com comentário de Morris Venden
“… em Jerusalém, próximo à porta das ovelhas, há um tanque, chamado em hebraico Betesda, o qual tem cinco alpendres. Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressecados [esperando o movimento da água.]. Achava-se ali um homem que, havia trinta e oito anos, estava enfermo. Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim havia muito tempo, perguntou-lhe: Queres ficar são?” (João 5:1-6)
Pergunta estranha essa do Senhor… Aquele homem estava há 38 onde estavam os que procuravam cura. A única explicação que encontro é o fato de que a ação de Cristo está ligada ao desejo humano. Que Deus maravilhoso, elegante e respeitador. Ainda com todo o poder de tornar real a sua vontade de nos dar a felicidade, não nos invade.
Deus deseja interagir conosco, daí porque sempre percorre o caminho do despertar humano. Jesus queria despertar naquele paralítico novas esperanças. Ele não deseja apenas curar-nos fisicamente, mas emocional e espiritualmente também. Onde está a força desse argumento?
A cura veio acompanhada de um conselho ou advertência. Isto me ensina que o agir de Deus não se limita ao hoje na história de nossas vidas. Ele deseja uma comunhão contínua. O “não peques mais” foi para que soubéssemos que a verdadeira cura, a cura por excelência, passa pela presença de Deus em nossas vidas. O pecar nos afasta de Deus e Ele quer estar ao nosso lado para que assim possamos gozar da vida em abundância. Por isso, sempre que curava Jesus dizia: “não peques mais”.
Muitos questionam certos relatos das Escrituras. Para muitos a Bíblia não passa de um livro de muitas lendas. No que concerne ao poço de Betesda muitas escavações no século XX trouxeram à luz as piscinas existentes na época de Jesus.
Nos documentos encontrados nas Cavernas de Qumran há a citação de um lugar denominado Bethesdataym (Casa dos Dois Derramentos), uma variante de Betesda e suas cisternas.
Essas escavações revelaram também as “sucessivas ruínas dos Bizantinos, igrejas medievais e das cruzadas, construídas sobre os tanques assim como um sistema de aqueduto que data do século VIII AEC que fazia o suprimento de água para o templo. […] A igreja de Santa Anna foi construída pelos cruzados sobre um canteiro adjacente à igreja Bizantina destruída por Hakim (que teve uma pequena capela construída sobre o mesmo local). Não muito depois, Salah id-Din invadiu a cidade e em 1192 a igreja foi transformada em uma escola islâmica (o registro de abertura ainda existe sobre a porta). Nos anos subsequentes, a igreja caiu em desuso, mas miraculosamente nunca foi destruída. Dessa forma permaneceu até 1856 quando o Governo Otomano, procurando uma forma de expressar sua gratidão para com a França pela ajuda prestada em crimes de guerra, doou a igreja e até hoje a mesma é conduzida por padres Franceses.
Os tanques das ovelhas eram um “hospital” (Aesclepion) Grego com fundamento em parte pelas curas milagrosas feitas por intervenções divinas, parte pelos aspectos essenciais de reclusão e descanso, e parte nas teorias que estiveram em voga pelos Analistas Junguianos.”1
As escavações revelaram, portanto, duas piscinas separadas por alpendres, totalizando assim cinco alpendres como citados no Evangelho de João.
“A cidade de Jerusalém foi destruída muitas vezes. Muitas cidades e vilas da Palestina não são mais como eram no tempo de Cristo. Ao longo dos anos as pessoas construíram novas cidades em cima das antigas.
[…] o Poço de Betesda […] está cerca de dois metros e meio abaixo da superfície da atual cidade, e você pode caminhar, descendo as escadas sinuosas até o nível do poço, onde ele estava nos dias de Jesus.
Quando você desce aos cinco pavilhões, uma outra escada desce ainda mais adiante na escuridão até a água do poço. […] Esse era o local “milagroso” daquele tempo. Um centro de milagres onde as pessoas iam para encontrar saúde e cura – pelo menos assim pensavam eles.
“Estava ali um homem, enfermo havia trinta e oito anos. Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim, havia muito tempo, perguntou-lhe: Queres ser curado? Respondeu-Lhe o enfermo: Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois enquanto eu vou, desce outro antes de mim. Então lhe disse Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda. Imediatamente o homem se viu curado e, tomando o leito, pôs-se a andar. E aquele dia era sábado.” (João 5:5-9)
O restante do capítulo trata da sequencia ou resultado dessa história. Jesus foi levado diante de um tribunal e processado diante de uma corte terrena. Jesus, o Senhor do sábado, foi acusado de transgredir o sábado. Isso poderia ser engraçado, se não fosse tão trágico. Jesus – o Criador, Aquele que fez todas as coisas, aquele que mantinha os corações batendo nas pessoas que O estavam acusando. Sem dúvida, uma cena interessante.
