Informando-se sobre os Fatores de Risco Suicida

1-  Na infância

Por volta de 5 ou 6 anos, considera-se que as crianças têm um conceito muito rudimentar do que seja a morte ou o morrer, e, por isso, é improvável que até essa idade a criança participe ativamente de um processo de morte. Para crianças nessa faixa etária, a morte se representa, personifica-se e objetiva-se como uma pessoa, com boas ou más intenções, ou um lugar desagradável ou aprazível. Também nessa idade é comum que a morte se associe à velhice e às doenças. Após essa idade, começa-se a considerar a morte como um evento inevitável, universal, chegando o menino ou a menina à conclusão de que todas as pessoas, incluindo eles, vão morrer8,9.

Paralelamente com o conceito de morte, desenvolve-se o de suicídio. Geralmente as crianças têm alguma experiência sobre o tema mediante a visualização deste ato na televisão, seja através de programas destinados aos adultos, seja em programas infantis. Outras vezes, o conceito vai sendo adquirido mediante diálogos com colegas de sua própria idade que tiveram familiares suicidas ou em conversas que escutam dos adultos. Em suas concepções sobre o suicídio, as crianças mesclam crenças racionais e irracionais, às vezes articuladas e lógicas, às vezes pouco coerentes e compreensíveis.

As crianças adquirem ambos os conceitos, morte e suicídio, em idades mais precoces ou mais tardias, crendo estas últimas que a morte é uma continuidade da vida ou que é um estado parecido ao sonho do qual é possível ser despertado tal como ocorre no conto “A Bela Adormecida”.

Na infância, como é lógico supor, os fatores de risco suicida devem ser detectados principalmente no meio familiar em que ela vive. Temos que levar em conta se foi uma gravidez desejada ou não, pois, neste último, caso podem existir, em maior ou menor grau, de forma explícita ou velada, diferentes manifestações de rejeição com repercussões psicológicas na criança.

A idade dos progenitores tem muita importância já que uma gravidez em pessoas dema­siadamente jovens pode dar lugar a transtornos na educação da criança e na atenção dispensada, devido à imaturidade biológica e psicológica dos pais.

A personalidade dos progenitores tem também enorme importância no risco suicida dos filhos. As crianças que tentaram suicídio têm mais frequentemente progenitores que sofrem de alguma doença mental, como o alcoolismo paterno ou a depressão materna. O alcoolismo paterno é geralmente sofrido por toda a família, pois essa toxicomania envolve todos os integrantes, seja pelos distúrbios de comportamento, seja pela violência, pelos problemas econômicos decorrentes, seja pela incapacidade que o alcoólatra, muitas vezes, tem em assumir as suas responsabilidades.

A depressão materna, além do risco suicida, converte-se em um estímulo para o pessimismo, a solidão e a falta de motivação. A isso se associam as situações de maus-tratos por não poder a mãe, nessas condições, satisfazer as necessidades emocionais e de cuidados das crianças.

De qualquer forma, é difícil para o profis­sional de saúde não especializado realizar um diagnóstico psiquiátrico específico. Por isso, é melhor considerar uma doença psiquiátrica em um dos progenitores um fator de risco suicida na infância, independentemente da patologia, e solicitar auxílio de um profissional especializado.

Em relação às características psicológicas que predominam nas crianças que realizam um ato suicida, mencionam-se as seguintes:

1.  manifestam disforia, agressividade e hostilidade como sintomas de um transtorno do controle dos impulsos;

2.  têm pouca tolerância às frustrações e são incapazes de esperar pela satisfação de seus desejos;

3.  tendem a ser demandantes de atenção e afeto, com tentativas de suicídio prévias e frequentes ameaças de suicídio;

4.  são manipuladoras e assumem o papel de vítima na relação com os irmãos e colegas;

5.  sentem ciúmes dos irmãos e são susceptíveis e rancorosos;

6.  podem expressar desejos de morrer e pensamentos suicidas;

7.  podem ser rígidos, meticulosos, ordenados ao extremo, obstinados e perfeccionistas, passivos, tímidos e com baixa autoestima.

