Por Ruth Alencar
“Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que prepararei, diz o SENHOR dos Exércitos; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve. Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que não O serve”. (Malaquias 3:17-18)
Eu gosto muito desta citação bíblica: “Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando o SENHOR, teu Deus, dando ouvidos à sua voz e apegando-te a ele; pois disto depende a tua vida e a tua longevidade;” (Deuteronômio 30:19-20)
Os críticos do cristianismo alegam haver aqui uma contradição. Afirmam que ao dar essas duas opções Deus está Se revelando ditatorial. Isto é, “você tem essas duas opções, mas se não escolher a minha opção você está simplesmente ferrado”.
Acontece que este é realmente o resultado. Vida plena realmente só conquistamos em Deus. No mais, na melhor das hipóteses, é uma vida de 80 ou 90 anos. Ora, não são apenas duas opções! É uma chance para viver por toda a eternidade e outra para viver de 0 a no máximo 120 anos (e olhe que chegar até aqui é para muito, muito poucos!).
Em seu artigo na Revista Época, “O universo não precisa de deus”2, Peter Moon escreveu: “[…] Argumentar significaria prolongar a conversa e a perda de tempo. E o tempo é o bem mais escasso da vida. Começa-se a perdê-lo no instante em que se nasce. A morte, seguida pelo esquecimento, é o denominador comum da vida. Por que esta é uma ideia tão desconfortável? […] Segundo os biólogos evolutivos, a fé pode ter surgido como uma invenção intelectual que fornecia sentido à vida num mundo infestado por feras e açoitado por desastres naturais. Na luta pela sobrevivência, a evolução da fé e do seu subproduto, a religião, podem ter servido para amalgamar o tecido social, congregando bandos de caçadores indefesos em aldeias e em tribos.
Pertencer a uma tribo era uma vantagem adaptativa considerável. Os homens caçavam e guerreavam em grupo. As mulheres, também em grupo, colhiam frutas e raízes, cozinhavam, teciam, pariam e cuidavam dos filhos. Quando ocorriam estiagens prolongadas, as chances de sobrevivência eram maiores entre os membros da tribo do que entre os caçadores de bandos isolados. Em épocas de fartura, a população da tribo aumentava. A necessidade de encontrar conforto no sobrenatural, também. […]
Na história da vida na Terra, a evolução da consciência é um acidente de percurso. Neste sentido, nós somos privilegiados e vivemos num momento mais do que especial. Não vivemos mais num mundo assombrado pelo demônio. Graças à ciência, o bicho homem descobriu enfim qual é o seu lugar no cosmo. Se em algum momento nos 4,5 bilhões de anos deste planeta existiram deuses, então eles somos nós.
Ainda assim, entra ano e sai ano, em qualquer região do planeta, em sociedades ricas e também nas menos desenvolvidas, toda a vez que se faz uma pesquisa para tentar aferir o grau de religiosidade de determinado país ou extrato da sociedade, o resultado é sempre o mesmo. Repetidamente, 99% dos entrevistados dizem ter alguma forma de fé ou de espiritualidade, afirmam pertencer a uma religião formal, e crer num deus ou em uma entidade criadora. Eles creem na vida eterna, na vida após a morte, em reencarnações, no sobrenatural, em anjos e em demônios. […]”
O quadro é exatamente esse: há os que creem em Deus e Sua proposta de vida, há os que não creem, por isso a rejeitam. Mas, há também os que creem, porém não levam uma vida em consequência.
Serão esses os discursos do amanhã?
1- “Puxa, bem-aventurado eu sou, ganhei a vida eterna! Sou feliz porque preservei minha fé. Cri em Quem realmente deveria crer!”
2- “Ferrei-me”, ou ainda “Que se dane!”
3- “Que tolo fui, no caminho da fé e, portanto, perdido! Em que ou em quem realmente eu cri em minha vida inteira?”
Em Quem ou em que temos crido? Essa é uma importante questão. Não me cansarei jamais de citar esse pensamento de Stephen Covey: “Se a escada não estiver apoiada na parede correta, cada degrau que subimos é um passo a mais para um lugar equivocado.”
