Comentando Provérbios 30

“Há três coisas que são maravilhosas demais para mim, sim, há quatro que não entendo”

Nosso querido leitor e amigo Marcos perguntou:

“Ruth, com relação à lição 7, do sábado, onde cita Provérbios 30:18-20, pergunto: A mulher adúltera, ali mencionada, pode ser, em alguma hipótese, comparada a Bete-Saba? Também no sábado, diz: “o escritor bíblico não tenha conseguido entender a beleza feroz do vôo da águia”. Há comentários que dizem que: o que era misterioso era o rastro, o caminho da águia (ares), da cobra (alturas), do navio (mar) e do casal (terra). E não a locomoção motora da águia como a lição enfatiza. Favor comente. Obrigado.”

“Há três coisas que são maravilhosas demais para mim, sim, há quatro que não entendo o caminho da águia no céu, o caminho da cobra na penha, o caminho do navio no meio do mar e o caminho do homem com uma donzela. Tal é o caminho da mulher adúltera: come, e limpa a boca, e diz: Não cometi maldade” (Provérbios 30: 18-20)

Contexto (Versão João F. Almeida Revista e Atualizada):

(verso 1-3) “Palavras de Agur, filho de Jaque, de Massá. Disse o homem: Fatiguei-me, ó Deus; fatiguei-me, ó Deus, e estou exausto porque sou demasiadamente estúpido para ser homem; não tenho inteligência de homem, não aprendi a sabedoria, nem tenho o conhecimento do Santo.”
Alguns comentaristas acreditam que Agur, filho de Jaque talvez fosse, à semelhança de Jó e Balaão, um indivíduo não-israelita e que tinha conhecimento do verdadeiro Deus.

Já o Comentário Bíblico Adventista diz que “Alguns intérpretes judeus acreditam que “Agur” era um nome alegórico para Salomão. Apresentam a primeira frase da seguinte forma: “As palavras do filho do Piedoso [ou Obediente]”. Referem-se a Davi como o “Piedoso”. A Vulgata apresenta uma ideia similar: “Palavras de que congrega [Salomão], filho do que transborda saber [Davi]” (Tradução do Scío San Miguel, 1847). Os que consideram que Salomão não foi o autor desta seção se apoiam em que tem um tom um pouco inferior à parte precedente do livro. Também destacam que é difícil que Salomão tenha podido escrever os versículos 2 e 3: “porque sou demasiadamente estúpido para ser homem; não tenho inteligência de homem, não aprendi a sabedoria, nem tenho o conhecimento do Santo.”
verso 4: ” Quem subiu ao céu e desceu? Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas na sua roupa? Quem estabeleceu todas as extremidades da terra? Qual é o seu nome, e qual é o nome de seu filho, se é que o sabes?”

Há aqui fortes expressões de quem tem discernimento sobre Deus como um Ser complexo e potente, alguém que tem um intenso desejo pelo conhecimento de Deus. Agur confessa sua total ignorância e a compartilha com a humanidade. Refletindo sobre a natureza demonstra uma grande admiração por aquilo que está por trás de tudo.

verso 5-6: “Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso.”

A palavra de Deus não deve ser misturada com as especulações humanas, as quais poderão estar totalmente erradas.

verso 7-9: “Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra:  afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário;  para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus.”

Aqui Agur ora para ser preservado da mentira. Ele quer ser honesto e verdadeiro. Ele ora para não cair na tentação das riquezas materiais. Pede apenas o que lhe é necessário. Demonstra ser um homem que se preocupa em ser ético diante de Deus e dos homens.

“O maior perigo das riquezas é que tendem a fazer acreditar que o rico não necessita da bondade de Deus, e o induz a separar-se da única Fonte da verdadeira riqueza (Jó 21: 13-15; Salmo 73: 12). E o pobre se sente muito inclinado a pensar que Deus não se preocupa com ele, e sua escassez econômica pode impulsioná-lo a empregar meios pecaminosos para suprir suas necessidades.” (Comentário Bíblico Adventista)

(verso 10): “Não calunies o servo diante de seu senhor, para que aquele te não amaldiçoe e fiques culpado.”

