I- Uma Cidade Fantasma

Oradour -sur- Glane

Com este texto iniciaremos uma série de estudos sobre os sinais de cumprimento de uma das maiores promessas do Senhor: Eis que Eu vou … mas, voltarei para que onde Eu estiver estejais vós também.

A 200 km de Bordeaux, no departamento de Haute-Vienne há uma pequena cidade francesa chamada Oradour-sur-Glane. Desde 1944 Oradour é uma cidade “fantasma”, pois foi palco de um dos maiores massacres cometidos pelos nazistas durante a II Grande Guerra.

No dia 06 de Junho as tropas aliadas desembarcaram na Normandia, no que ficou conhecido como Dia D. Isto forçou as tropas nazistas fixadas na França a se dirigirem à Normandia para combaterem contra as forças aliadas. Uma delas foi a 2ª Divisão Panzer SS Das Reich, da Waffen-SS, tropa de combate de elite da SS.

Antes de nossa reflexão divulgo algumas imagens desta viagem que fizemos. Este primeiro texto será uma reflexão sobre o mais triste e arrasador momento da história desta cidade. Alguns poderão estranhar nossa escolha de lugar para visitar, mas eu desejava conhecer lugares que havia visitado nas páginas dos livros. Foi um aprendizado inesquecível. Há muitas lições naquelas ruínas. É uma cidade sem vida, mas em seu silêncio há um clamor que nem o tempo será capaz de acalmar.

“Em outro tempo, que se chama ainda ontem – para os que sabiam localizá-la, uma encantadora cidadezinha da França; […] para onde os moradores de Limoges, a cidade mais próxima, gostavam de ir para respirar o ar puro do campo, experimentar todas as alegrias, toda a serena paz da natureza, e pescar no rio Glane. […] Ouradour será apenas isto, simples e modestamente: uma pequena região comparável a muitas outras, no território francês. Mas, veio o 10 de Junho de 1944. Foi o dia em que o exército alemão desonrou-se. E desde este dia tragicamente, Ouradour entrou para a História. Era mais ou menos quatorze horas… na morna sonolência do início da tarde, […] Oradour descansava, […]. Nenhum pressentimento perturbava sua calma. As crianças estavam na escola, as ruas estavam calmas, quando um motor… um alemão… outros. Um tanque, dois… cinco… seis; um caminhão… três caminhões… dez caminhões… que estacionaram em diferentes pontos da cidade. A população observou… o que iria lhes acontecer?” (Edition de l’Association des Familles des Martyrs d’Oradour-sur-Glane.)

Os homens do 4° Regimento Panzer Grenadier Der Führer cercaram a cidade. A população foi reunida, as mulheres e crianças foram encaminhadas para a igreja e os homens para lugares variados. As portas da igreja foram fechadas e as mulheres e crianças foram ali sacrificadas, queimadas em vida. Sem nenhuma chance de defesa, nem mesmo os pequeninos bebês. Vou poupar-lhes dos detalhes de alguns terríveis registros porque tenho um foco específico para este texto. Além do mais, não tenho a intenção de lhes trazer tristeza ao coração, ou provocar o sentimento de ódio ou revolta.

Os homens foram enfileirados e metralhados… também sem nenhuma chance de defesa. E como se não bastasse os nazistas cobriram seus corpos com palhas e tocaram fogo. A intenção deles era de matar quem ainda estava em vida. Ninguém deveria sobreviver e eles não queriam deixar provas do crime. No total, 197 homens, 204 mulheres e 205 crianças perderam suas vidas naquele terrível dia.

Quando a guerra acabou, o General De Gaulle decidiu que a cidade nunca mais seria reconstruída, mas que permaneceria como um símbolo do sofrimento francês durante o nazismo. Uma nova Oradour foi construída próxima das ruínas da antiga cidade. A cidade incendiada permanece, para registro histórico, em seu estado de destruição numa impressionante e cuidadosa manutenção. Logo na entrada da cidade existem duas placas com um pequeno resumo da história do lugar, a identificação do destacamento militar nazista que provocou o massacre e o clamor para que o que lá aconteceu não seja jamais esquecido. É de Charles de Gaule a seguinte frase: “Oradour-sur-Glane é o símbolo da tristeza da pátria. É necessário conservar sua lembrança, pois nunca mais esta tristeza deve repetir-se.”