Na parábola de Jesus, registrada em Mateus 13: 24-26, o personagem do joio refere-se ao crente falso e hipócrita. Aquele que caminha junto com o cristão verdadeiro. Professa uma fé que em sua essência é nociva, assim como a cizânia. Mais comumente conhecida como joio.
Cizânia é uma gramínea nociva aos trigais. Na língua portuguesa tem o sentido figurado de “desavença, discórdia, incompatibilidade, desarmonia, intriga e malquerença”.3
Quem possui este comportamento são os que compõem o grupo do joio.
Gosto muito desses versos bíblicos de Deuteronômio porque eles me falam de um Deus zeloso e profundamente respeitador. Um Deus que não Se limita por Sua própria essência como Ser Onipotente, mas que paradoxalmente conhece Suas possibilidades e limites quando está diante do nosso livre arbítrio.
Gosto muito também desta verdade: “Cristo mesmo decidirá quem é digno de ser membro da família celestial. Julgará todo homem segundo suas palavras e obras. A religião nada pesa na balança. O caráter é que decide o destino”.1
Cristo é o grande Mestre; e como professor amava a Natureza. Em Seu ensino por parábolas, Cristo ligava a verdade divina às coisas e ocorrências comuns.
Trigo e joio crescem juntos nas mesmas zonas produtoras de trigo. O joio é considerado uma erva daninha desse cultivo. Há uma semelhança entre essas duas plantas chegando o joio em algumas regiões a ser denominado de o “falso trigo”. Uma pequena quantidade de joio colhida e processada junto ao trigo pode comprometer a qualidade do produto obtido. Vem daí a famosa expressão “é preciso separar o joio do trigo”.
Em Mateus 13:24-26 temos: “Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo; mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio.”
“O campo”, disse Cristo, “é o mundo.” Precisamos, porém, entender isto como significativo da igreja de Cristo no mundo. A parábola é uma descrição pertinente ao reino de Deus, Sua obra pela salvação dos homens, e esta obra é executada pela igreja. Em verdade, o Espírito Santo saiu a todo o mundo; opera no coração dos homens em toda parte; mas é na igreja que devemos crescer e sazonar para o celeiro de Deus.
“O que semeia a boa semente é o Filho do homem, … a boa semente são os filhos do reino, e o joio são os filhos do maligno.”
A boa semente representa aqueles que são nascidos da Palavra de Deus, da verdade. O joio representa uma classe que é o fruto ou encarnação do erro, de princípios falsos.
“O inimigo que o semeou é o diabo.” Nem Deus nem os anjos jamais semearam semente que produzisse joio. O joio é sempre lançado por Satanás, o inimigo de Deus e do homem.
No oriente, os homens vingavam-se muitas vezes do inimigo, espalhando sementes de qualquer erva daninha, muito semelhante ao trigo, em crescimento, em seu campo recém-semeado. Crescendo com o trigo prejudicava a colheita, e causava fadigas e prejuízos ao proprietário do campo. Assim Satanás, induzido por sua inimizade a Cristo, espalha a má semente entre o bom trigo do reino. O fruto de sua semeadura atribui ele ao Filho de Deus. Introduzindo na igreja aqueles que levam o nome de Deus, conquanto Lhe neguem o caráter, faz o maligno que Deus seja desonrado, a obra da salvação mal representada e almas postas em perigo.
Dói aos servos de Cristo ver misturados na congregação crentes falsos e verdadeiros. Anseiam fazer alguma coisa para purificar a igreja. Como os servos do pai de família, estão dispostos a arrancar o joio. Mas Cristo lhes diz: “Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa.”
Cristo ensinou claramente que aqueles que perseveram em pecado declarado devem ser desligados da igreja; mas não nos confiou a tarefa de ajuizar sobre caracteres e motivos. Conhece demasiado bem nossa natureza para que nos delegasse esta obra. Se tentássemos desarraigar da igreja os que supomos serem falsos cristãos, certamente cometeríamos erro. Muitas vezes consideramos casos perdidos justamente aqueles que Cristo está atraindo a Si. Se devêssemos proceder com essas pessoas segundo nosso parecer imperfeito, extinguir-se-ia talvez sua última esperança. Muitos que se julgam cristãos serão finalmente achados em falta. Haverá muitos no Céu, os quais seus vizinhos supunham que lá não entrariam. O homem julga segundo a aparência; mas Deus vê o coração. O joio e o trigo devem crescer juntos até a ceifa; e a colheita é o fim do tempo da graça.