Quanto às doenças psiquiátricas que levam a maior risco suicida na infância, encontram-se os transtornos do humor, a esquizofrenia, os transtornos de conduta e adaptação e o transtorno incipiente de personalidade. Por isso, assim como no adulto, um transtorno psiquiátrico na infância também é fator de risco para o suicídio.

Do mesmo modo, o ambiente familiar no qual a criança vive é de suma importância.  Um lar com discussões frequentes entre os pais, proporcionando um ambiente caótico, sem afeto, no qual não existe adequado funcionamento de seus integrantes e não se respeitam os papéis nem as fronteiras de seus respectivos membros, transforma-se em um caldo de cultura para o comportamento suicida de alguns de seus integrantes, em particular das crianças e adolescentes.

A relação entre os progenitores e seus filhos pode converter-se também em fator de risco para o suicídio quando estão matizadas por situações de maus-tratos, abuso sexual, físico ou psicológico. A violência contra crianças, em qualquer de suas formas, é um dos fatores que dificultam o desenvolvimento da personalidade, contribuindo para o aparecimento de características que vão facilitar um ato suicida, assim como violência, impulsividade, baixa autoestima, dificuldades de relacionamento interpessoal, desconfiança, entre outros.

Em outras situações, as relações estão caracterizadas pela superproteção, pela permissividade e pela falta de autoridade, que, no conjunto vão conspirar contra o adequado desenvolvimento da personalidade das crianças que podem tornar-se caprichosas, demandantes, pouco tolerantes às frustrações, manipuladoras e egocêntricas, pretendendo que todos os seres humanos as tratem da mesma maneira indulgente que fazem os seus familiares, o que vai provocar diversos problemas de adaptação desde a mais tenra infância e que muitas vezes recrudescem na adolescência, quando a socialização ocupa um lugar preponderante na conformação definitiva da personalidade.

Os motivos que podem desencadear uma crise suicida infantil são variados e não específicos, pois podem também se apresentar em outras crianças que nunca tentaram contra suas vidas. Entre os mais frequentes, encontram-se:

1.  acontecimentos dolorosos como o divórcio dos pais, a morte de entes queridos ou de figuras significativas, o abandono etc.;

2.  problema nas relações com os progenitores onde predominam o mau-trato físico, a negligência, os abusos sexuais ou emocionais;

3.  problemas escolares, por dificuldades de aprendizagem ou disciplinares;

4.  chamadas de atenção de caráter humilhante por parte dos pais, tutores, professores ou qualquer outra figura significativa, seja em público, seja em particular;

5.  busca de atenção ao não ser escutada em seus pedidos de ajuda;

6.  agressão a outros com os quais mantém relações disfuncionais, geralmente a mãe ou o pai;

7.  tentativa de reunir-se com um ente querido recentemente falecido e que constituía seu principal suporte emocional.

Obviamente, uma crise suicida infantil surge da relação do menino ou da menina com seu meio familiar e manifesta-se por uma série de sinais que se expressam principalmente por mudanças comportamentais variadas. Começam a se tornar agressivos, ou passivos em seu comportamento em casa e na escola, mudam seus hábitos alimentares, podendo mostrar inapetência ou, ao contrário, apetite exagerado. Em relação ao sono, podem também ocorrer mudanças como insônia, terrores noturnos ou pesadelos, assim como enurese noturna. Em outras situações, podem apresentar sonolência excessiva, denotando sintoma depressivo nessa idade.

Os métodos escolhidos pela crianças para cometer suicídio vão depender da disponibilidade, de suas experiências e das circunstâncias; são frequentes a ingestão de medicamentos, venenos agrícolas, arma de fogo e enforcamento. Em geral, as meninas atentam contra suas vidas em idade mais precoce do que os meninos.

Os locais em que as crianças tentam suicídio são geralmente aqueles que frequentam, como, por exemplo, o seu próprio lar, a casa de amigos ou parentes, a escola etc.


