Evitando o Sensacionalismo das Catástrofes

O Brasil foi abalado semana passada por um deslizamento de terra em Teresópolis e Nova Friburgo, RJ que já começa a ser considerado um dos maiores de todos os tempos. O número de mortos já ultrapassa 600 e infelizmente, tudo indica que continuará a subir. Fotos em vários jornais mostram a magnitude da tragédia, comunidades inteiras dizimadas, grandes prejuízos, pedras imensas ocupando ruas destruídas.
Tirando a imprudência das construções sem critérios, os desmatamentos desvairados e o aquecimento global que emolduram essas catástrofes recentes, é inegável que elas acabam reforçando uma certa psiquê adventista e sua tendência a ver em cada catástrofe como O SINAL definitivo de o que o fim está eminente.
Mas é sempre bom lembrar as palavras de Jesus ao dizer que esses abalos NÃO sinalizam o fim por assim dizer: “E ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; olhai não vos perturbeis; porque forçoso é que assim aconteça; mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino; e haverá fomes e terremotos em vários lugares. Mas todas essas coisas são o princípio das dores.” (Mateus 24:6-8).
Veja que Jesus descreve esses sinais que incluem catástrofes naturais – desde a destruição de Jerusalém em 70 A.D. – como o “princípio das dores” que ainda “não são o fim”.
O Dr. Jon Paulien, reitor da faculdade adventista de Teologia em Loma Linda ressalta o a distinção entre sinal do fim e sinais dos “tempos”.[1] Para ele, catástrofes naturais sinalizam os tempos que preenchem o período entre a primeira vinda de Cristo e a Segunda. Isso explicaria porque então a frequência e intensidade dos sinais das “dores” é inconstante e esporádica. Há catástrofes fortes, seguidas de mais fracas ou vice-versa. Em outras palavras, são eventos normais da nossa época.
Esses fatos também enfraquecem a idéia de que esses sinais das dores aumentarão em intensidade. Veja que o Tsunami de 2004 não foi o “maior” de todos os tempos. O maior ocorreu em 1958, com ondas de 600 metros de altura no Alaska, embora tenha matado só duas pessoas. O terremoto que causou esse tsunami na Indonésia também não foi o maior; o maior foi no Chile em 1960, com 9.5 na escala Richter.
Mas alguns podem dizer: “O de 2004 foi o que matou mais gente”. Esse também não é um critério válido, já que Jesus não indicou “mortalidade” em si como um fator preponderante. Se número de mortos fosse um fator, o terremoto de 1556 na China que matou 820.000 pessoas seria o primeiro candidato como sinal eminente do fim do mundo.[2]
Além disso, se intensidade fosse um fator, as “pestilências” que Jesus incluiu no “princípio das dores” teriam também que aumentar, mas não é o que ocorre. Na verdade, o contrário ocorre, já que o advento da vacina e os avanços da medicina erradicaram por completo muitas doenças. Pode-se dizer que o ápice das “pestilências” foi o período da idade Média em que as doenças se alastravam rapidamente e a longevidade do ser humano era baixa. A peste Bubônica por exemplo dizimou de 30-60% da população da Europa no século 14, cerca de 75 milhões de pessoas. Se mortalidade fosse um fator importante nos sinais, deveríamos esperar que miasmas modernos fossem piores do que esse.
Quanto aos sinais DO FIM propriamente ditos, Jesus coloca os sinais cósmicos como sinais simultâneos à sua vinda: “Logo depois da tribulação daqueles dias, escurecerá o sol, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão vir o Filho do homem sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.”
Esses são os sinais definitivos de que o fim chegou e de que “ele está às portas” (v. 33). É interessante notar que o texto original grego expressa a idéia de sucessão imediata e sequencial entre os sinais cósmicos e a vinda de Cristo.[3] Ou seja, quando virmos esses sinais no céu, sabemos que Jesus está voltando sem sombra de dúvidas.
Além disso, veja também que Jesus disse que “esta geração não passará” até que tudo tenha se cumprido (Mateus 24:30). Creio que a melhor maneira de ler isso seria considerar “essa geração” como a geração que presenciará todos os sinais, e não a geração dos tempos de Jesus que obviamente não viram a vinda de Cristo. Também podemos interpretar que ao dizer “essa geração” Jesus está se referindo a um tipo de geração, incrédula, e não somente à geração dos seus dias.
Por fim, lembremo-nos que, embora Jesus tenha descrito os sinais das dores e do fim, ele também disse que Sua vinda será como “o ladrão” que vem sem avisar (Mateus 24:43). Podemos esperar que até esse dia, as catástrofes naturais continuarão a ocorrer, com maior ou menor intensidade. O mais importante é “VIGIAR”. Quem vigia, está constantemente alerta, e não só quando é pego de surpresa.
Vai aqui então um alerta para que evitemos o sensacionalismo das catástrofes, aquele alarmismo vazio que cria o fogo fátuo dos reavivamentos superficiais. Todos nós passamos por isso, me lembro que quando as torres caíram em Nova Iorque em 2001, um amigo prometeu comprar todos os livros de Ellen White como sinal de “consagração”. Esse tipo de reforma no grito não funciona.
Por isso creio que Jesus ficaria muito mais feliz se o termômetro da nossa fé não subisse só quando os cataclísmas abalam o mundo. Que não precisemos disso para fortalecer nossa fé; venha o que vier, com catástrofes ou não, mantenhamos nossa fé e confiança firmes.
“Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça.” (2 Pedro 3:13).