Há nas palavras do Salvador ainda outra lição, uma lição de maravilhosa longanimidade e terno amor. Como o joio tem as raízes entrelaçadas com as do bom trigo, assim falsos irmãos podem estar na igreja, intimamente ligados com os discípulos verdadeiros. O verdadeiro caráter desses pretensos crentes não é plenamente manifesto. Caso fossem desligados da congregação, outros poderiam ser induzidos a tropeçar, os quais, se não fosse isto, permaneceriam firmes.
A lição dessa parábola é ilustrada pelo proceder de Deus para com os homens e os anjos. Satanás é um enganador. Ao pecar ele no Céu, nem mesmo os anjos fiéis reconheceram plenamente seu caráter. Esta é a razão por que Deus não o destruiu imediatamente. Se o tivesse feito, os santos anjos não teriam percebido o amor e a justiça de Deus. Uma só dúvida quanto à bondade de Deus teria sido como má semente, que produziria o amargo fruto do pecado e da desgraça. Por isto foi poupado o autor do mal, para desenvolver plenamente seu caráter. Durante longos séculos, suportou Deus a angústia de contemplar a obra do mal. Preferiu dar a infinita Dádiva do Gólgota, a deixar alguém ser induzido pelas falsas representações do maligno; pois o joio não podia ser arrancado, sem o risco de desarraigar a preciosa semente. E não seremos tão clementes para com nossos semelhantes, como o Senhor do Céu e da Terra o é para com Satanás?
Por haver na igreja membros indignos, não tem o mundo o direito de duvidar da verdade do cristianismo, nem devem os cristãos desanimar por causa destes falsos irmãos. Como foi com a igreja primitiva? Ananias e Safira uniram-se aos discípulos. Simão Mago foi batizado. Demas, que abandonou a Paulo, era considerado crente. Judas Iscariotes foi um dos apóstolos. O Redentor não quer perder uma única pessoa. Sua experiência com Judas é relatada para mostrar Sua longanimidade com a corrompida natureza humana; e nos ordena sermos pacientes como Ele o foi. Disse que até ao fim do tempo haveria falsos irmãos na igreja.
Apesar da advertência de Cristo, têm os homens procurado arrancar o joio. Para punir os que foram considerados malfeitores, tem a igreja recorrido ao poder civil. Os que divergiram das doutrinas dominantes foram encarcerados, martirizados e mortos por instigação de homens que pretendiam agir sob a sanção de Cristo. Mas atos tais são inspirados pelo espírito de Satanás, não pelo Espírito de Cristo. Esse é o método peculiar de Satanás de submeter o mundo a seu domínio. Por esta maneira de proceder com os supostos hereges, Deus tem sido mal representado pela igreja.
Na parábola de Cristo não nos é ensinado que julguemos e condenemos a outros, antes sejamos humildes e desconfiemos do eu. Nem tudo que é semeado no campo é bom trigo. O estarem os homens na igreja não prova que são cristãos.
O joio era muito semelhante ao trigo enquanto as hastes estavam verdes; mas quando o campo estava branco para a ceifa, a erva inútil nada se parecia com o trigo, que vergava ao peso das espigas cheias e maduras. Pecadores que pretendem ser piedosos confundem-se por algum tempo com os verdadeiros seguidores de Cristo, e a aparência de cristianismo tende a enganar a muitos; mas não haverá, na sega do mundo, semelhança entre os bons e os maus. Então, serão manifestos aqueles que se ligaram à igreja, mas não a Cristo.
É permitido ao joio crescer entre o trigo, desfrutar os mesmos privilégios de sol e chuva; mas no tempo da ceifa será vista “a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que não O serve”. (Malaquias 3:18). Cristo mesmo decidirá quem é digno de ser membro da família celestial. Julgará todo homem segundo suas palavras e obras. A religião nada pesa na balança. O caráter é que decide o destino.