2- Na Adolescência

A mortalidade por suicídio entre os adolescentes e jovens tem aumentado significativamente nas últimas décadas, […] e em particular nos homens, o que torna impostergável termos meios eficazes de prevenção. Para obtermos êxito, se faz necessária a promoção da saúde, a proteção específica dos grupos mais vulneráveis, o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno e adequado das patologias psiquiátricas que levam ao suicídio.

A promoção da saúde para prevenir o comportamento suicida nos adolescentes deve incluir não apenas os profissionais de saúde mental, mas também outras pessoas que se relacionam a maior parte do tempo com eles, como os familiares, os professores e os próprios adolescentes.

Uma proteção específica deve ser feita sobre aqueles adolescentes em desvantagem social, como os que foram crianças com risco suicida ou os que em sua adolescência tenham realizado uma tentativa de suicídio, os que apresentam alterações em seu comportamento sexual, na forma de precocidade, promiscuidade, abortos, gravidez escondida ou não desejada, os que são vítimas de abuso sexual, violação, prostituição forçada etc.

Também devem ser levados em consideração, como possíveis indivíduos com risco suicida, os que apresentam variações ostensivas no comportamento escolar como dificuldades de rendimento acadêmico inabitual, fugas e desistências da escola, desajuste vocacional, dificuldades de relacionamento com os professores, presença de amigos com comportamento suicida.

No lar, além dos fatores de risco mencionados anteriormente para as crianças, devem ser considerados aqueles adolescentes que abandonam o lar prematuramente, antes dos 15 anos, a identificação com familiares suicidas, com depressivos ou etilistas, a convivência com um enfermo mental como único parente, as dificuldades socioeconômicas, a permissividade no lar para condutas antissociais, a presença de familiares de primeiro grau com transtorno de personalidade antissocial etc.

No aspecto ambiental, o risco suicida pode aumentar através de notícias sensacionalistas pelos meios de comunicação, quando o adolescente identifica o suicídio com a amizade, o amor, o heroísmo ou qualquer outra qualidade positiva. Também podem aumentá-lo a carência de redes de apoio social, a possibilidade de consumir e de adquirir drogas, a possessão de armas de fogo etc.

Entre os fatores de risco suicida na adolescência citam-se a eclosão de uma doença mental, sobretudo os transtornos do humor e a esquizofrenia. Muitos consideram que a esquizofrenia pode, inclusive, ter como uma de suas primeiras consequências o suicídio do adolescente.

De forma geral, pode-se dividir a biografia dos futuros adolescentes com comportamento suicida em três momentos:

1. infância problemática, caracterizada por um elevado número de eventos vitais negativos, como abandono paterno, lar roto, morte de entes queridos por conduta suicida, alcoolismo paterno, depressão materna, dificuldades socioeconômicas, abuso sexual, mau-trato físico ou psicológico etc.;

2. recrudescimento dos problemas prévios com a incorporação dos próprios da idade, como as preocupações sexuais, as mudanças físicas, a independência e as novas relações sociais;

3. etapa prévia ao ato suicida caracterizada pela ruptura de uma relação valiosa ou uma mudança inesperada de sua rotina, que se torna, para ele, impossível de se adaptar de uma forma criativa, aparecendo, então, os mecanismos autodestrutivos.

Um comportamento suicida positivo, um meio familiar que não constitui um adequado suporte emocional, a presença de sintomas depressivos, desesperança, agressividade ou sentimentos de solidão, aliados a qualquer motivo, por menos importante que possa parecer aos olhos de um observador pouco habituado, deve supor a possibilidade de realização de um ato suicida, principalmente se se encontram à disposição do adolescente os meios de o fazer.