“A vida de um escravo pode fazer-se muito mais difícil se o que for livre o acusa secretamente. Deve mostrar-se compaixão para os de condição humilde.” (Comentário Bíblico Adventista)

Lembrei-me agora de Romanos 14:4: “Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster.”

(verso 11): “Há daqueles que amaldiçoam a seu pai e que não bendizem a sua mãe.

Aqui acontece a descrição da geração dessa época, a qual se caracteriza pela deslealdade para os pais, pecado que em Israel se castigava com a morte. (Êxodo. 21: 17; Provérbios 20: 20).

(verso 12): “Há daqueles que são puros aos próprios olhos e que jamais foram lavados da sua imundícia.”

O Comentário Bíblico Adventista sugere que se compare com a acusação de Cristo aos fariseus Mateus 23: 25-28; Lucas 18: 9-11.

(verso 13-16): “Há daqueles – quão altivos são os seus olhos e levantadas as suas pálpebras! Há daqueles cujos dentes são espadas, e cujos queixais são facas, para consumirem na terra os aflitos e os necessitados entre os homens. A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá. Há três coisas que nunca se fartam, sim, quatro que não dizem: Basta! Elas são a sepultura, a madre estéril, a terra, que se não farta de água, e o fogo, que nunca diz: Basta!”

A “sanguessuga” é um elemento de certa forma estranha e de difícil compreensão, pois segundo A.E.Shipley as sangrias nunca foram usadas medicinalmente entre os hebreus. (Prefácio ao livro de Harding e Moore, Fauna of British India) Provavelmente isto denote alguma simbologia do “insaciável”: talvez por isso a expressão “Dá, Dá”.

Segundo o Comentário Bíblico Adventista “este vocábulo parece com o siríaco, com o hebreu moderno e com o árabe, e também pelo testemunho da LXX, a maioria dos comentadores acreditam que ‘aluqah’ é o nome de uma sanguessuga grande, comum na Palestina, cuja avidez de sangue é insaciável.”

Segundo o dicionário bíblico: “Chupador. Em Provérbios 30:15 a sanguessuga é tomada como tipo de insaciável apetite. São vulgares na Palestina as bichas medicinais – as que se prendem à boca dos cavalos quando estes vão beber – e outras espécies.” (http://biblia.com.br/dictionary/)

 (verso 17): “Os olhos de quem zomba do pai ou de quem despreza a obediência à sua mãe, corvos no ribeiro os arrancarão e pelos pintãos da águia serão comidos.”

Ao que parece Provérbios 30 está repleto de aforismo, isto é, de expressões que encerram um preceito moral. Os olhos parecem revelar o órgão escolhido pelos quais a rebeldia filial é revelada. Dá a entender que a consequência será que seus corpos serão deixados insepultos e as aves de rapina o comerão. Isto me fez lembrar de 1 Reis 21:19-25.

Punição para o rei Acabe por seus pecados e grandes maldades:“Assim diz o SENHOR: Mataste e, ainda por cima, tomaste a herança? Dir-lhe-ás mais: Assim diz o SENHOR: No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, cães lamberão o teu sangue, o teu mesmo.”

Punição para a rainha Jezabel, esposa do rei Acabe por seus pecados e grandes maldades:

“Também de Jezabel falou o SENHOR: Os cães devorarão Jezabel dentro dos muros de Jezreel. Quem morrer de Acabe na cidade, os cães o comerão, e quem morrer no campo, as aves do céu o comerão. Ninguém houve, pois, como Acabe, que se vendeu para fazer o que era mau perante o SENHOR, porque Jezabel, sua mulher, o instigava;”

(verso 18-20): “Há três coisas que são maravilhosas demais para mim, sim, há quatro que não entendo: o caminho da águia no céu, o caminho da cobra na penha, o caminho do navio no meio do mar e o caminho do homem com uma donzela. Tal é o caminho da mulher adúltera: come, e limpa a boca, e diz: Não cometi maldade.”