O Salvador não aponta a um tempo em que todo o joio se tornará trigo. O trigo e o joio crescem juntos até a ceifa, o fim do mundo. Então o joio será atado em molhos para ser queimado, e o trigo será recolhido no celeiro de Deus”.1
“Então, os justos resplandecerão como o Sol, no reino de seu Pai. Mandará o Filho do homem os Seus anjos, e eles colherão do Seu reino tudo o que causa escândalo e os que cometem iniquidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes.” (Mateus 13: 38- 42)
Podemos não ser sempre o que gostaríamos de ser, mas submetendo-nos a Deus, ligando-nos verdadeiramente a Cristo, é certo que não seremos mais quem já fomos. Sejamos, pois trigos.
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1- Ellen White, Parábolas de Jesus, Por que Existe o Mal?
2-Peter Moon http://revistaepoca.globo.com/Ciencia-e-tecnologia/noticia/2011/12/o-universo-nao-precisa-de-deus.html
Essa com certeza é a maior batalha de nossas vidas: lutarmos contra e a favor de nós mesmos.
Verdade…
Recebi um comentário por e-mail bastante interessante:
"Prefiro ficar com II Co 5.17.
"E assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas se passaram, eis que tudo se fez novo". Somente quem está em Cristo pode ter um caráter genuíno e puro. Cristo é a nossa justificação e redenção. Fora dEle não há salvação."
O que posso dizer para vc LS é que concordo plenamente com o que vc disse.
Seu pensamento e o meu estão de mãos dadas no entendimento a obra da Redenção em Cristo Jesus.
O texto não está, em nenhum ponto, na contra mão da verdade de que em Cristo Jesus temos a vitória.
O texto na verdade é uma reflexão, um alerta para nossa responsabilidade enquanto cristãos diante de um mundo já cansado da hipocrisia religiosa.
A Bíblia mesmo diz que aquele que está em pé cuidado que não caia. Isto porque há um inimigo que nos ronda.
Deus nos ama incondicionalmente e é esse amor maravilhoso que nos tem atraido. Sua bondade e misericórdia são as razões da nossa vitória. Afinal, nossa salvação nao tem a ver com o que fazemos, mas com o que Cristo fez por nós.
Jesus mesmo alertou aos Seus discipulos que ficassem atentos pois o inimigo queria penerá-los como o trigo. Não seria, nem será diferente em relação a nós.
Há uma parte que nos compete fazer e isto não tem nada a ver com salvação pelas obras. Mas, tem tudo a ver com obediência por amor, submissão, reconhecimento da autoridade divina.
Não tenho receios em usar a palavra obediência quando me refiro a salvação, pois mesmo Jesus ressaltou a importância de fazer a vontade do Pai. É disto que fala o texto. Somos cartas vivas, argumentos vivos de Deus diante de um mundo que é carente da verdade.
É fato, que em Jesus o velho homem cede lugar para o novo. Mas, tb é fato de que o viver cristão é um constante crescimento,pois a santificação é o resultado de uma vida inteira de lutas, vitórias, quedas e perdão liberado.
Por isso encerrei o texto dizendo que podemos não ser sempre o que gostaríamos de ser, mas submetendo-nos a Deus, ligando-nos verdadeiramente a Cristo, é certo que não seremos mais quem já fomos.
Sejamos, pois trigos. Esse é o conselho da Palavra.
um grande abraço LS e muito obrigada por seu copmentário.
Eu compartilho fortemente o pensamento de que a santificação é exclusivamente o resultado do que Cristo opera em nós a partir de nossas experiências com Ele. Não tem nada a ver com o que eu faço, mas com o que Cristo fez por mim.
"A vida cristã passa naturalmente por várias etapas: O novo nascimento, a infância, a juventude e a maturidade espiritual. Não há nada de errado "passar" pela "infância espiritual", e prosseguir crescendo!
Conforme escreveu Paulo em Ef 4.14, a principal característica do "menino" é a inconstância! Uma criança sempre "oscila de um extremo ao outro", e, jamais se firma em um "ponto de equilíbrio".