Devemos considerar o ato suicida dos adolescentes como um ponto dentro de um continuum dos problemas comportamentais em questão e a necessidade de estabelecer diferenças entre os estressores crônicos e os agudos que podem precipitar a conduta autodestrutiva. Entre os estressores crônicos citam-se, entre outros, a disfunção familiar, os fracassos escolares, o abuso sexual e o consumo de álcool ou outras drogas, ao passo que entre os estressores agudos podemos ter disputas entre irmãos ou amigos, término de um relacionamento ou uma recusa amorosa, ou uma reprimenda dos pais, que podem ser, e na maioria das vezes são, parte da rotina do adolescente, mas que em um jovem com problemas emocionais podem levar à realização de um ato suicida.

3- No Adulto

[…] os fatores de risco suicida no adulto estarão associados àqueles que se arrastam desde a infância e adolescência, mas também àqueles inerentes a esta etapa da vida.  […] Entre os fatores de risco suicida no adulto, é necessário mencionar em primeiro lugar o alcoolismo. Nesse período da vida, adquire categoria de enfermidade. […] Entre os sintomas psíquicos usualmente observados no abuso ou na dependência de álcool podemos observar: mudanças de humor, irritabilidade, reações coléricas, tristeza, choro, elevada suscetibilidade, propensão ao ciúme, podendo adquirir caráter propriamente delirante, isolamento social, vulnerabilidade aos eventos vitais etc.

Os transtornos depressivos continuam sendo um fator de risco no adulto e cerca de 50% dos deprimidos vão ter um primeiro episódio depressivo entre 20 e 50 anos de idade. Esse risco suicida no adulto deprimido fica ainda mais importante se apresentar as características a seguir enumeradas:

1.  Temática suicida

•   Tentativas de suicídio prévias.

•   Antecedentes familiares de comportamento suicida.

•   Ameaças de suicídio, diretas ou indiretas.

•   Expressão de ideias concretas sobre a execução ou os preparativos de um ato suicida.

•   Sonhos de autodestruição, catástrofes.
2. Sintomas e comorbidade

•   Angustia e agitação.

•   Fase depressiva recém-diagnosticada.

•   Enfermidades incuráveis ou hipocondria.

•   Comorbidades como etilismo ou outras.

•   Depressão que justifica uma internação psiquiátrica.

3. Ambiente

•  Desordens familiares na infância e/ou na adolescência.

•  Ausência ou perda de contatos humanos (isolamento).

•  Dificuldades financeiras ou profissionais.

Em relação à esquizofrenia no adulto, considera-se que existem dois grupos de pacientes com maior risco suicida:

•  primeiro grupo: pacientes com recuperação de seus sintomas produtivos mas com sentimentos de frustração e desesperança;

• segundo grupo: pacientes com bons níveis de funcionamento pré-mórbido e quadro de esquizofrenia paranóide.

Também nos pacientes esquizofrênicos, podem aumentar o risco suicida os efeitos secundários do tratamento prolongado com neurolépticos, principalmente a depressão pós-tratamento. Deve-se sempre estar atento ao risco suicida nos pacientes esquizofrênicos, já que as tentativas e o suicídio nesses pacientes tendem a ser feitos através de métodos violentos, geralmente mais letais, e muitas vezes sem aviso prévio.

Na idade adulta, ocorre também o surgimento de certas patologias que, apesar de isoladamente não levar a um risco aumentado de suicídio, têm que ser consideradas quando coexistem outros fatores de risco. Entre essas patologias podemos citar como exemplos a doença de Parkinson, a coréia de Huntington, o diabetes mellitus e a SIDA.

Diferentemente das crianças e dos adolescentes, os adultos têm duas esferas que podem se converter em geradoras de conflito: o casamento e o trabalho.

Um bom funcionamento matrimonial e laborativo pode ser um antídoto contra o comportamento suicida, mas uma relação matrimonial que não satisfaça as expectativas originais pode, ao contrário, converter-se em um fator suicidógeno em determinados indivíduos, principalmente do sexo feminino. Existem evidências de que a mulher solteira teria menos riscos de realizar uma tentativa de suicídio do que um homem nessa mesma condição. O homem casado, entretanto, pode ter um menor risco de vir a se suicidar do que a mulher casada, espe­cialmente nas sociedades em que a mulher ainda não foi emancipada.