Vale ressaltar que este é o único monumento histórico na França cuja entrada é gratuita.
A entrada para a cidade:

A igreja onde foram queimadas vivas as mulheres e crianças:

No interior da igreja:

Quando a igreja estava tomada de fumaça os nazistas atiraram ao azar na fumaça até acabar suas munições.

Algumas fotos da cidade sem vida:


Os franceses investiram e desenvolveram uma técnica de conservação dos carros que foram queimados, de forma que eles resistem às intempéries das estações: chuva, neve, verão. 


Dentro deste poço os nazistas jogaram corpos de vítimas.


Os objetos desta casa que resistiram às chamas foram conservados na mesma posição que estavam.

O cuidado, limpeza e manutenção destas ruínas é algo simplesmente impressionante.

A documentação histórica deste massacre:


Na cidade em ruínas o governo Francês construiu um Mausoléu em homenagem às vitimas. Objetos pessoais dos moradores estão lá reunidos, assim como os nomes com datas de nascimento e pequenas histórias dos moradores.

Esta é a porta para a entrada do Memorial. Lá dentro é impressionante. Um verdadeiro museu de história no mais profundo interior da França.


O cemitério
Um cemitério foi erguido com túmulos individuais e coletivos. As cinzas dos corpos foram recolhidas e colocadas na capela do cemitério.

O que mais me chocou foi o fato de que entre os soldados da divisão do Reich que provocou o massacre, havia 14 franceses Alsacianos. Quando a ira vem do inimigo até que se suporta, mas quando vem do “irmão” é algo simplesmente doloroso de suportar. Alsace é uma região francesa (equivalente ao que chamamos de estado aqui no Brasil).
Qual a justificativa para tal horror? Uma das muitas justificativas dadas pelos nazistas foi: “nos enganamos de cidade. Nosso alvo deveria ter sido Oradour-sur-Vayres”.
Que diferença faz uma cidade pela outra? O que se concluiu foi que houve um sentimento de vingança devido o movimento da resistência francesa.
Em 1953, em Bordeaux, foi aberto um processo de julgamento dos assassinos. Dos 65 identificados, somente 21 compareceram. Este processo durou 9 anos. Qual foi a razão para tão longo tempo? “Falta de provas precisas”. Os familiares das vítimas reforçaram com veemência durante todo o processo que não queriam vingança, mas justiça. Em 1983 um processo foi aberto em Berlim e o tenente Barth foi condenado à prisão perpétua. Em 1989 caiu o muro de Berlim.
No processo de Bordeaux alguns desses nazistas foram condenados à morte, outros a uma pena de 5 à 12 anos de reclusão. Os franceses alsacianos foram anistiados em nome da “unidade da França”. Claro que este resultado não fez justiça e os familiares ficaram com a dor do sentimento da perda e da injustiça.
Mas, se toda a população foi dizimada como os detalhes do massacre puderam ser contados? Por exemplo, o registro do caso dos 5 rapazes e uma moça que passavam de bicicleta pelas redondezas da cidade no momento da invasão e que foram presos e submetidos ao mesmo destino dos moradores. 
Quem contou os detalhes dessa página da história?

Continuaremos…

Uma Cidade Fantasma – parte 2

Ruth Alencar

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4 respostas para I- Uma Cidade Fantasma

  1. Desculpem a má qualidade das fotos. Nesta época não havia ainda a câmera digital e para complicar, meu scanner está péssimo.

  2. Anônimo diz:

    Muito bom seu post è sempre bom saber um pouco de historia mesmo sendo triste, moro na Italia e em quase todo canto teve algo de distruido, meu pai quando pequeno morava em uma rua principal e a sua casa era invadida por alemaes, que dormiam e comiam ali.

  3. Anônino,

    Ficamos felizes de ter gostado.

    Sim, é muito bom conhecer a história. Podemos aprender muito com tudo isso que ocorreu. Muito triste, mas real!

    Grande abraço!

  4. E pensar que tem gente que diz que o holocausto nunca aconteceu…

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