O processo para se chegar à maturidade espiritual consiste em diminuirmos cada vez mais essa "oscilação", avançando gradativamente para uma vida de propósitos firmes e constantes." Pr. Josimar Reis.
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“Gosto muito desses versos bíblicos de Deuteronômio porque eles me falam de um Deus zeloso e profundamente respeitador. Um Deus que não Se limita por Sua própria essência como Ser Onipotente, mas que paradoxalmente conhece Suas possibilidades e limites quando está diante do nosso livre arbítrio.”
Caríssima Ruth
Todas as sextas-feiras à noite, a partir de sete e meia, eu e alguns irmãos nos reunimos, aqui em casa, para estudarmos a Bíblia. Convidamos irmãos das mais diversas denominações para expressarem o seu entendimento a respeitos de assuntos cujo entendimento desperta polêmicas. O convidado apresenta o seu trabalho, nós anotamos o que discordamos ou não entendemos e o convidamos para noutra oportunidade expressarmos o nosso entendimento e as nossas dúvidas. O grande problema é que as pessoas estão sempre prontas para falar, ensinar, porém, são raras as que se dispõem a ouvir e aprender. O “ide” é todos indo a todos, logo todos falando a todos e todos ouvindo de todos. A virtude maior não está nem em falar nem em ouvir e sim em saber “filtrar” e reter o que é bom, segundo ensinou o apóstolo Paulo. Naturalmente, para que se possa “filtrar” se faz necessário que se ouça.
Eu vivo um grande problema! O meu entendimento de que o arbítrio que Deus nos concedeu é relativo faz uma enorme diferença na imagem que eu tenho dEle e a que têm os que entendem que o arbítrio é livre e absoluto. Este tema tem se constituído em motivo de muitos dos nossos estudos. O arbítrio absoluto pode mostrar […] “Um Deus que não Se limita por Sua própria essência como Ser Onipotente, mas que paradoxalmente conhece Suas possibilidades e limites quando está diante do nosso livre arbítrio.”, da mesma forma que o arbítrio parcial me mostra o Deus absoluto em tudo. O Deus que, na Sua onisciência, sabe, inclusive, com justiça, dosar o quanto nos dar, de sorte a não ter que renunciar à Sua onipotência e nem de tornar-se um ditador ou ter a necessidade de desrespeitar ou retirar de nós um direito que nos concedeu.
Diante do argumento de que Deus, na Sua justiça onisciente, não nos dotaria de liberdade absoluta, porém, com conhecimento limitado, o que fatalmente nos colocaria em situação de permanente risco, um dos participantes do nosso grupo de estudos entende que Deus nos dotou de onisciência, “dentro dos limites do nosso universo e a partir daí Ele perdoa os erros que cometemos”.
O meu entendimento é que Deus nos concede liberdade relativa e que a partir de determinado ponto Ele interfere, sempre no sentido de nos proteger. Nessa forma de ver, Deus jamais, estará sendo ditador, desrespeitador ou mudando de atitude. Um dos participantes do grupo questionou: – mas, qual é o limite determinado por Deus diante de alguém que mata outro? Naturalmente, esta é só mais uma dentre as tantas perguntas que não têm resposta! Limites para Deus eu, particularmente, só conheço o imposto pelo livre arbítrio absoluto.
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9 de dezembro de 2011 21:43
Pedro,
deixe-me lhe contar uma pequena experiência que vivi com minha filhinha quando ela tinha 5 aninhos. Eu a adotei já com a idade de 5 anos.
Ela tinha uma dificuldade muito grande para seguir regras, não aceitava muito a existência de Deus porque questionava a sua própria experiência de abandono.
Numa certa ocasião eu estava preparando o almoço e ela fez menção de mexer na panela do arroz quando esta ainda estava sobre o fogo. Eu disse para ela que não fizesse aquilo porque ela se queimaria. Expliquei-lhe sobre a dor da queimadura, haja visto que ela nunca havia se queimado.
Disse para ela que iria tomar banho e que ela deveria ficar longe do fogão. Convidei-lhe para vir para meu quarto, mas não a tranquei no banheiro comigo, nem fechei a porta do quarto à chave.