Em seis diferentes ocasiões, Jesus foi acusado de transgredir o sábado. E ao estudar essas ocasiões você notará que Jesus sempre decidiu em favor das pessoas, enquanto os líderes religiosos decidiram em favor da lei.
Em Mateus 12:12 entretanto, Jesus disse: “É licito fazer bem aos sábados.” Assim Jesus ‘transgrediu’ o sábado a fim de guardá-lo. E os líderes judeus, tentando guardá-lo, acabaram transgredindo-o. Quando Jesus decidia em favor das pessoas, Ele estava realmente decidindo também em favor da lei. As duas não se excluem mutuamente. É lícito fazer bem no dia de sábado.
Esta palavra – lícito – é muito interessante. O texto não diz: É bonito fazer bem no dia de sábado, ou é seu privilégio fazer o bem. Ele diz: é lícito fazer o bem. Em outras palavras, isto é o que a lei requer. Isso é como dirigir o carro em uma rodovia onde há uma placa que diz: ‘Velocidade mínima 60 km por hora.’ Não apenas é permitido dirigir acima de 60 km por hora, mas você estará transgredindo a lei se dirigir mais devagar. Fazer o bem no dia de sábado é o que a lei requer. E Jesus veio revelar o verdadeiro propósito do sábado. Ele aparentemente lançou fora toda a precaução, deu um pulo gigante por cima de toda tradição e ritual, e mostrou tudo o que significava verdadeiramente guardar o sábado.
Nesse sábado particular, Jesus estivera caminhando através dos cinco pavilhões. As pessoas ali estavam em situações desesperadoras. Seus amigos ou familiares os haviam trazido ali como último recurso. Alguns tinham erigido rudes abrigos ao redor do poço; outros eram trazidos diariamente ao poço. Todos estavam esperando que a água se agitasse, para que pudessem tentar ser o primeiro a entrar no poço. Os doentes, cegos, coxos, paralíticos e desesperançados estavam em todo lugar – esperando.
Jesus caminhou sozinho e sem ser notado entre os sofredores. Isto foi no início de Seu ministério. Mais tarde, as pessoas em multidão O seguiriam e o povo palmilharia Suas pegadas. Porém, nenhuma multidão O seguia nesse dia para o poço, nenhuma mulher se apressou tentando tocar pelo menos a orla de Sua túnica.
Assim, Jesus caminhou pelos cinco pavilhões olhando para os doentes sofredores e desejando curá-los. Ele realmente queria curar a todos! Se estivesse lá e O reconhecesse e soubesse de Seu poder, eu teria gritado: ‘’Vai em frente Jesus! Cure todos eles!’ Ele, entretanto, não podia fazer isso. Sua missão ainda incluía muitas coisas, e se Ele tivesse curado todos eles, isso teria interrompido Sua obra. Na verdade, por curar apenas um homem, Ele havia dado um grande passo em direção à cruz. Por essa razão Ele não curou todos os leprosos. Isto teria interferido em Sua missão maior – a salvação de toda a humanidade.
Eis a razão por que Deus não trouxe um fim ao pecado há muito tempo atrás. Essa é a razão por que Ele não cura a todos hoje – todos os doentes e enfermos nos hospitais e instituições de saúde. Deus, em Sua sabedoria, permite que o pecado evolua até suas últimas consequências, até que todos vejam o que ele realmente é. E quando finalmente chegar o fim do pecado, ninguém nunca mais o desejará.
Ao Jesus caminhar pelos cinco pavilhões, desejando curar a todos e talvez contemplando o dia quando o pecado estaria para sempre eliminado e todos estariam curados, Ele viu um caso mais desgraçado, e Sua compaixão extravasou.
Eis um homem doente por 38 anos. Seus amigos se foram. Sua família se foi. E seu único lar é ali no poço. Jesus para, olha para ele, e pergunta o que pareceria uma questão tola:
– Queres ser curado?
– Desculpe-me! O que você pensa que eu estou fazendo aqui?
– Queres ser curado? – Evidentemente Ele queria que o homem desse uma resposta.
Bem, você sabe a resposta:
– Sim, é isso que eu estou aqui buscando. Mas não há ninguém aqui. Não tenho ninguém e não sou forte o suficiente para entrar no poço. Alguém sempre desce antes de mim. Isto é desesperador.
Jesus não perde tempo algum. Ele não desperdiça palavras. Ele olha para o homem e, com o poder que vem do Doador da Vida, o Criador, Aquele que fez o Universo – o poder que fez com que o pó se erguesse na Criação – Ele ordenou: “Levanta-te, toma o teu leito e anda.”
Agora, por favor, note aqui a intrigante sequencia: O relato é que (1) imediatamente o homem ficou curado, (2) tomou seu leito (3) e pôs-se a andar.