Segundo o Comentário Bíblico Adventista “as quatro coisas mencionadas são exemplos do que é inescrutável na natureza. Alguns comentaristas dizem que as quatro coisas têm algo em comum: não deixam rastro no caminho que seguiram. As alegorias que assemelham à águia com Cristo (Deuteronômio 32: 11-12), à serpente com o diabo que ataca a Cristo que é a Rocha (Apocalipse 12: 9), o navio com a igreja que segue seu curso e à donzela com a Virgem Maria, não se atem aos sãos princípios de interpretação bíblica. A adúltera e todos os outros pecadores cujos atos não presenciaram seus semelhantes e dos quais acreditam que não ficou rastro algum, no dia do julgamento verão todas suas transgressões descobertas (ver Mateus. 12: 36; 2 Coríntios 5:10).”

Você me pede Marcos: “diz: “o escritor bíblico não tenha conseguido entender a beleza feroz do voo da águia”. Há comentários que dizem que: o que era misterioso era o rastro, o caminho da águia (ares), da cobra (alturas), do navio (mar) e do casal (terra). E não a locomoção motora da águia como a lição enfatiza. Favor comente. Obrigado.”

De fato há comentaristas que dizem que o que deixa Agur maravilhado é o fato de que estas coisas não deixam traços atrás de si. Seriam os seus movimentos ou o que podem representar, então, que o deixavam maravilhado?

A águia é uma das mais fortes e corajosas aves de rapina. A ela é dado o título de rainha das aves, talvez por isso lhe sejam atribuídas as características da soberba e vaidade. As águias alimentam-se quase exclusivamente de carne fresca, que conseguem atacando animais vivos. Caçam de dia, aguentando sucessivas horas de voo e atingindo grandes alturas. Elas chegam a alcançar 95 centímetros de comprimento e dois metros de envergadura. Vivem acasaladas. Macho e fêmea caçam juntos, fazendo grande devastação nos pequenos mamíferos e aves, chegando muitas vezes a atacar os de maior tamanho, como cabritos e ovelhas. As águias necessitam de muito terreno por isso vivem isoladas e defendem o seu isolamento.

Já li alguns comentários de especialistas que dizem que as mensagens que circulam na internet sobre a automutilação das águias, não passam de um mito. Dizem que esse processo de automutilação para o prolongamento da vida não existe, jamais foi constatado pelos ornitólogos. O que é dito, é que é verdade que algumas águias vivem cerca de quarenta anos, e que depois de certa idade elas não mais conseguem segurar as presas nem voar com a mesma desenvoltura.

O comentarista da lição diz: “A águia é vento e asas, ossos, tendões e sangue. É carniceira, pescadora e ladra. Ela se lança das nuvens para a água com a velocidade de uma tempestade ciclônica. Em seu ninho, a águia manca sobre suas garras dobradas para não cortar os filhotes. Ela tem majestade, poder e graça. É representada por todas essas metáforas, e ainda é maior do que a soma delas. Não é de admirar, então, que o escritor bíblico não tenha conseguido entender a beleza feroz do voo da águia.”

E ele acrescenta como ilustração a Davi, que chegou a se voltar para “uma imagem semelhante em seus salmos, acerca de ser abrigado sob as asas de Deus.”3 Talvez pelo ar majestoso e protetor da águia com suas asas a protegerem seus filhotes da ação do vento, do sol ou dos possíveis predadores.

No Salmo 61:4 temos : “Assista eu no teu tabernáculo, para sempre; no esconderijo das tuas asas, eu me abrigo.”

A lição espiritual que podemos tirar disto é que Davi observando as águias viu que a sobrevivência dos filhotes dependia em sua totalidade da proteção e segurança de permanecer sob aquelas asas. Davi usa a metáfora das asas de Deus para descrever Seu poder protetor e misericordioso. Davi aprendeu a lição da permanência. De nada vale nos arrependermos, pedirmos perdão e voltarmos à velha prática dos pecados. Nossa única esperança de vitória consiste em habitar na “tenda” de Deus e nos refugiarmos sob Suas “asas” para sempre. Nunca devemos soltar a mão do Pai – essa é a principal lição. Nossa vulnerabilidade é profunda e a águia também representa a imagem do inimigo voraz que machuca e mata. Temos uma grande necessidade de encontrar abrigo à sombra das asas de Deus.