O fato é que foi só o tempo de trancar a porta do banheiro eu escutei o grito dela.Ela me desobedeceu. Pior, esperou que eu desse às costas para me desobedecer.
Eu sabia, pela grande dificuldade que ela tinha de obedecer regras que ela me desobedeceria. Mas, se eu quisesse vê-la amadurecer era preciso que eu a deixasse livre, até mesmo para me desobedecer, se esta fosse a escolha que quisesse tomar.
Penso que é assim com Deus. Ele nos concede liberdade absoluta sim. Intervém apenas quando é Sua vontade fazê-lo. E olhe que tenho discernimento de que não devemos confundir permissão divina com vontade divina. Nem tudo o que Deus permite é aquilo que Ele tem vontade que aconteça.
Temos um bom exemplo já no comecinho da Bíblia. Caim e Abel. Deus sabia o que se passava no coração de Caim. Tanto é que Ele o questionou pq seu rosto havia se desfalecido. Vejo neste instante Deus dando toda a liberdade para Caim, mas ao mesmo tempo chamando-lhe a atenção com relação as suas possíveis tomadas de decisão. Deus podia ter impedido Caim de matar Abel, mas não o fez.
Por isso afirmei que compreendo Deus como Alguém que não conhece limites para Sua vontade. Alguém que não Se limita por Sua própria essência como Ser Onipotente, mas que paradoxalmente conhece Suas possibilidades e limites quando está diante do nosso livre arbítrio. Deus ama a todos, bons e maus. Seu amor incondicional flui para atrair, mas a nós compete dizer se aceitamos ou não Seu amor. Em Si mesmo não há limites para Deus, Ele é Onipotente. Mas, mesmo em Sua Onipotência há, paradoxalmente, limitações. Deus não manipula ninguém. Seria ir contra Si mesmo. Ele é a verdade e a verdade em sua essência não usa de subterfúgios. Deus não nos violentaria para satisfazer-Se como autoridade. Sua soberania é independente de nós. Então, Ele simplesmente respeita nossa opinião, afinal Ele não deixa de ser quem Ele É por causa de mim. Neste sentido compreendo que nosso livre arbítrio é absoluto. Assim como absoluto é Deus em Si mesmo.
9 de dezembro de 2011 21:43
Vc disse que alguém perguntou: “qual é o limite determinado por Deus diante de alguém que mata outro?”
Ora, Deus sabia que Caim já estava odiando Abel. Em seu coração já começava a determinar a morte do irmão. Deus conversou com ele. Caim desistiu? Não. Deus não o restringiu, entendo que Ele não limitou Caim.
Agora reflita um pouco no caso de Paulo. Ele matava outros simplesmente pq tinham uma concepção diferente da sua. Seu comportamento mudou pq ele foi interpelado por Jesus, assim como foi Caim. “Paulo, por que me persegues?”
Paulo estava indo ao encontro de cristãos para aprisioná-los. Estevão foi morto apedrejado e Paulo foi um dos mentores. Deus não impediu, mas conhecendo Paulo e seu zelo conversou com ele e Paulo, diferentemente de Caim, arrazoou e entregou-se à vontade de Deus. Paulo assim como Caim usou seu livre arbítrio. As respostas que eles deram fizeram diferença diante das situações em que viviam: irmão contra irmão. O contexto era outro, mas a situação era semelhante. Deus não os limitou em seus livres arbítrios. Eles os utilizaram de forma absoluta.
Somos nós que determinamos a qualidade do nosso livre arbítrio, embora seja Deus que esteja no controle. No controle?
Deus é atemporal. Seu controle se manifesta cedo ou tarde para cada um de nós. É só uma questão de tempo. O mau não dará a última resposta. Um dia Deus intervirá e porá limites para o pecado humano. Ele cessará o mau que os homens fazem na Terra. E isto pq é Ele quem realmente está no controle, apesar de termos conosco o livre arbítrio. Será nosso livre arbítrio quem nos colocará ou não em Seu reino. Ele é o Salvador, mas a mim compete aceitar ou não a salvação que Ele oferece em Si mesmo.
um grande abraço