O desemprego, sobretudo no primeiro ano, pode ser um fator predisponente, assim como o fracasso no exercício de uma profissão, que se mede pela insatisfação laboral (atitude) e pela falta de êxito (realização), tanto na culminação eficiente das tarefas como nos resultados econômicos, a perda de prestígio, de aceitação e realização pessoal.

Nessa etapa da vida, o indivíduo interage mais intensamente com a sociedade e o êxito ou fracasso dessa interação pode, em conjunção com outros fatores, evitar ou precipitar o suicídio.

Quanto a isso, vemos que a desmoralização pode desencadear um ato suicida, pela carga de desesperança, desamparo, retraimento e perda de autoestima que tal estado apresenta. A desmoralização é uma condição mental que se apresenta quando o indivíduo se sente, de forma persistente, incapaz de dominar as situações que outras pessoas podem solucionar de forma adequada, experimenta um mal-estar contínuo que não consegue explicar com certeza.

Outra condição que deve ser muito valorizada no adulto é ter anteriormente realizado uma tentativa de suicídio. Esses indivíduos podem repetir tais atos e existem fatores que podem prevê-los, como os que anunciaremos a seguir:

1.  história de tratamento psiquiátrico;

2.  personalidade antissocial;

3.  abuso de álcool e outras drogas;

4.  desocupação;

5.  antecedentes criminais.

 4- No Idoso

[…] o suicídio entre os idosos constitui uma significativa causa de morte. De fato, as taxas aumentam proporcionalmente com o envelhecimento: de 1,2/100.000 na faixa dos 5 aos 14 anos a 55,7 na faixa de 75 anos ou mais, no sexo masculino (embora com taxas bem menores, este crescimento também é observado no sexo feminino, com taxas de 0,5 a 18,8 suicídios por 100.000).

[…] Na medida em que os idosos constituem o segmento populacional que apresenta o maior crescimento em praticamente todo o mundo, o número absoluto de suicídios nessa faixa etária continuará a crescer e prognostica-se para o ano 2030 o dobro das mortes por suicídio observadas atualmente, o que torna necessário aprofundar o conhecimento dos fatores de risco para o suicídio no idoso para tentar atenuar, em certa medida, essa previsão.

Nos países em desenvolvimento, como o nosso, o envelhecimento da população pode representar o sonho de muitas pessoas: viver cada vez mais. Entretanto, este processo pode acarretar o aumento de cidadãos pobres, doentes e com poucos direitos sociais, discriminados e com pequena aposentadoria, ou tendo de comprovar, após longas filas, perante o INSS, que estão vivos, como aconteceu no Brasil, no ano de 2003. A discriminação à velhice origina-se da sociedade industrial, que substituiu a sociedade familiar, em que o velho era respeitado, com posição definida e privilegiada em virtude de seus conhecimentos e experiência. Muito precisa ser feito para esta camada da população.

O comportamento suicida no idoso tem algumas características que o distinguem de outras faixas etárias:

1. realizam menos tentativas de suicídio do que os jovens. Para cada idoso suicida quatro tentaram, mas para cada adolescente suicida cerca de 200 tentaram. Na população geral, a proporção é de uma morte por suicídio para cerca de dez a 20 tentativas;

2. utilizam com mais frequência métodos vio­lentos (85% dos suicídios no homens idosos ocorrem por enforcamento, armas de fogo e precipitação de locais elevados);

3. exibem menos sinais de aviso e esses são mais difíceis de detectar;

4. os atos suicidas são geralmente premeditados, não impulsivos, e realizados depois de um processo de reflexão;

5. podem assumir a forma de suicídios passivos (não ingerir alimentos, não usar medicamentos essenciais).