“Há, constantemente, referências na Bíblia ao espantoso número de aves de presa de todos os tamanhos, que se acham na Palestina e na Arábia. Em algumas das passagens, onde ocorre a palavra ‘águia’, teria sido melhor tradução ‘abutre’. Por exemplo, em Miquéias 1:16, “faze-te calva, e tosquia-te… alarga a tua calva como a águia”, somente se pode referir isto ao abutre, que é desprovido de penas na cabeça e no pescoço, o que é, realmente, uma disposição da Natureza, visto como esta ave tem por hábito introduzir a cabeça nas carcaças dos animais mortos. Outra ave denominada ‘águia’ é o abutre grifo, cujo hábito de pousar nas mais altas elevações dos penhascos se acha exatamente descrito em Jeremias 49:16 e Jó 39:27 a 30. Nesta última passagem, “seus olhos a avistam de longe”, há uma referência ao quase incompreensível alcance de vista do abutre. Quando um animal cai morto ou ferido no deserto, contam os viajantes que dentro de um espaço de tempo pequeníssimo aparecem estas aves sobre ele, sendo certo que um minuto antes nem uma se via. Uma simples carcaça torna-se, desta maneira, o chamariz de uma multidão de aves de presa (Mateus 24:28). A força da ave e o seu vôo rápido acham-se mencionados em Jeremias 4:13 e os 8:1. No Salmo 103:5 há uma referência à sua longevidade e aparente rejuvenescimento. O seu cuidado de mãe, a que se faz alusão em Deuteronômio 32:11-12, especialmente no ato de encorajar os filhinhos nas primeiras tentativas de vôo, é muito característico da classe de aves a que a águia pertence. Como a águia voa a grande altura, parecendo aproximar-se do céu, tem sido tomada como um emblema de S. João pelo penetrante e profundo conhecimento das verdades divinas, que se nota nos escritos deste apóstolo. A águia de ouro e a águia imperial são ambas muito conhecidas na Palestina, ainda que não tanto como o abutre grifo, e são principalmente vistas nos vales de rocha e nas alturas de cordilheiras raramente visitadas. O quebrantoso de Levítico 11:13 e Deuteronômio 14:17, ou abutre barbudo, tem esse nome pelo fato de levar consigo até às maiores alturas os ossos cheios de medula, deixando-os depois cair sobre as pedras para quebrá-los. Uma conhecida tradição afirma que o poeta Ésquilo encontrou inesperadamente a morte pelo fato de uma destas aves ter deixado cair sobre a sua cabeça calva uma tartaruga, julgando que fosse uma pedra. Outras águias que se vêem na Terra Santa são a águia morena, a águia de Bonelli e a águia de garras curtas – esta última é a mais comum, alimentando-se de répteis, que ali são notavelmente abundantes.” (http://biblia.com.br/dictionary/)

O caminho do homem com uma virgem me parece não estar ligado ao fator reprodução, mas ao crescimento poético (idílico) do amor entre um homem e uma mulher. Há coisa mais misteriosa do que o sentimento que une um homem e uma mulher a ponto de tornarem-se cúmplices, amigos, parceiros, protetores e até mesmo não admitirem mais viver longe um do outro?

Com relação à mulher adúltera, ele parece maravilhar-se mesmo da mulher adúltera, talvez porque faça uma paródia em relação à donzela, comentada no trecho anterior. Ele se maravilha do fato dela encobrir seu pecado e calmamente declarar que nada fez de errado. Talvez o suposto cinismo nas palavras de Agur com o qual ele começa no verso 1 esteja de volta aqui.

(verso 2-3) “porque sou demasiadamente estúpido para ser homem; não tenho inteligência de homem, não aprendi a sabedoria, nem tenho o conhecimento do Santo.”