Agradecemos ao pastor André por nos ter gentilmente cedido seu texto. Os que buscam a Deus não pelo medo continuarão a buscá-LO haja o que houver.
Um abraço!

_____ 
[1] Jon Paulien, What the Bible Says About the End Time (Review and Herald, 1998).
[2] International Association of Engineering Geology International Congress. Proceedings. [1990] (1990). ISBN 90-6191-664-X.
[3] Embora a interpretação adventista tradicional entenda o dia escuro de 1780 e a queda das Leônidas em 1833 como cumprimentos parciais dessa profecia, cabe ressaltar que o objetivo primordial desses sinais, segundo a leitura mais natural do texto original grego, era sinalizar o momento exato da vinda de Jesus e não fazem parte do “princípio das dores.” Entre os teólogos adventistas que esposam essa interpretação estão Dr. George Knight, Dr. Hans LaRondelle, Dr. Graeme Bradford, Dr. Jon Paulien entre outros.

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Uma resposta para Evitando o Sensacionalismo das Catástrofes

  1. Achei o texto muito intrigante… me fez refletir muito. Muito mesmo.

    O interessante é que ele aborda como possíveis agentes desse “sensacionalismo” os cristãos. Especialmente os cristãos adventistas.

    Eu testemunhei muitos cristãos, inclusive adventistas, apontando essa tragédia como sendo "um agir de Deus".

    Sinceramente, não creio nisto.

    “Vai aqui então um alerta para que evitemos o sensacionalismo das catástrofes, aquele alarmismo vazio que cria o fogo fátuo dos reavivamentos superficiais. Todos nós passamos por isso, me lembro que quando as torres caíram em Nova Iorque em 2001, um amigo prometeu comprar todos os livros de Ellen White como sinal de “consagração”. Esse tipo de reforma no grito não funciona.”

    “prometeu comprar todos os livros de Ellen White como sinal de “consagração”. Que pensamento equivocado sobre a vontade de Deus!

    Desculpem, mas isto é no mínimo ridículo! Não por Ellen White, particularmente gosto de seus livros, mas pelo caminho que esta pessoa pensa obter a “consagração”. No entanto, compreendo que talvez ele não tivesse imputando a Ellen White a sua consagração, isto é possível. Penso no caminho…

    É aquela verdade dita por Stephen Covey: "Se a escada não estiver apoiada na parede correta, cada degrau que subimos é um passo a mais para um lugar equivocado."

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