Texto originalmente publicado no site Confissões Pastorais, pelo pastor Diego Barreto, Departamental de Comunicação da Associação Paulista Sul da IASD.
Talvez você nunca tenha ouvido essa expressão, mas é certo que já viu esse pensamento por ai. Infelizmente ele é muito corriqueiro no meio Adventista. A cultura popular (e não teológica) tem trazido o pensamento para muita gente de que talvez seja possível vencer o pecado aqui nesta Terra. Esse é o sentimento que fundamenta a tese de que a última geração antes da volta de Cristo não irá mais pecar a partir de um determinado ponto. Mas a Igreja Adventista do Sétimo Dia, declara-se contrária a esta teoria e tem se manifestado oficialmente contra esse tipo de crença. No entanto, ela continua crescendo entre os leigos, principalmente aqueles insatisfeitos com a religiosidade rasa de nossos dias. Infelizmente, é possível ouvir esse tipo de pensamento em púlpitos e ambientes de ensino da própria igreja. Veja bem, não é por mal. O desconhecimento da justificação pela fé é o que causa esse problema, assim como o desejo de não pecar mais. Esse desejo é legítimo, visto que aqueles que são tocados por Cristo passam a sentir aversão pelo pecado. Como Paulo em Romanos 7. Mas assim como Paulo em Romanos 7 deveríamos concluir que estamos, por enquanto, presos num corpo de morte, e que é por meio de Cristo somente que escapamos da condenação (Rom 8:1) e não pelos nossos próprios méritos.
Seguindo a lógica humana esse pensamento acorrenta-se nos mesmos grilhões do farisaísmo dos tempos de Jesus. E tende a tentar liderar uma pseudo-reforma que assume preocupações de ordem comportamental no intuito de alcançar o agrado de Deus. São as mesmas velhas correntes prendendo e cegando as gerações contemporâneas.
Enfim, há muito para ser dito sobre esse tema, mas aqui vim apenas trazer duas contribuições ao tema.
Para esclarecer a questão, e ajudar a compreendê-la, segue abaixo dois materiais elucidativos. O primeiro é um breve artigo o Dr. Angel Manuel Rodriguez, recentemente aposentado da função de Diretor Instituto de Pesquisas Bíblicas da Conferência Geral dos Adventistas (Biblical Research Institute). Ele foi traduzido gentilmente por Rafael Fersi e consta originalmente como publicação da Revista Adventista Mundial (Adventist Review).
O segundo é um vídeo do programa da TV Novo Tempo, Na Mira Da Verdade, tratando sobre o tema e demonstrando qual é a posição oficial dos Adventistas do Sétimo Dia a respeito desse tema. Confira entre os minutos 6:05s e 14:14s.
Podemos chegar ao nível da perfeição ainda nesta terra?
A teologia da última geração foi desenvolvida e popularizada na Igreja Adventista por M. L. Andreasen (The Sanctuary Service [Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn.,1937; revised 1947]). Andreasen baseou-se em conceitos de A. T. Jones e E. J. Waggoner. Esta teologia introduziu um forte elemento de legalismo em alguns setores da Igreja, afirmando que o caráter de Deus, caluniado por Satanás no conflito cósmico, seria justificado por meio de uma vida santa e perfeita obediência da última geração de crentes. Esta geração chegará a um nível no desenvolvimento de seu caráter a qual nunca houve na história cristã, reproduzindo perfeitamente em suas vidas o que Deus fez em Cristo. Quando isso acontecer, o Senhor voltará.
Esta teologia procura explicar por que o Senhor ainda não voltou e finalidade de uma natureza cristã perfeita. Ela baseia-se principalmente em uma leitura particular dos escritos Cristo e a vindicação de Deus: Na Bíblia e nos escritos de Ellen G. White a vindicação de Deus é resultado exclusivo da morte sacrifical de Cristo, Ele era o único que poderia revelar quem é Deus e portanto, justificá-lo no conflito cósmico (João 1:18). White também é muito clara: “Por Sua vida e morte, Cristo provou que a justiça de Deus não destrói a misericórdia, mas que o pecado pode ser perdoado e que a lei é justa e pode ser perfeitamente obedecida. As acusações de Satanás foram refutadas, Deus havia dado ao homem prova inequívoca de seu amor 1. O que Cristo realizou não precisa ser completado, é mais do que suficiente.
Perfeição cristã: A vontade de Deus para seu povo tem sido sempre a mesma: Vitória sobre o poder escravizador do pecado em suas vidas (Rom. 6: 11-14; 8: 5-8). Cristo sempre foi o modelo para a vida cristã. Mas a verdadeira perfeição cristã não pode ser separada do poder da eterna cruz e de nossa plena confiança em seu poder de perdão (1 João 2: 1, 2). Perfeição cristã é um constante crescimento na graça acompanhado por uma dependência constante de Deus. Veja quão precisa Ellen G. White é sobre este importante tema teológico: “Quando o pecador penitente, contrito diante de Deus, discerne a expiação de Cristo em seu nome e aceita esta expiação como sua única esperança nesta vida e na vida futura, seus pecados são perdoados. Esta é a justificação pela fé. Cada alma crente deve submeter sua vontade inteiramente à vontade de Deus, e se manter em um estado de arrependimento e contrição, exercendo fé nos méritos expiatório do Redentor e avançando de força em força, de glória em glória 2. Reproduziremos o caráter perfeito de Cristo em nossas vidas através do crescimento em Sua graça, por confiarmos diariamente e absolutamente em seu gracioso perdão.
Segurança no céu: Apesar da possibilidade de o pecado poder surgir novamente no céu, de modo prático isso nunca irá acontecer, a razão não é unicamente encontrada na experiência da última geração de crentes, mas na obra de Cristo na cruz. Ele, por meio da cruz, reconciliou todo o universo a Deus em um vínculo permanente de união (Cl 1:19, 20). Mais uma vez White é poderosamente clara: “Os anjos atribuem honra e glória a Cristo, pois mesmo eles não estariam seguros exceto ao olhar para o sacrifício do Filho de Deus. É através do poder da cruz que os anjos do céu serão preservados de apostasia. Sem a cruz não estaríamos mais seguros contra o mal do que estavam os anjos antes da queda de Satanás 3. A perfeição das criaturas não é poderosa o suficiente para assegurar a união do universo. Louve a Deus por Cristo!
REFERÊNCIAS:
1. Ellen G. White, The Desire of Ages (Mounatin View, Calif.: Pacific Press Pub.
Assn., 1898), p. 762. (Italics supplied.)
2. The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments, vol. 6, p.
1070. (Italics supplied.)
3. Ellen G. White, “What Was Secured by the Death of Christ,” Signs of the
Times, Dec. 30, 1889