Estaria Agur respondendo a alguém que lhe contestava ou acusava injustamente de algo? Não é cínico o pecador mentiroso e covarde? Não é cínica a arrogância dos que negam a sua responsabilidade diante de crimes cometidos e não assumidos?

Você perguntou Marcos se “A mulher adúltera, ali mencionada, pode ser, em alguma hipótese, comparada a Bete-Saba?”

Esta é uma questão bem complexa. Não podemos ler os fatos históricos da Bíblia concernente a um mundo oriental e de séculos bem anteriores ao nosso com os nossos olhos e valores ocidentais e modernos. Isto é, como ler a história de Bete-Saba?

Particularmente, acho que não. Particularmente, não me atrevo a condená-la. Primeiro, os reis tinham direito absoluto sobre as mulheres. Segundo, a adúltera corria o risco de sofrer apedrejamento. Terceiro, a mulher daquela época não tinha o mesmo senso de valor. Os direitos civis era praticamente inexistente para elas. Culpa de Deus? Não, dos homens e suas formas de se organizarem no poder.

A Bíblia não registra se ela cedeu passivamente, mas que ela obedeceu ao chamado do rei. Há uma diferença significativa ai. A Bíblia também não menciona o comportamento de Bete-Seba após o adultério. Ficou ela calada realmente para esconder seu pecado? Ou teve que submeter-se a situação constrangedora? Como se deu o fato?

“Davi era homem de guerra e agora estava ocioso. Enquanto passeava pelo palácio real, viu uma mulher tomando banho. Como já era poderoso e tinha assimilado o estilo dos monarcas de seus dias, permitiu que a atração física e a luxúria brotassem de seu interior sem censura. Tinha passado a pensar como os monarcas vizinhos: “Quando deseja algo, toma pela força”. Naquele período não estava mais sendo regido pela ética e nem pelo temor de Deus, mas pelos impulsos carnais. Os pecados e crimes punidos nos súditos, eram tolerados para os reis. Para os súditos, havia restrições, não para os reis. Então, Davi, após ser informado de quem era a mulher, enviou mensageiros para trazer Bate Seba ao palácio. “O verbo empregado “tomou” Bate Seba é um verbo que indica que a tomou pela força. Este mesmo verbo é usado quando os reis atacaram Ló e sua família e “tomaram” tudo que quiseram, pela força.

Informado por Bate Seba sobre a gravidez, Davi procurou encobrir a situação, ordenando a vinda de Urias a Jerusalém para trazer um relatório da guerra. Após ouvir o relatório de Urias, o rei o despediu e o autorizou a ir para sua casa. Pensando em agradar Urias, enviou-lhe um presente antes que Urias chegasse em casa. Mas Urias se recusou a ir para casa e dormiu com os empregados do palácio. Vendo seus planos serem frustrados, Davi convidou Urias ao palácio novamente e ofereceu-lhe um jantar. Nesse jantar, ofereceu bebida alcoólica a Urias com a intenção de embriagá-lo para que, perdendo a razão, ele fosse para sua casa. Mas Urias, embora com a mente parcialmente embotada pela bebida, se negou a ir para casa. Vendo seus planos frustrados mais uma vez e receando que seu pecado fosse descoberto, enviou uma carta a Joabe pelas mãos de Urias. Na carta, Davi ordenou a Joabe que colocasse Urias em situação de risco para que morresse. E foi o que aconteceu. Com Urias morto, achou-se Davi no direito de tomar a viúva, por esposa.” (Ivanaudo Barbosa http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2010/com642010.html)

(verso 21-22) “Sob três coisas estremece a terra, sim, sob quatro não pode subsistir: sob o servo quando se torna rei; sob o insensato quando anda farto de pão; sob a mulher desdenhada quando se casa; sob a serva quando se torna herdeira da sua senhora.”

Segundo o Comentário Bíblico Adventista “a gente se estremece com semelhantes desatinos: quando um escravo é feito rei, pois carece da preparação necessária para ocupar esse cargo (cap. 19) quando o néscio que é rico agrada seus desmedidos desejos com prejuízo de outros (cap. 29: 2); quando uma mulher sem atrativos, amargurada e solitária finalmente se casa, descarrega seu ressentimento contra os que antes a desprezavam; e por último, quando uma serva toma o lugar de sua senhora, mas carece da preparação necessária para governar a casa, como no caso do servo mencionado.”