Torna-se imprescindível considerar que o envelhecimento traz consigo o abandono do trabalho ou de outras atividades e objetivos, a redução do vigor físico, a modificação dos prazeres sexuais e uma consciência da morte desconhecida em etapas prévias da vida. O idoso nem sempre vai relatar sintomas porque teme que se diagnostique uma enfermidade grave ou fica com receio de que suas queixas sejam entendidas como parte do processo de envelhecimento. Entre os problemas físicos que o idoso deve confrontar-se encontram-se comumente as afecções artríticas que afetam a sua locomoção, as enfermidades cardiovasculares que limitam a atividade física, as enfermidades neurológicas que reduzem as funções cognitivas e o câncer que ocasiona dor e dependência14.

Entre os problemas psiquiátricos, o mais comum é a depressão, que é a patologia mental mais frequente no idoso e um dos pródromos do suicídio. […]

A tentativa de suicídio no idoso é um grave problema porque na maioria das vezes trata-se de um verdadeiro suicídio frustrado por seu elevado grau de premeditação, pelos métodos mortais que utilizam e pela coexistência de enfermidades físicas.

Nunca se deve esquecer de que os sintomas somáticos podem ser um sinal de depressão, pois os idosos deprimidos têm tendência a não se queixarem de tristeza, que muitos consideram um sentimento normal da velhice. Queixam-se principalmente de sintomas físicos, de que “algo não anda bem com a saúde”, considerando-se a si mesmos como doentes físicos, o que os fazem procurar inúmeros médicos. Os médicos que não estão familiarizados com essa condição não poderão realizar o diagnóstico precocemente e o risco de suicídio pode emergir durante a suposta enfermidade física. Isso porque, ao não obter qualquer melhora com os tratamentos propostos, o idoso começa a pensar que a sua enfermidade é grave, incurável, o que lhe ocasiona angustia e ansiedade, e opta então pelo suicídio para evitar seus sofrimentos.

Os sintomas somáticos da depressão, como insônia, perda de apetite e perda de peso, podem também ser sentidos pelo idoso como sinais de uma doença orgânica. Assim, é importante que o médico identifique a causa desses sintomas para que uma depressão, que poderia ser facilmente tratada, não se transforme em um quadro crônico, mais grave, e leve ao suicídio12,13.

Outro fator de risco suicida no idoso são os maus-tratos a que com frequência são submetidos, existindo estreita correlação entre a pobre saúde física, a conduta suicida e as situações de maus-tratos. A enfermidade mental e o abuso de substâncias predispõem os familiares a maltratar os idosos, o que se faz facilmente reconhecível para um clínico alerta, principalmente se apresentam lesões em vários estágios de evolução ou quando a explicação das evidências é vaga e imprecisa. Outras manifestações que podem fazer suspeitar a existência de maltrato ao idoso são as seguintes:

1.  demora entre a ocorrência do dano, o início da enfermidade e a busca de atenção médica;

2. diferenças entre a história relatada pelo idoso e pelos possíveis maus tratadores;

3. frequentes visitas aos médicos por exacerbações de enfermidades crônicas, apesar de ter um plano terapêutico eficaz;

4. angústia, confusão, depressão, ideias suicidas e tentativas de suicídio podem ser a resposta de um idoso a maus-tratos físicos ou psicológicos.

Uma classificação dos fatores de risco suicida no idoso pode ser dividida da forma abaixo enumerada:

1.  Fatores médicos:

•  Enfermidades crônicas, terminais, dolorosas, invalidantes, incapacitantes, como a demência tipo Alzheimer, a doença de Parkinson, as neoplasias, o diabetes mellitus complicado com retinopatia ou polineuropatia, a insuficiência cardíaca congestiva, a doença obstrutiva crônica, entre outras.

•  Hospitalização periódica do idoso, assim como intervenções cirúrgicas frequentes, principalmente do trato geniturinário e gastrintestinal.

•  Medicamentos depressiogênicos muito utilizados no tratamento de certas patologias que frequentemente acometem os idosos (digitálicos, propanolol, indometacina, metildopa etc.)

2.  Fatores psiquiátricos

•  As depressões, o abuso de álcool e de drogas, os transtornos crônicos do sono, as psicoses delirantes, os quadros confusionais.