Quão fácil é nos colocarmos nesse quadro. Queremos justamente um pequeno crédito, uma pequena glória para nós mesmos. E dizemos: ‘Deus ajuda aqueles que se ajudam’. Queremos que os dons de Deus sejam dependentes de nossa obra de alguma maneira. Talvez você tenha ouvido pessoas dizerem que o que habilitou o homem a caminhar foi que ele colocou sua vontade, seu ânimo e sua determinação em fazer o que Jesus disse, e como pôs seu esforço nessa direção, ele foi curado e ficou apto a caminhar. Não foi assim. Jesus curou-o no momento. Primeiro ele foi curado e então se levantou, tomou o leito e andou. O caminhar e carregar o leito foram resultados da cura, não a causa.
Você vê o homem caminhando – saltando saindo dali. O que o poço representa? O poço poderia representar alguma coisa que nós tentamos fazer para efetuar nossa salvação ou obter nossa vitória ou nossa justificação.
Talvez uns poucos, cuja doença estivesse apenas na mente, fossem aparentemente curados porque pensavam assim. Mas esse homem estava doente. Ele não tinha nem mesmo força ou energia para entrar no poço. Ele era um caso desesperador.
Está você na situação dele? Não percamos a lição espiritual dessa história. Qual é o seu poço, hoje? Está você tentando ganhar o seu caminho para o Céu – tentando ser suficientemente bom para fazê-lo? É esse o seu poço? Você nunca vai conseguir por si mesmo.
Você tem tentado obter a vitória sobre algum pecado em sua vida? Tem você estado sem paz? Está você a ponto de se desesperar? É esse o seu poço? E o que dizer dos membros da igreja que estão tentando fazer alguma coisa para fazer com que Cristo volte? Você já ouviu sobre isso? Você já ouviu os slogans e faixas que dizem: ‘Levantemos e terminemos a obra’? E então você ouve dizer que a população do mundo está crescendo mais rápido do que a pregação do evangelho, e está a ponto de perder a esperança. E esse o seu poço, hoje?
Temos todo o tipo de poços os quais tentamos alcançar. Talvez haja alguém hoje que tem tentado, por 38 anos ou mais, alcançar seu poço e ainda não conseguiu. Eu tenho boas novas para vocês! ‘Há uma fonte repleta de sangue extraído das veias de Emanuel; e os pecadores, mergulhados nessa fonte, perdem todas as marcas de suas culpas’. Há um manto para aqueles que estão nus, um manto tecido sem nenhum fio de origem humana. Ele é oferecido a você hoje como um presente. Esse é o manto do poder de Jesus em lugar de suas falhas.
Assim, poderia você, por favor, unir-se a mim hoje em um desses cinco pavilhões? Jesus está passando por eles. Ele Se inclina sobre você e pergunta: “Queres ser curado?” Exatamente aqui chegamos àquilo que algumas pessoas chamam de evangelho subjetivo. Elas dizem: ‘Não fale sobre ser curado. Sejamos objetivos. Não olhemos para nós mesmos.’ Pode você imaginar Jesus Se inclinando sobre esse homem no poço, dizendo:
– Você gostaria de ser curado? E o homem diz:
– Oh, isso é muito subjetivo. Apenas ponha alguma justiça a meu crédito no Céu. Isso será suficiente.
Podemos ser gratos pelo que Jesus fez na cruz, mas podemos ser igualmente gratos pelo que Ele quer fazer em cada vida hoje. Charles Spurgeon, o poderoso pregador de anos passados, colocou isso assim: ‘E agora meus queridos ouvintes, eu vos farei a pergunta: Quereis ser curados? Desejais ser salvos? Sabeis ó que é ser salvo? Oh, dizeis vós, isto é escapar do inferno. Não, não, não. Isto é o resultado de ser salvo. Ser salvo é uma coisa inteiramente diferente. Quereis ser salvos do poder do pecado? Desejais ser salvos de ser cobiçosos, mundanos, impuros, temperamentais, injustos, descrentes, dominadores, bêbados, ou profanos? Estais vós dispostos a abandonar o pecado que vos é precioso?
‘Não’, diz alguém, ‘honestamente não posso dizer que quero tudo isso.’ Então você não é a pessoa a quem eu estou falando hoje.
Entretanto há alguém que diz: ‘Sim, eu anseio ser libertado do pecado. Eu desejo pela graça de Deus, hoje mesmo, me tornar cristão e ser salvo de meus pecados.’ Então, levante-se, tome seu leito e ande’.
Não aceitaria você o maior Amigo que poderia ter o próprio Senhor Jesus que caminha entre os cinco pavilhões? Ele veio não para chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. E Ele diz: “Olhai para Mim e sede salvos, vós, todos os termos da Terra.” (Isaías 45:22). Ele estava disposto a correr o risco por você. Sua compaixão sempre contém o melhor dEle. E Ele lhe oferece hoje a cura espiritual que você tanto deseja.”2
Ruth Alencar
Referências:
2- Morris Vendem