Agur com estas palavras me parece não ser nada estúpido ou ignorante como afirma. Com a sensatez de um sábio revela o grande perigo da insatisfação, do não valorizar o que se tem, do temor que há quando o oprimido assume o poder. Tornar-se á um opressor?

(verso 24-28) “Há quatro coisas mui pequenas na terra que, porém, são mais sábias que os sábios: as formigas, povo sem força; todavia, no verão preparam a sua comida;  os arganazes, povo não poderoso; contudo, fazem a sua casa nas rochas; os gafanhotos não têm rei; contudo, marcham todos em bandos;  o geco, que se apanha com as mãos; contudo, está nos palácios dos reis.”

Agur critica a indolência, aplicando o exemplo das formigas. Os pequenos fazem o que os grandes não querem fazer. Isto dá uma boa reflexão, não acha?

Os arganazes seriam os texugos das rochas?

Com relação aos gafanhotos eles seguem em fileiras, sem se baterem uns nos outros. E sem terem um rei? Interessante. Isto faz apelo à importância da consciência individual compondo à coletiva. Os animais realmente têm muito que nos ensinar. Isto aqui também daria uma boa reflexão.

O geco seria a aranha ou o lagarto? O lagarto é tão fraco, entretanto, penetra nos palácios reais. Interessante também!

(verso 29-33) “Há três que têm passo elegante, sim, quatro que andam airosamente: O leão, o mais forte entre os animais, que por ninguém torna atrás;  o galo, que anda ereto, o bode e o rei, a quem não se pode resistir. Se procedeste insensatamente em te exaltares ou se maquinaste o mal, põe a mão na boca. Porque o bater do leite produz manteiga, e o torcer do nariz produz sangue, e o açular a ira produz contendas.”

Segundo o Comentário Bíblico Adventista “a tradução literal é “zarzir mothnáyim”. Como esta expressão só aparece aqui, não dá para se saber a que animal se refere. Em hebreu moderno, “zarzir” é uma classe de pássaro. As antigas versões traduzem “galo”, outras conjeturas são: “cavalo”, “zebra”, “águia” ou “galgo”.

De qualquer forma que mensagem essencial pode ser focada aqui? Seria a imponência? A arrogância? A compreensão que devemos ter de que somos realmente pó e completamente dependentes de Deus? De que serve as nossas vaidades?

Há conselhos, para todos os homens, subentendidos nestes versos de provérbios 30: Deve haver reconhecimento do homem de que ele é pó e o Altíssimo é o Todo-Poderoso. Deve haver reconhecimento do erro cometido e em consequência confissão. Deve haver gratidão e submissão na disciplina do Senhor, afinal“Bem-aventurado é o homem a quem Deus disciplina; não desprezes, pois, a disciplina do Todo-Poderoso”. Deve-se ser humilde e afastar-se de toda e qualquer arrogância e vaidade. Deve-se buscar a Deus.
“O que era misterioso era o rastro, o caminho da águia (ares), da cobra (alturas), do navio (mar) e do casal (terra)? Ou maravilhava Agur a locomoção motora da águia?”

Após refletir sobre todo o contexto das reflexões de Agur, eis o que penso, Marcos. Deixemos o Salmo 39: 4-13 nos fazer refletir sobre uma possível resposta.

“Dá-me a conhecer, SENHOR, o meu fim e qual a soma dos meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade. Deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; à tua presença, o prazo da minha vida é nada. Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade. Com efeito, passa o homem como uma sombra; em vão se inquieta; amontoa tesouros e não sabe quem os levará. E eu, Senhor, que espero? Tu és a minha esperança. Livra-me de todas as minhas iniquidades; não me faças o opróbrio do insensato. Emudeço, não abro os lábios porque tu fizeste isso. Tira de sobre mim o teu flagelo; pelo golpe de tua mão, estou consumido. Quando castigas o homem com repreensões, por causa da iniquidade destróis nele, como traça, o que tem de precioso. Com efeito, todo homem é pura vaidade. Ouve, SENHOR, a minha oração, escuta-me quando grito por socorro; não te emudeças à vista de minhas lágrimas, porque sou forasteiro à tua presença, peregrino como todos os meus pais o foram. Desvia de mim o olhar, para que eu tome alento, antes que eu passe e deixe de existir.”