3.  Fatores psicológicos

•  Sentimentos de solidão e inutilidade, inativos, sem projetos de vida e com tendência a reviver o passado.

4.  Fatores familiares

•  Perda de entes queridos por morte natural ou suicídio. A viuvez, principalmente no primeiro ano, é um momento crítico para o idoso, durante o qual pode ocorrer a chamada autodestruição passiva, na qual o evento vital desencadeia uma depressão que altera o sistema imunológico, facilitando o aparecimento de enfermidades físicas, principalmente infecciosas.

•  O avô “pingue-pongue” que se produz quando se condena o idoso a uma migração forçada ao levá-lo de um domicílio a outro, segundo a conveniência dos familiares e em detrimento da privacidade e da estabilidade do idoso.

•  O ingresso em um lar ou clínica para idosos na sua fase de adaptação ou quando se faz contra a sua vontade.

5.  Fatores socioambientais

•  A aposentadoria, o isolamento social, a atitude hostil, pejorativa ou depreciativa da sociedade em relação ao idoso, a perda de prestígio.
Conclusões

Os fatores de risco suicida podem variar ao longo do ciclo de vida humano, como vimos neste capítulo. Entretanto, alguns fatores são universais, como, por exemplo, a presença de uma doença psiquiátrica.

www.medcenter.com
Referências Bibliográficas

1.  Beautrais AL. A review of the evidence. In our hand. The New Zealand Youth Suicide Prevention Strategy. Wellington. Ministry of Health, 1998.

2.  Beck A, Resnik H, Lettieri D. The prediction of suicide. The Charles Press Publisher. USA, 1974.

3.  Bron B. Suicidal risk in endogenous, neurotic and reactive depression in advanced age. Schweiz-Arch-Neurol Psychiatr 1990; 14(3):229-53.

4.  Chiu HFK. Elderly suicide in Hong Kong- a case-controlled psychological autopsy study. Acta Psychiatrica Scandinavica 2004; 109:239-305.

5.  Comuel Y, Rotenberg M, Caine E. Completed suicide at age 50 and over. JAGS 1990; 38:640-4.

6.  DATASUS-MS. disponível on-line no endereço a seguir, sobre causas de mortalidade no Brasil: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obtuf.def. Acessado em 28/04/04.

7.  De las Heras F, Dueñas M. Etiopatogenia e incidencia del suicidio entre los ancianos. Revista Espanhola de Geriatria y Gerontologia 1988; 23:23-30.

8.  Pagan Castro AL, Parrilla Cruz CE. Comportamiento suicida en niños y adolescentes. Intervención del médico de la familia, Boletim. Academia Medicina Familia 1990; 74:284-8.

9.  Perez Barrero S. La adolescencia y el comportamiento suicida. Bayamo: Ediciones Bayazo, 2002.

10. Perez SB. Factores de riesgo suicida en la adolescencia. Revista de Psiquiatría del Uruguay 1996; 60:57-62.

11. Perez SB. Psicoterapia para aprender a vivir. Havana: Editorial Oriente, 2001a.

12. Perez SB. Psicoterapia del comportamiento suicida. Havana: Ed. Hosp. Psiq. de La Habana, 2001b.

13. Perez SB. Lo que usted debiera saber sobre… Editorial Imagen SA de CV México DF, 1999.

14. Perez SB. El suicidio: comportamiento y prevención. Havana: Editorial Oriente, 1997.


Nota:


Como cristã entendo que o ser humano tem que ser visto em toda sua dimensão: física, mental e espiritual. Não podemos ser negligentes ao ponto de negarmos o fato de que depressão é uma patologia sim. E que ela é responsável hoje pela grande maioria dos casos de suicídio. 


Ao mesmo tempo não podemos negar o fato de que depressão também pode ser resultante da desarmonia espiritual. Dai porque penso que este texto não se basta como indicativo dos fatores de risco suicida. É claro que o texto aqui publicado é apenas um capítulo do todo de um livro com dados importantes. Ficando, pois como dica para desfazer ignorância e tabus com relação à depressão.

Ruth Alencar



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