano, valor aproximado dos impostos pagos pelos cidadãos aos cofres do palácio a cada exercício. Incrível! O servo saiu do palácio fazendo cobranças que cabiam apenas ao rei fazer. Ao ver o monarca supremo descer à sua realidade, a mensagem que deveria ocupar em tempo integral os lábios daquele inadimplente deveriam ser: “EU VI O REI!”. Ao invés disto, ver o dono da maior fortuna do universo nivelar-se à sua estatura o levou a declarar: “EU SOU O REI!”.
Deus continua sendo mal interpretado até os dias hoje por ter deixado seu trono e vindo a este mundo trazer o cancelamento de dívidas. Na cabeça de muitos, a encarnação de um Salvador bagunçou o conceito da graça. Servos que deveriam repensar suas atitudes maldosas se encharcam no pecado em nome do “amor incondicional” Céu. Cada ato de suas vidas inconsequentes ecoam as palavras daquele servo maldoso: “eu sou rei”. Por outro lado cativos igualmente confusos, depois de passarem pela experiência do perdão, sentem-se no direito de se tornarem cobradores do juízo e vivem apontando as dívidas ativas de quem quer que cruze pelo seu caminho. Ao seu modo, estas pessoas também dizem constantemente: “eu sou rei”. O mais interessante é que o Rei mesmo não pediu para ninguém fazer nada disto. O que o Rei esperava daquele servo, afinal?
“Você não devia ter tido MISERICÓRDIA do seu CONservo como eu tive de você?”, v. 33. Dois termos se destacam aqui:
– MISERICÓRDIA: a única função que o Rei designou nesta história foi a de exercermos benevolência, perdão e bondade. O que passar disto nos tornará “monarcas” de um reino fantasioso;
– “CON/M”: este prefixo aparece diversas vezes no texto: compaixão, conservo, companheiro, comigo, contrição. Em todas as referências há clara indicação de EQUALIZAÇÃO DE REALIDADES: mesmo sentimento, mesmo status, mesma consideração, mesmo lugar, mesma verdade. Não há como demonstrar MISERICÓRDIA se vivemos numa realidade distinta dos nossos IGUAIS. Enquanto o sentimento de que “ter visto o Rei” nos fizer sentir superiores, não teremos a menor chance de cumprir a missão que Ele nos designou. Lembre-se que você só apareceu na frente do Rei porque sua dívida era muito grande, nada mais.
O Reino de Deus já possui Rei, só precisa de súditos. Portanto, saia por aí dizendo: “eu VI o Rei!”.