A águia voa alto nos céus, onde no íntimo os homens gostariam de estar. A águia que voa nos ares fala de liberdade de ação, mas a águia também passa e seus dias também são contados. O que deixará como rastro em sua existência tão vivida através da força, da sagacidade e da ferocidade? Ela viveu na experiência dos seus instintos. Alimentou-se para sobreviver e para a própria sobrevivência de sua espécie. E o homem? Em que consiste sua existência? Quais são seus rastros sobre a face da Terra? Que tipos de movimentos no existir tem feito?

Será que ele não entendia realmente ou se maravilhava por chegar a compreender o universo das águias e o correlacionava ao universo humano, exatamente pelo muito observar?

A cobra e o seu “caminho na penha” (penha são pedras grandes, portanto, nas alturas): Têm sido encontradas umas trinta espécies de serpentes na Palestina, muitas das quais são altamente venenosas. Em Gênesis 3:1,13 se diz ser a cobra a mais sagaz do que todos os animais selvagens. Jesus em Mateus 10: 16 fala sobre a prudência tradicional da serpente.

As perigosas propriedades da classe serpente acham-se mencionadas no Salmo 58:4 : ‘Têm peçonha semelhante à peçonha da serpente’, e também em Deuteronômio 32:24 e Provérbios 23: 32. Parece, em algumas passagens, afirmar-se que o veneno reside na língua (Jó 20:16 – Salmo 140:3), em vez de ser atribuído à mordedura, como corretamente se acha indicado em Número 21:9 e Provérbios 23:32. Ao hábito que têm as serpentes de se ocultarem, refere-se o livro do Eclesiastes 10:8, e o do profeta Amós 5.19 e a maneira particular do seu caminhar é considerada como maravilhosa.

Agur parece ter estudado bem esses detalhes nas serpentes. Se levarmos para o universo humano com nossas línguas podemos ser venenosos, com nossa astúcia podemos machucar o próximo, com a maldade em nossos corações podemos nos ocultar e mesmo assim praticar o mal. Há mais do que os movimentos a encantar numa serpente, pois nela podemos ver o que o homem pode ser também.

Com relação ao navio, o vejo como símbolo da ação do homem. O homem produzindo com sua intelectualidade um artefato que se não o leva às alturas, o faz desbravar mares. E se entendermos mares como nações. Penso nas obras que os homens têm feito nas mais diversas nações. Os homens independentes de sua cor de pele, ou do formato dos seus olhos. Isto me leva a Eclesiastes 2: 16-25:

“Pois, tanto do sábio como do estulto, a memória não durará para sempre; pois, passados alguns dias, tudo cai no esquecimento. Ah! Morre o sábio, e da mesma sorte, o estulto! Pelo que aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se faz debaixo do sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento. Também aborreci todo o meu trabalho, com que me afadiguei debaixo do sol, visto que o seu ganho eu havia de deixar a quem viesse depois de mim. E quem pode dizer se será sábio ou estulto? Contudo, ele terá domínio sobre todo o ganho das minhas fadigas e sabedoria debaixo do sol; também isto é vaidade. Então, me empenhei por que o coração se desesperasse de todo trabalho com que me afadigara debaixo do sol. Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, ciência e destreza; contudo, deixará o seu ganho como porção a quem por ele não se esforçou; também isto é vaidade e grande mal. Pois que tem o homem de todo o seu trabalho e da fadiga do seu coração, em que ele anda trabalhando debaixo do sol? Porque todos os seus dias são dores, e o seu trabalho, desgosto; até de noite não descansa o seu coração; também isto é vaidade. Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se?”

Ares, terra e mar são o palco da ação do homem. É aqui que ele vive a história de sua existência. Mas, acima, muito acima deste cenário está o Altíssimo.

“Porque é ele quem forma os montes, e cria o vento, e declara ao homem qual é o seu pensamento; e faz da manhã trevas e pisa os altos da terra; SENHOR, Deus dos Exércitos, é o seu nome.” (Amós 4:13)

Espero, sinceramente, Marcos, tê-lo ajudado. Que Deus nos dê, pois sabedoria, mas não a dos homens, e sim a Sua.

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Referências:

. Comentário Bíblico Adventista.

1-W.A.Reis Jones, M.A., B. Sc, Cônego de Lincoln, Vigário de North Somercoles. Louth. Provérbios.

2-Andrew F. Walls., M.A., Conferencista em Teologia, Fourah Bay College, Sierra Leone. Provérbios.

Ruth Alencar

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5 respostas para Comentando Provérbios 30

  1. Marcos Sancho diz:

    Amiga Ruth. Preciso estudar mais sobre a simbologia da águia. Gostei de Dt 32,11-12. Estava cismado com a águia, após ler Lv 11,13-14 na tradução de J.F.A. Mas na tradução, por exemplo, da Pastoral(Paulus), em Lv 11,13+, na relação das aves não aparece a águia, mas "abutres, gipaeto, xofrango, milharfe negro, milhafre vermelho, corvo, avestruz,coruja, gaivota, gavião, mocho, alcatraz, íbis…".

  2. Anônimo diz:

    Agur gostava de contemplar a natureza…

    “Há três coisa que me ultrapassam e uma quarta que não compreendo: o caminho da águia no céu, o caminho da serpente na rocha, o caminho da nave no mar e o caminho do homem com uma donzela”.

    O caminho a percorrer não é visível aos nossos olhos; mesmo sem existir um caminho traçado, caminham para atingir o alvo!

    Incluo-me entre os comentaristas que reconhecem que a ênfase recai não sobre o percurso ou o movimento da águia, mas no êxito da caminhada sem que haja um indicativo do caminho a percorrer e nem as marcas do caminho percorrido.

    A paz!
    Lúcia.

  3. Ruth AlencarMay 14, 2011 10:49 AM

    Marcos,

    vc diz: "…na tradução, por exemplo, da Pastoral(Paulus), em Lv 11,13+, na relação das aves não aparece na relação das aves não aparece a águia, mas "abutres, gipaeto, xofrango, milharfe negro, milhafre vermelho, corvo, avestruz,coruja, gaivota, gavião, mocho, alcatraz, íbis…".

    Sei que não deu tempo de vc ler o texto ainda, mas abordei essa questão dos abutres, quando apresentei a citação do dicionário bíblico:

    “Há, constantemente, referências na Bíblia ao espantoso número de aves de presa de todos os tamanhos, que se acham na Palestina e na Arábia. Em algumas das passagens, onde ocorre a palavra 'águia', teria sido melhor tradução 'abutre'. Por exemplo, em Miquéias 1:16, “faze-te calva, e tosquia-te… alarga a tua calva como a águia”, somente se pode referir isto ao abutre, que é desprovido de penas na cabeça e no pescoço, o que é, realmente, uma disposição da Natureza, visto como esta ave tem por hábito introduzir a cabeça nas carcaças dos animais mortos. Outra ave denominada 'águia' é o abutre grifo, cujo hábito de pousar nas mais altas elevações dos penhascos se acha exatamente descrito em Jeremias 49:16 e Jó 39:27 a 30. Nesta última passagem, “seus olhos a avistam de longe”, há uma referência ao quase incompreensível alcance de vista do abutre. Quando um animal cai morto ou ferido no deserto, contam os viajantes que dentro de um espaço de tempo pequeníssimo aparecem estas aves sobre ele, sendo certo que um minuto antes nem uma se via. Uma simples carcaça torna-se, desta maneira, o chamariz de uma multidão de aves de presa (Mateus 24:28). […]"

  4. Porque ele diz que ha ttes coisas quando na verdade existem quatro?

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